sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Encontro Filosófico

Encontro Filosófico
Memória, Desejo e compreensão
Dificuldades na construção e manutenção dos vínculos
Uma oportunidade de reflexão sobre os fatores que dificultam o estabelecimento, assim como a sustentação dos vínculos afetivos. As defesas usadas nas experiências emocionais presentes na prática clínica da psicanálise, mas que frequentemente revelam-se nas relações cotidianas.

Dias 26 de outubro às 14:00  no Anfiteatro do Hospital Ielar
Rua Luiz Antonio da Silveira, n° 1728, Boa Vista
Investimento 10,00 – Em Prol do Hospital Ielar
Inscrições pelo Fone – 40091200
Certificação de horas
Coordenação
Prof. Renato Dias Martino

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A capacidade de amar determina o bom funcionamento da mente

Matéria de Francine Moreno para o Jornal Diário da Região - São José do Rio Preto, 19 de Setembro, 2013

Você liga o rádio e está tocando uma canção romântica. Vai à livraria e se perde diante de tantos títulos com temática amorosa. Acessa as redes sociais e lê diversas declarações de amor. Nos cinemas, semanalmente, estreiam filmes com histórias açucaradas. O “bombardeio” reforçando a importância do amor vem de todos os lados. 

Renato Dias Martino, psicoterapeuta e escritor, de Rio Preto, acredita que o amor não pode ser um tema discutido e vivido apenas por romancistas, poetas e filósofos. Tanto que lança amanhã um livro sobre o tema e outras questões. “O amor e a expansão do pensar: Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva”, editado pela Vitrine Literária, será apresentado nesta sexta-feira, às 19h30, no saguão da Biblioteca Municipal. 

Autor também de “Para Além da Clínica” e “Primeiros Passos Rumo à Psicanálise”, lançados respectivamente em 2011 e 2012, Martino afirma com base no seu novo livro que o amor é visto como sendo da ordem das capacidades e não como um sentimento. “A proposta do livro na realidade é de um ponto de partida para uma reflexão e não uma tentativa de definição de uma experiência tão nobre.” 
Para Martino, a capacidade de amar é fundamental para várias questões, especialmente para o bom desempenho da aparelho psíquico. 

“O Eros (o Cupido, em Roma) é aquele que liga e foi esse mito grego que Freud se utilizou para ilustrar o amor na psicanálise. A vida se faz através das ligações que resultarão na expansão. Sem Eros não há ligação, logo não há expansão afetiva.” O psicoterapeuta e escritor diz que a capacidade de amar é desenvolvida na infância. 

“Não nascemos sabendo amar. Só aprendemos amar se formos bem orientados nessa tarefa. Na infância é quando estamos mais abertos a aprender tudo, inclusive amar. Depois de adulto, temos maior dificuldade em aprender”, diz. Martino afirma que o amor mostra-se importante e imprescindível também na expansão do exercício do pensar. “A capacidade de unir-se ao outro é uma necessidade biológica, pois satisfaz algo de instintual e altamente vinculado ao funcionamento biológico, assim como é dessa união que depende a proliferação da espécie. Existe uma extensão para além do corpo físico, e é disso que trata o livro.” 


Arte: Lezio Junior
Livro lança olhar psicanalítico 

O livro “O amor e a expansão do pensar: Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva”, segundo Renato Dias Martino, é uma extensão da realização psicanalítica que ele trabalha e possibilita uma série de recursos. “Isso busca de alguma forma se transformar em linguagem, escrita, falada e vivida. Para que minha verdade seja real, ela deve passar pelo olhar do outro e o livro busca essa confirmação.” 

A obra, de acordo com Martino, é uma continuação dos dois primeiros livros. “Para Além da Clínica”, pela Inteligência Editora 3, aborda, de forma acessível, questões relativas à psicoterapia, dos últimos avanços a temas como espiritualidade. Já “Primeiros Passos Rumo à Psicanálise” foi inspirado no conteúdo desenvolvido por ele em sala de aula e percorre um caminho introdutório, com breve biografia de Sigmund Freud, e também aspectos relacionados aos primórdios da criação de sua teoria. 

“O amor e a expansão do pensar” tem 90 páginas e prefácio assinado por Paulo Rezende, jornalista, escritor e editor do novo livro. A capa, vermelha, tem relação com o tema abordado. “Acredito ser um reflexo do conteúdo”, afirma. 

Serviço 

O amor e a expansão do pensar: das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva (Vitrine Literária, 90 págs., R$ 30). Lançamento amanhã, às 19h30, na Biblioteca Municipal. Informações pelo (17) 3202-2316

http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Divirtase/Comportamento/152950,,A+capacidade+de+amar+determina+o+bom+funcionamento+da+mente.aspx 


Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DO DESMAME NOSSO DE CADA DIA

A experiência da frustração, por não poder “ter” o seio é um dos pontos altos no processo que conduz o ser humano à dura tarefa de se libertar da exclusiva relação com o amor materno (ou daquele que ocupa o lugar de cuidador). Essa experiência dolorosa de desligamento, quando vivida de uma forma serena, pode servir como modelo útil pela vida toda. E também é o que definirá grande parte dos padrões de funcionamento mental que se pode adotar durante a vida, isso enquanto forma de relacionar-se com as pessoas e as coisas do mundo, sobretudo aquelas que nos são ligadas mais profundamente.


“Quando vem a época do desmame, a mãe se entristece refletindo que ela e o filho terão de se separar; que o infante, no princípio sob o seu coração e depois embalado ao seio, nunca mais estará tão próximo dela. E juntos sofrerão esta curta pena. Venturoso aquele que manteve o filho tão próximo de seu coração e não teve outro motivo de desventura!” Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), Temor e Tremor, 1843

Kierkegaard , filósofo dinamarquês, sob o pseudônimo de Johannes de Silento, descreve brilhantemente em sua obra, publicada em 1843, sobre essa dolorosa experiência que aqui proponho cogitação. Tentemos ser, também aqui, serenos nas tentativas de refletir. Podemos pensar em um curso natural onde a saúde mental e o desenvolvimento emocional são presentes, cada experiência dolorosa vivida desde o início da vida do bebê, nessa série de encontros com a frustração, o forçará a busca de experiências no mundo externo. Experiências num lugar que fica além do eu, numa esfera de relacionamento mais ampla do que aquela, antes vivida.
Agora o bebê, movido por Eros, é impulsionado em direção a relações com o mundo que existe além da relação íntima mãe-bebê, onde o eu e o outro têm limites tão tênues que já não servem de referências seguras no tocante à discriminação da realidade. Tarefa difícil, já que falamos de uma separação daqueles, que um dia, estiveram fisicamente “grudados”.
Para o bebê, a perspectiva parte de quem realmente viveu “dentro” do outro e dali foi tirado. Ele dependeu do outro para respirar, se alimentar, na verdade dependeu “dela” para existir. E, ainda, se não foi “dela” (mãe) que dependeu, foi de alguém que ocupou esse lugar, falamos aqui muito mais da função, do que de quem a ocupa. Para a mãe é separar-se daquele que é, efetivamente, algo que saiu de seu interior, e agora se afasta buscando o mundo externo.
Em alguns momentos, tratar desse tema parece “chover no molhado” como diz o ditado popular, ou seja, falarmos dos óbvios da vida. Não obstante, isso talvez ganhe um sentido, se percebermos o quanto a civilização anda nos forçando a desvalorizar nossas experiências emocionais, quem sabe, a troco de uma vida mais prática e mecânica e supostamente sem sustos. Esquecemos a dolorosa e penosa tarefa que enfrentamos no caminho que percorremos rumo à maturidade emocional.
A elaboração de recursos para se desligar de modelos de vínculo onde o que rege a relação é a fantasia da exclusividade. Isso, de uma forma afetiva ou mais livre possível de ressentimentos. Da saúde mental depende a capacidade para esse tipo de experiência e, concomitantemente, é desse tipo de ensaio que se mantém a mente saudável. Certo tipo de relação, tão profundamente ligada como a que descrevo, é sempre tendente a confusões. Confusão entre aquilo que “é” o outro e aquilo que se “imagina ser” o outro. Conflitos não elaborados, que se originam dessa relação buscarão, naturalmente, uma nova chance de serem novamente vividos e, assim, abrindo uma nova oportunidade de apreensão e vinculação com real. Mas conflitos dessa ordem são especialmente delicados quando se foi arremessado de encontro à própria realidade, sem que se pudesse viver um desligamento “suave’ da relação primária. Cria-se um ambiente de desordem emocional inundado de ódio pela experiência do contato com o real, dificultando ou interrompendo o encontro afetivo com aquilo que vem de fora, ou seja, com aquilo que é do não / eu. A situação passa a ser de fundamental importância já que esse encontro é o que permite o desenvolvimento da função do pensamento. É o que nutre de recursos o aparelho mental e aprimora o funcionamento mental. É com o encontro com o não / eu que se tem a chance de “realizar o pensamento”, aquilo que vem depois da imaginação.
Sem esse encontro, a ideia ainda existe, contudo, simplesmente no imaginário, na fantasia e não conta com o outro para que se mantenha real. Isso, nos mundos, externo e interno. Algo caótico que procura se organizar e, com certeza, conta com o outro para isso. Certa dependência afetiva que, novamente se pronunciam para o mundo, com a ajuda de Eros.

O desmame é algo penoso não só para o bebê, mas, sem dúvidas para a mãe (na realidade bem mais difícil para ela). Porém, a única forma de criar espaço para si é libertando-se do (o) outro. Aos poucos a mãe perceberá que não se pode trabalhar enquanto se tem alguém no colo, e esse modelo que proponho aqui pretende transcender o nível concreto ou perceptível pelos sentidos, onde cada quilo que o bebê ganha é também um sinal de que se inicia o tempo de andar com suas próprias pernas.
Quero propor que a capacidade de pensar é algo que se encontra numa esfera que guarda certa individualidade e que, quando alguém pensa pelo outro normalmente o faz em detrimento de si mesmo. Certo tipo de fantasia de onipotência que possa ter uma mãe referente a possuir um seio inesgotável, pode estar sacrificando uma parte importante de sua saúde e também impedindo que o outro (filho, marido) descubra sua função e desenvolva suas capacidades para exercê-la, sobretudo a capacidade de pensar em si mesmo, ou pensar por si mesmo. Capacidades que só podem surgir através do desmame. Aquela que nunca se sentiu realmente desejada como mulher, pode encontrar na maternidade uma chance disso e talvez se perder aí. Quando olhar para os olhos do bebê durante a mamada perceberá a experiência magnífica de receber alguém que realmente a deseja e necessita dela para viver. É como um ópio propondo o vício de ser mãe.
Assim, em alguns casos ocorre o risco de odiar e lutar contra tudo que aparecer e perceber no filho, que possa capacitá-lo para algo mais do que ser simplesmente filho. Ocorrendo até mesmo na articulação de sabotagens quanto ao processo de desmame. Movida por inseguranças, ela cria um movimento em prol de impedir que o outro aprenda a viver independente dela.
Atacando qualquer outro tipo de vínculo que não o de ser mãe, sob a imaginação (construída antes da maternidade) de que, de outra forma, nunca será reconhecida em seu valor. Ela, a mãe, faz de tudo para o outro e, se nutre da dependência desenvolvendo uma sensação de poder. 
Crescer sem um bom desenvolvimento desses vínculos, cria no outro, que se aproveita dessa situação prazerosa, uma impressão de um ser impotente e dependente em suas realizações. Entretanto, a obstrução do amadurecimento emocional e afetivo, é um processo doloroso, e pode, muitas vezes, ser recoberto pela tarefa de ser mãe. Pode se desenvolver uma forma perversa de vínculo com si próprio e, logo, com o outro.

“Quando vem a época do desmame, a mãe enegrece o seio, pois manter o seu atrativo será maléfico ao filho que o deve deixar. Desse modo ele crê que a mãe mudou, ainda que o coração dela continue firme e o olhar seja da mesma ternura e do mesmo amor. Venturoso aquele que não precise recorrer a meios ainda mais terríveis para o desmame de seu filho!” Kierkegaard, Temor e Tremor, 1843, pp.27, 32

A questão toma proporções importantes quando se percebe que escolhas afetivas de um adulto estarão o tempo todo permeadas destes impulsos conflituosos enraizados na origem da vida. Na realidade, não existe escolha, estamos sempre, dentro da proporção de cotas subordinados a isso. O que nos faz escolher alguém para nos ligar está intimamente associado com fatos arcaicos na gênese do desenvolvimento emocional, e que hoje, nos aparece como paixão. Aquele modelo de relação do qual não se sabe muito bem por que se sente tão fascinado pelo outro. No entanto e, mesmo assim, sente-se extremamente atraído. São impulsos infantis que, hoje, mascarados pela moral e normas sociais, tentam ganhar lugar na personalidade de cada um de nós.
Lembro-me de um paciente em análise, frustrado por uma separação e tentando me dizer, muito bravo, sobre esses tipos de escolhas inconscientes, xinga seu cupido de cego.
A fase da amamentação, talvez seja o símbolo maior, do período onde se esteve totalmente dependente do outro. Se for isso um fato, a fase que se sucede e tem o desmame como divisor de águas sugere o medo, a insegurança e a incerteza que caminham lado a lado com a independência.
Enquanto adultos, tendemos a pensar que isso tudo, é algo muito simples e que a própria natureza da criança irá se encarregar de mostrar o melhor caminho. Entretanto, a dificuldade que se encontra no adulto em reconhecer a real dor presente nos entraves afetivos da criança está diretamente ligada à incapacidade de ter aprendido em sua vida, com a própria experiência infantil. Cada experiência malsucedida na vida emocional infantil está velada na história do adulto como um código de silencioso esquecimento. Isso, tanto dele para com ele mesmo, quanto daquele que esteve (está) com ele no momento da experiência.
O desmame, assim como cada percepção da realidade de que a mãe não é “sua”, ou que seu amor não é exclusivo, é uma encruzilhada no caminho deste pequenino ser que chegou há pouco tempo, nesse mundo. Ele irá experimenta sentimentos como raiva, inveja, ciúmes, que são gerados a partir da experiência da perda, daquilo que se vai. Uma sequência de perdas consecutivas que irão gradualmente forçando o eu a se responsabilizar-se de suas próprias "escolhas".
Podemos, então, a partir deste modelo, perceber que, na verdade, passamos nossa vida toda tentando (ou evitando) nos desmamar de substitutos do seio original.

Capítulo do livro: MARTINO, Renato Dias. Para Além da Clínica - 1. ed. São José do RioPreto, São Paulo: Editora Inteligência 3, 2011.





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Psicoterapeuta e Escritor
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sábado, 14 de setembro de 2013

Prof Renato Dias Martino -- 'Eu sou' é uma posse



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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Você no controle da vida dos outros

Daniela Fenti para o Diário da Região - São José do Rio Preto, 11 de Setembro, 2013


Certo dia, você volta para casa em um horário diferente e o vizinho logo espia pela janela para saber porque chegou tão tarde. Você vai trabalhar com uma blusa nova e um colega cochicha com o outro sobre suas “extravagâncias” financeiras. Você se permite comer um doce e a prima que malha todo dia olha torto para suas gordurinhas abdominais. 

Quem nunca passou por alguma situação parecida com essas que atire a primeira pedra. Se a própria presidente da República, Dilma Rousseff, tem traçado estratégias nacionais para combater o monitoramento de espiões norte-americanos... Mas, afinal, por que a vida dos outros provoca tanta curiosidade? Segundo Renato Dias Martino, psicoterapeuta, escritor e professor de Rio Preto, esse tipo de comportamento é definido pela psicanálise como um mecanismo de defesa chamado “projeção”. 

Ele explica que pensamentos, desejos, sentimentos e emoções inaceitáveis ou indesejados são atribuídos a outras pessoas, fazendo com que a mente não os reconheça.“Existe uma frase do Freud que diz o seguinte: ‘Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo’. Isso significa que quando olhamos muito para alguém, algo não vai bem conosco”, explica. 

Para Martino, quanto mais as experiências desagradáveis são elaboradas internamente, mais maduros os indivíduos se tornam e menor o risco de projetarem esse tipo de experiência no próximo. Embora a preocupação com a vida do outro não seja um fenômeno social recente, o assunto se tornou um dos “queridinhos” das redes sociais, como o Facebook e o Instagram - onde, naturalmente, existe uma superexposição pessoal. 

A tecnologia oferece ferramentas para que as informações circulem cada vez mais rapidamente e em lugares mais distantes. Mas a culpa não é dela. É comum que os perfis sejam vasculhados de um lado e algumas indiretas sejam publicadas do outro, a fim de reprimir as atitudes dos amigos virtuais muito xeretas. Martino explica, no entanto, que as indiretas só servem para que se criem ainda mais mecanismos de defesa. 

Outro erro comum é achar que “dizer umas verdades” de qualquer maneira vai resolver o conflito. Dependendo das palavras e da entonação escolhidas, é possível piorar - ainda mais - o relacionamento.“Kant dizia que a verdade sem amor é crueldade. Quando alguém projeta em nós suas incapacidades, devemos devolvê-las de forma carinhosa”, ensina Martino. 


Ainda vale citar que, mesmo que alguém esteja rodeado de pessoas que costumam observar e julgar seus passos, só haverá prejuízos se esse alguém permitir. “Precisamos estabelecer limites, senão um completo estranho pode começar a ditar regras em sua casa. Tem gente que se faz de boazinha por medo de ser rejeitada e permite tudo”, orienta Fonseca.’

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