terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conhece-te a ti mesmo

Conhece-te a ti mesmo

O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo e em permanente construção, abastecido de crises existenciais, mas evitá-las pode colocar em xeque uma mente saudável.

Por Renato Dias Martino

clique aqui e leia: Portal Ciência & Vida - Filosofia, História, Psicologia e Sociologia - Editora Escala.

Prof. Renato Dias Martino
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

Sordidos prazeres

Sordidos prazeres

No dia-a-dia, estamos cercados por acontecimentos cruéis, que por si só já causam sofrimento. Mas fazemos questão de revivê-los, seja nos noticários, no cinema, nas músicas e até no turismo. Afi nal, de onde vem a satisfação humana em observar cenas e situações macabras?





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Prof. Renato Dias Martino
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Das consequências da ausência dos pais



Tenho conversado muito lá na Unilago com o psicoterapeuta Renato Dias Martino, especialmente por que ambos nos interessamos por este tema fundamental que é a família e seus atuais desdobramentos.
Tenho ficado impressionado com o que ele vem me dizendo sobre o tema e as conseqüências, especialmente, para as crianças, de coisas que a sociedade já tem como normal e corriqueiro.
Em primeiro lugar: as conseqüências das separações dos casais na vida emocional da criança, quanto menor for a idade pior é. Segundo o Renato Martino a separação sempre causará transtornos emocionais no infante, isto é, na criança. A própria homossexualidade, na maior parte dos casos, segundo o Renato resulta de problemas familiares. Neste caso, a ausência do pai é o disparador para o desenvolvimento de uma sexualidade homo. Não vou entrar em detalhes aqui por que é impossível pelo espaço, mas apenas chamar a atenção para questões que sempre converso neste espaço e são muito importantes.
O Renato me lembrava ainda que 90% dos casos de adultos que ele atende em seu consultório são de pessoas procurando a mãe. O que é esse procurar a mãe? Solidão, carência emocional, falta de alto estima, falta de alto confiança, sentimentos e características que o individuo desenvolve no contato íntimo com a mãe. Lhe falei dos meus textos sobre a terceirização dos filhos para as creches, ele me falou que sem dúvida o envio da criança para as creches, ainda mais quando muito cedo, terá conseqüências devastadoras na vida emocional deste individuo já na adolescência. E os adultos que ale atende já evidenciam isso.
O Renato me dizia ainda que independente de como as pessoas discutam família, o fato concreto é que família é fundamental na vida do individuo. Disso todos sabem, mas agora parece que nem a ciência discorda. Esta idéia de uma pessoa que se forma sozinha, se prepara e amadurece por si mesma, bem americana alias, é uma falácia. Crianças sem família, serão adultos problemáticos e emocionalmente doentes.
Pai e mãe presentes, presentes mesmo, é fundamental na formação emocional da criança. Se crianças e adolescentes, a super Nanny está ai para mostrar, nos parecem esquisitas e um tanto diferentes daquilo que nos parece o certo, não é à toa.
O discurso propalado pela publicidade e propaganda de viver a vida, pensar em si, ser feliz e bonito está tendo conseqüências trágicas para a sociedade. Adultos problemáticos, dependentes de sua cota diária de cerveja, tomadores de tranquilizantes, calmantes, estimulantes, academia, agora as cirurgias plásticas, consumistas contumazes, uma sensação de descontentamento que não passa, um tédio sem fim; tudo isso é fruto das relações familiares problemáticas na infância. A ausência de pai e mãe, segundo me pareceu em minhas conversas com o Prof. Renato Dias Martino, é um dos elementos centrais.
Nestes sentido a ideia de algumas mulheres de produção independente, ou mesmo a multi mulher, a mulher que substitui o pai, ou pai que nunca aparece, o pai ausente, o pai imaturo e que não assume suas responsabilidades e o fato de que deve ser uma referencia clara para os filhos de conduta e comportamento, tudo isso resultará num quadro psicológico na criança e em sua futura vida de adulto, extremamente problemático.
Quem quiser entrar em contato com o Renato Martino para análise pode falar com ele no telefone 30113866 aqui em Rio Preto ou digita o nome dele no Google.


Luciano Alvarenga

Postado por Luciano Alvarenga no seu blog Cama de Prego
http://lucianoalvarenga.blogspot.com 

sábado, 27 de novembro de 2010

Homens: aprendam a finalizar relação

Homens: aprendam a finalizar relação
Diário da Região, São José do Rio Preto, 6 de julho de 2008
Orlandeli/Editoria de Arte

Renata Fernandes


“A fila andou. Eu te falei. Não deu valor. Como eu te amei. Agora chora. Já me perdeu, boa sorte. Vá embora. A fila andou...” A composição de Alexandre Peixe, cantada pela banda Chiclete com Banana, evidencia o jargão bastante usado pela juventude hoje. Mas, infelizmente, muitos homens não conseguem colocar o ponto final para que a fila avance. Simplesmente, decidem que não querem mais e, às vezes, sequer avisam diretamente a parceira. O fato é que a maioria dos homens tem dificuldade em colocar um ponto final na relação, seja ela de um dia, duas semanas, três meses ou vários anos. Segundo a psicoterapeuta comportamental neurolingüista Marcelle Vecchi, identificadora de perfis comportamentais certificada pela ONU, geralmente homens só finalizam a relação quando já têm alguém em mente para substituir, trocar. Ela afirma que eles agem assim pelo medo de se arrepender e não ter como voltar atrás com a pessoa que terminou. “Isso, normalmente, é motivado pelo orgulho, mas é claro que há exceções.”

O psicoterapeuta prof. Renato Dias Martino analisa que, em primeiro momento, aqueles que não aprenderam a dizer não, além de terem igual dificuldade em ouvir o mesmo não, deixam de pontuar a relação por resistência à mudança. “Em geral, o ‘não’, o ‘corte’, a ‘conclusão’ sempre trazem a promessa do novo. A efetivação da mudança.” Por isso, Marcelle diz que muitos enrolam a situação e empurram a relação com a ‘barriga’, pois esperam que a parceira tome a decisão de terminar. Há homens, inclusive, que provocam situações para elas tomarem a atitude de finalizar a relação, como: nunca estarem dispostos a sair, não atender aos telefonemas, ser brutos em situações que antes mostravam gentileza, procurar brigas por motivos irrelevantes e até mesmo marcar um encontro com alguém para ser visto pela parceira. Sob esse ponto de vista, prof. Martino explica que quando a relação alcança esse patamar já morreu e existe dificuldade na tarefa de se enterrar o que faleceu. De tal modo, o ‘morto’ inicia um processo de decomposição e traz todo o transtorno que isso pode ocasionar.

Martino coloca que a melhor maneira de concluir algo é sempre da mesma forma que se iniciou. ‘Isso com qualquer coisa, não só em uma relação amorosa. No entanto, o que deveria ser está bem distante do que realmente é.” De acordo com ele, sempre que se fala de relacionamentos é prudente lembrar que esses devem ter responsabilidades divididas, já que se vive em dois. A única relação em que um tem mais responsabilidade que o outro é entre mãe e bebê. Assim, principalmente nas relações amorosas, uma parte não deve ter mais ou menos que a outra.

Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com


sábado, 20 de novembro de 2010

Dicas de filme


Freud, Além da Alma (Freud, the Secret Passion)
DIREÇÃO:John Huston
GÊNERO:Drama
ORIGEM:EUA
DURAÇÃO:139 minutos
ANO:1962
Baseado no roteiro escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre, com uma linguagem metafórica e onírica, o filme pretende mostrar a teoria freudiana do inconsciente. Através do conflito interior que viveu Freud enquanto tentava penetrar o obscuro “inconsciente” de seus pacientes, pois temia encontrar o inefável, o impensável (na verdade, Freud temia encontrar a sua própria essência…). Freud Além da alma é um filme acadêmico, inteligente e instigante, que nos permite uma melhor compreensão das teorias freudianas sobre o funcionamento da mente e como o pensamento psicanalítico irrompeu na sociedade vienense e depois no mundo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Criança na internet e o conteúdo impróprio

Gostaria de convidar para pensarmos a questão da criança que tem acesso na internet a conteúdos impróprios ou proibidos. Percebo que o assunto vem sendo extremamente discutido entre profissionais da área da saúde mental e também entre educadores. Tentativas diagnósticas são levantadas por profissionais psicólogos e pedagogos de várias abordagens teóricas para suprir a crescente demanda de respostas e soluções para esse problema que cresce assim como cresce o acesso ao mundo on-line. Nesse mesmo ritmo cresce a pressa por obter soluções breves, práticas e certeiras para esse problema que emerge na sociedade como bolhas de gás num copo de coca cola, nos fast-food da vida. Sabe, aquele lugar onde se entra com o carro, se pega o lanche e sai dirigindo e comendo ao mesmo tempo?
Sim, não é novidade que vivemos na era “fast” e não só para os “foods”, mas para tudo que se imagina, então por que não para “fast-psic”?
Bem, o que vemos então, são profissionais propondo que, a essas crianças que um dia foram abandonadas na frente de um computador, pois os pais tinham “mais o que fazer”, tenham agora, regras duras para defende-los do perigo os rondando na rede.
Entretanto, não é necessário ser um profissional da psicologia para perceber que regras duras só existem para serem quebradas e transpostas. Quanto mais duramente são impostas, tanto maior é o desejo de transpô-las. Agora, pensemos essa experiência na criança, vivendo em sua idade, uma fase da existência psíquica onde se apoiam muito mais nas ilusões e imaginações que cria, do que na realidade dos fatos que compartilha com os adultos.
Se concordarmos até aqui, me parece então, que seria desnecessário mair argumentação, para perceber que medidas apressadas e com resultados eficazes e breves, estão distantes, nesse caso. Mas, me parece muito interessante nos atermos um pouco mais em certa questão que julgo de central importância.
Para uma criança, ser desejada é algo que está à cima de qualquer que seja o anseio. E isso é sinal de saúde mental, pois uma criança que elegeu qualquer que seja o outro objeto de interesse que não seja o da companhia do outro, certamente precisa de cuidado.
De inicio e na fase mais importante do desenvolvimento da vida emocional da criança, o desejo e o amor dos pais ( ou daquele que ocupou esse lugar) deve suprir toda necessidade que demanda dela. A partir de uma base suficientemente boa, a criança então, inicia a expansão à procura de novas experiências externas, mas com a realidade de que foi amada no seio de seu lar.


Entretanto, essa criança tentará ser desejada por seus pais ou aquele que ocupa esse papel, de todas as maneiras possíveis. Só se esgotará o esforço nessa direção quando realmente não puder mais fugir da realidade de que não terá mesmo isso. A partir daí buscará ser desejada de outras formas e em outros lugares, carregando uma enorme magoa pela experiência frustrada.


Falamos aqui de uma criança reprimida em seu desejo central, quando não conseguiu afeto necessário em lugar seguro, busca então, algo externo pra satisfazer seus desejos. Isso se nos apoiarmos aqui no pensamento psicanalítico que parte de Sigmund Freud (1856 – 1930) e se expande a cada dia mais.
Pensemos então, isso acontecendo numa época onde não existe muita capacidade de escolha. Torna-se um alvo fácil para os convites on-line.
Quem procura algo proibido só pode estar fugindo de outro algo. Mas, será que alguém fugiria se o lar fosse um ambiente onde se cultivasse a verdade com muito amor? Chegamos então no cerne da questão.
O conteúdo impróprio ou proibido é um convite que vem com a proposta tentadora e vingativa de libertar dos desejos frustrados do amor e da verdade dos pais.
As regras que nascem de um ambiente rico em afeto e verdade são regras internas, muito mais próxima da ética do que daquilo que chamamos moral e que na realidade só se sustenta sob os olhos da autoridade. Regras morais se dissolvem rapidamente enquanto a autoridade se distrai. Aquele que aprendeu ser respeitado dentro do lar, certamente não se envolverá em qualquer que seja a relação que não ofereça respeito.

Prof. Renato Dias Martino
é psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 

prof.renatodiasmartino@igmail.com
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domingo, 14 de novembro de 2010

Dicas de filmes

Édipo Rei
(Edipo re, 1967)



• Direção: Pier Paolo Pasolini
• Gênero:
Drama
• Origem: Itália/Marrocos
• Duração: 104 minutos
• Tipo:
Longa-metragem

Antes da Segunda Guerra, na Itália, um casal de jovens tem um menino e, tentando fugir, a criança é tomada dos pais no deserto para ser assassinado. Mas a criança acaba nos braços do Rei e da Rainha de Corinth, que lhe dá o nome de Édipo (Franco Citti). O que Édipo não espera é que seu destino está traçado para uma terrível tragédia envolvendo sua família.



sábado, 6 de novembro de 2010

Violência e sociedade

Violência e sociedade
Renato Dias Martino


Quantas vezes não perguntamos a nós mesmos, se não em voz alta (talvez indiretamente procurando uma resposta do outro): “De onde vem essa onda de violência, corrupção, destruição da natureza?”

A perplexidade é certa ao se assistir cenas cruéis na TV. Somos espectadores (ou melhor, participarmos efetivamente) de um filme violento, onde não parece existir qualquer intenção na direção de uma diminuição da bestialidade, mas sim, em obter o monopólio desta forma perversa de vínculo com o outro. 
Thomas Hobbes (1588 — 1679)

É muito clara a realidade de que somos muito pouco capazes de nos responsabilizar pela violência que nasce em nós. Dificilmente nos propomos a dirigir atenção para o violento que habita o eu. Nos percebemos numa combinação muito próxima  da descrição deThomas Hobbes (1588 — 1679) no seu Leviatã  de 1651, onde propõe que o humano pode ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, mas isso não o livrará do medo de que o outro lhe possa fazer mal. Para Hobbes, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). 
No bíblico Sermão da Montanha, que pode ser lido no Evangelho de Mateus, mais precisamente do capítulo 4, versículo 23, ao capítulo 7, lê-se: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.”
Assim, a religião propõe um ideal de conduta que pouco leva em conta a capacidade do sujeito em cumpri-la. Isso, sem dúvida contribui, de forma importante para incapacidade de perceber o ódio no eu e estimula a percepção em notar o ódio no outro. O ódio é um eficaz agregador de massa. Quando odiamos funcionamos por identificação. Quando se tem algum outro para se odiar nos tornamos irmãos. 

Enquanto é muito difícil experimentar a situação de amarmos em comum, o ódio é quase que espontâneo. Isso pelo fato de que amar requer abnegação, enquanto odiar é prazeroso. Num mundo onde a insatisfação é algo muito pouco experimentado, a derrota do outro é sempre mais prazerosa que a minha vitória. Nos apressamos em retribuir um soco e refletimos antes de retribuir um carinho. A gratidão exige manutenção enquanto a vingança é geradora de prazer.

Cria-se um jogo de pressão e repressão que só faz aquecer o caldeirão. O crime, a falta de sinceridade, a violência atuada, seja perversamente escancarada, entre pessoas sem relações formais, ou mesmo, silenciosa, traiçoeira, acontecendo sem que percebamos, dentro dos lares.


De qualquer forma, está espalhada por todas as camadas sociais e econômicas. Da favela até o Palácio do Planalto. Apesar disso, mesmo sendo uma forma de tal abrangência, a violência ativa, assim como seu correspondente negativo, a submissão...




“... de homens e mulheres a quaisquer relações sociais de dominação e exploração não é de modo algum espontânea. Depende, em maiores ou menores doses, da coerção direta, da necessidade material ou da interiorização de tais idéias como necessárias, justas ou inevitáveis, e normalmente de alguma combinação dos três fatores.” Enguita, 1993. p. 208



Nas palavras de Mariano Enguita escritor espanhol, catedrático de Sociologia na Universidade de Salamanca, tentando cogitar sobre formas de aprendizagem das relações sociais e de que maneira a violência está ai implicada. Poderíamos entender a violência como certa forma primitiva, de relação interpessoal. Um padrão grosseiro de vincular-se às pessoas e coisas que como característica peculiar carrega a tendência a se repetir até que encontre no mundo, alguma oportunidade de conhecer formas mais aprimoradas de vinculação. Disso talvez sejam gerados os fatores ligados à necessidade material ou da interiorização de tais idéias como necessárias (assim como propõe Enguita), já que o “ter” é também um estagio primitivo do vínculo com o mundo, que busca evoluir até a condição do “ser”, isso quem sabe.
É importante compreender que esse tipo de relação perversa sempre esteve entre nós. Isso não me parece tão difícil constatar se nos arriscarmos em uma breve pesquisa histórica da humanidade. Num passeio pela filogênese humana, perceberemos que a violência é um elemento inerente ao encontro entre seres humanos e que amiúde se confunde com a forma como nos relacionamos com nós mesmos. Talvez seja a primeira forma de se relacionar com o outro, com aquilo que faz parte do não-eu, com aquilo que é diferente, o desconhecido. O pré-conceito é um exemplo muito claro de como o ser humano funciona ante a diferença. Uma forma de se precaver frente aquilo que o deixa inseguro e temeroso. No entanto, sem o pré-conceito é impossível se criar um conceito.


Poderíamos fazer uma menção à violência presente no ato do parto, onde o bebê se vê frente a uma seqüência de tarefas, que por mais cauteloso que possa ser aquele que cuida, terá sempre uma considerável cota de violência. O bebê está diante de uma seqüência de frustrações que terá que tolerar no caminho em direção ao reconhecimento da realidade. O caminho da independência, que se inicia biologicamente na substituição do mundo aquático, confortável do útero, por um mundo aéreo, onde experimentará uma cadeia de desconfortos e perceberá gradualmente que, para continuar vivo, dependerá exclusivamente de sua mãe. Ela é quem tem a tarefa de apresentar um modelo de realidade que seja interessante enquanto substituto das fantasias e ilusões criadas pelo bebê, na pesquisa e descoberta do mundo. A incumbência de sugerir um ambiente que retrate um mundo bom o bastante para ser trocado pela fantasia de mundo do bebê, ou aquilo que ele imagina sobre o mundo. Dessa forma, se o mundo externo não parece um lugar suficientemente seguro, a ilusão ainda será mais atrativa.


A ilusão é regida por uma forma mágica de realização, onde o desejo é realizado de uma maneira ou de outra, mesmo que para isso tenha que se passar por cima da realidade (lugar onde se encontra o outro). Um sujeito que funciona predominantemente regido por suas ilusões, nisso que em psicanálise chamamos de principio do prazer (Freud 1920), inevitavelmente, adota um modelo violento de se relacionar com as coisas do mundo (interno e externo). O resultado é que em sua vida, ou adota um modelo hostil para com o mundo que o rodeia, ou se comporta agredindo-se a si mesmo, se tornando um alvo dessa violência, a submissão.
De qualquer forma, me parece que diagnosticamos claramente o estado de caos e o ódio pairando sobre o ser humano, e sua organização social. A humanidade passa por uma fase histórica, onde o modelo familiar se encontra em desuso, porém, sem outro modelo adequado que possa substituí-lo. Assim, com a ameaça de extinção do modelo da família (mãe, pai e filho) como lugar seguro para que sejam vividas ás experiências que partem da violência e conduzem á humanização, a escola (despreparada para isso) tem recebido certa demanda que nem de longe corresponde somente à função didática ou a de ensino das confirmações cientificas do saber, mas que se estende ás necessidades básicas no nível da formação da personalidade, justamente o ponto onde se dá a elaboração dos impulsos violentos.

Se até aqui pudemos estar de acordo, poderíamos tentar avançar em direção a analise das ações tomadas para tornar mínimo o efeito dessa que poderíamos chamar de “forma grotesca de linguagem”, ou justamente a “incapacidade da linguagem”. Quando nos propomos avaliar de forma mais atida os aspectos das técnicas usadas frente a esse estado de funcionamento social, o que constatamos, a cada dia parece revelar-se além de bárbaro, ineficaz. Se percebermos de uma forma mais próxima da realidade, entenderemos um movimento muito mais regido pela vingança, do que por um intuito de penalização e ressocialização. Nesse ponto a educação social não encontra espaço. Até por que, não parece haver muito interesse que sociabilizemo-nos.
Esse texto não tem o intuito de causar desconforto, mas de revelar algo desconfortável que já existe. Talvez propor a responsabilização pela criação de novos modos de trabalhar esse estado de violência que conduz o funcionamento do ser humano em sua tarefa de se relacionar com as pessoas e as coisas. Porém, é uma incumbência não só da sociologia, mas, de cada um de nós.



Num ambiente emocionalmente saudável, a troca de ilusões por realidade se da de uma forma sutil. Nessa “desilusão a conta gota”, o bebê aprende com o amor entre os pais um modelo de companheirismo, respeito e afeto. Modelo que fará parte de seu objetivo de futuro. Um modelo interessante para que possamos refletir e aplicar em nossa sociedade e nosso ambiente educacional e social.


O exercício parece ser o de abrir um espaço para o afeto positivo. Um filho gerado com amor e pelo amor, ou seja, por duas pessoas que se amam, ganha a herança deste modelo de vínculo para próximas gerações. E definirá qual o nível de respeito permearão suas futuras relações. Isso indicará o quão violentas são e serão suas aproximações e ligações com pessoas e coisas, assim como a si mesmo e inevitavelmente a direção que tomará a sociedade.


Prof. Renato Dias Martino








segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Busca pelo sucesso

José de Sousa Saramago
(Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 -
Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010)
De certa forma, o ser humano sempre buscou o sucesso (e ainda hoje o faz), porém, me parece que o objetivo obter sucesso, tem deslocado seu foco, ou seu objeto. Não seria um absurdo dizermos que a busca do “ser” vem sendo substituída pelo “ter”. Tem uma frase muito linda de José de Sousa Saramago (1922 — 2010)  (Nobel de literatura) que diz assim: “Ter é a pior forma de amar e amar talvez seja a melhor forma de ter”. Podemos pensar, por exemplo, o sucesso na busca pelo concreto, o dinheiro, por exemplo, a maior expressão disso, “vale um por um”, não é?
O sujeito busca mais e mais, pois na verdade não é isso o que realmente busca.
Assim como o obeso busca na comida (seio) o substituto do amor (mãe) perdido. No outro extremo, a busca do sucesso naquilo que talvez, tivesse importância crucial, e digo isso pesando naquilo que está implicado em todas as outras buscas, inclusive na busca do próprio dinheiro. Estou tentando falar sobre o sucesso na busca por si mesmo, onde realmente está nosso desejo e não aquilo que me faz maior em comparação ao outro. Penso que o sucesso sem limite me sugere uma busca do triunfo sobe o outro. O que destoa completamente de uma busca sadia pela expansão mental e o crescimento espiritual, onde se encontra a capacidade de amar.
Quem é capaz de “ser” certamente achará um jeito de “ter”, entretanto o “ter” nunca garantira o “ser”. Isso só se consegue na busca pelo reconhecimento do eu. Quando estamos mais próximos de nossas verdades (desejos e medos), estamos mais próximos também de nossas possibilidades e somos menos atormentados por um “ideal de eu” (Freud 1934) exigente e impiedoso, que nos cobra o tempo todo.




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Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866