sábado, 26 de março de 2011

O SONHAR ENQUANTO RECURSO NA EXPANSÃO MENTAL

CONHECER PERSPECTIVAS PSICOLÓGICAS SOBRE O SONHAR E COM AUXILIO DO PENSAMENTO PSICANALÍTICO, APRECIAR A FUNÇÃO DO DESEMPENHO DO SONHAR NOS PROCESSOS PSÍQUICOS.
 Coordenação: Prof. RENATO DIAS MARTINO
30 DE ABRIL DE 2011
Dàs 14:00 às 16:00 HORAS
Local: UNILAGO, São José do Rio Preto.
Inscrição: http://www.unilago.com.br/extensao/info/inscricao/?Curso=399 

O evento será realizado no anfiteatro da UNILAGO. Mesmo que no site da faculdade estejam esgotadas às inscrições, serão feitas inscrições extras no dia do evento.
Muito obrigado!
Espero todos la!



Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com  

A arte como simbolização do mundo

Dor da palavra
"O que seria da minha palavra 
se minha dor nela não habitasse?
O que seria da minha dor 
se não encontrasse palavra 
que a expressasse?"


Na Grécia antiga a arte dramática era encenada nos teatros de arena, propondo certa catarse naquele que assistia. Um golpe no narcisismo do espectador. Como em uma ab-reação que alertasse a platéia, de qualidades da realidade, que no cotidiano pudessem ser de alguma forma ignoradas, ou mesmo perdidas nas tarefas repetitivas do dia a dia.
Um bom início na empreitada de estudarmos a arte enquanto símbolo de mundo, talvez seja pelo vértice epistemológico, onde o intuito é criar ferramenta que nos possibilite o discernimento entre crença e conhecimento.
Immanuel Kant (1724-1804)
Um exercício no questionamento daquilo que Immanuel Kant (1724-1804) chama de conhecimento a priori, onde propõe que a "coisa em si" é icognicivel. Se pudermos incluir dentre essas perspectivas de estudo do saber a partir das ideias de Kant, o vértice das 'possibilidades' passa a ser o instrumento principal na busca pelo conhecimento. O ponto de partida da filosofia de Kant é justamente o problema do conhecimento, e a ciência, tal como existe.

Esse importante filósofo alemão propõe duas categorias básicas de conhecimento, o conhecimento a priore e o conhecimento a posteriori. Para esse importante pensador, o conhecimento a priori não depende da experiência, sendo assim, algo transmitido teoricamente. Esse padrão de conhecimento segue um modelo de saber acumulativo, que baseado em um fato registrada na memória e que foi percebida pelos órgãos dos sentidos. Então pode ser transmitido a outrem, como verdade.

No extremo oposto, estaria o conhecimento a posteriori, ou como Kant o denominava em alguns casos, o saber sintético. Nesse molde de saber estaria aquele conhecimento que seria resultam da experiência e, por isso, implicaria aspectos privados e incertos. Segundo esse modelo proposto por Kant, o conhecimento é vínculo, ou relacionamento entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Para Kant, são necessários os dois modelos de conhecimento e isso coincide com a nomeação (a priori) da experiência (a posteriori). A partir dessa proposta de pensamento, não se pode conhecer as coisas "em si", mas apenas o que podemos obter através da experiência com ela. Isso equivale dizer que aquilo que chamamos de coisa, é apenas aquilo que pudemos conhecer do objeto, e nunca a coisa “em si”.

Entretanto, é uma forma menos acessível e seleta do saber, pois é uma maneira de pensar que torna o sujeito responsável pelo saber. Certa pedagogia regida por esses moldes propostos por Kant, talvez fosse aquela calcada na priorização das possibilidades em se qualificar o sujeito para a experiência. Isso, para Kant, representaria a retirada do sujeito de sua menoridade, posição onde se encontra dependente do saber do outro. O ‘por si mesmo’ é a bandeira do saber kantiano, e seria talvez a única forma de ensino que poderia receber o titulo de real.

Qualquer outra tentativa de conhecimento colocaria o sujeito dependente da experiência do outro, invalidando grande parte do vínculo com a própria realidade do objeto do conhecimento. Não é muito difícil chegarmos a uma concepção onde uma verdade contada não pode ser comparada a uma verdade vivida. Segundo a proposta de Kant, fora da experiência não pode haver o real aprendizado.

Se assim procede; a realidade é mesmo inacessível e o que podemos obter é simplesmente breve impressão desta, então, que ao menos seja criado algo que possa amenizar a condição finita e desprotegida da existência. Algo que permita estar mais próximo possível da apreensão do real.


Sigmund Freud (1856-1939)
Como no material clássico de Sigmund Freud (1856-1939), “O Mal-Estar na Civilização”, onde em 1930 ilustra a tentativa de dar conta dessa angustia. O ser humano desenvolve instrumentos de representação, buscando na realidade aquilo que possa simbolizar as dores da alma.

Considerando três grandes modelos onde estejam compreendidos o cientifico - filosófico e o místico-religioso, a arte se enquadra na categoria dos padrões da epistemologia, enquanto dimensão estética. Certa área da mente rica em imaginação, logo, propícia à simbolização. O aparelho psíquico dispõe-se a certo estado se funcionamento do não-tempo e do não-espaço interior. Contudo, a arte proporciona assim, um encontro com o si-mesmo em áreas conflituosas da mente onde o vínculo com o mundo externo ainda se encontra num modelo muito primitivo.
Conceito de símbolo

OM
Um importante instrumento de reflexão da alma. Filosoficamente, contudo, de maneira prática, podemos chamar de símbolo tudo aquilo compreende a função de sustentar durante a ausência material. Num modelo cientifico - experimental, um time de futebol pode facilmente ser recordado através de um simples brasão, por exemplo. No misticismo encontramos amuletos e formas simbólicas que reúnem conceitos extremamente subjetivos, mas que ainda assim permitem-se estarem presente em uma pedra, ou um pedaço de madeira, quem sabe. O afeto dedicado às imagens sagradas é um aspecto muito característico de algumas religiões.

 Melanie Klein (1882-1960)
Do ponto de vista psicológico, o símbolo começa a ser estudado com maior atenção, a partir dos estudos de Melanie Klein (1882-1960), pensadora que talvez seja o nome mais importante para o pensamento psicanalítico depois de Freud. Em sua obra “Da importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego” (1930) a autora propõe que a capacidade de simbolizar o seio é o protótipo de vinculo que pendurará na vida emocional. A questão é “o que fica quando o seio não esta?” Desse ponto de vista, cada experiência simbólica com a realidade habilita o “eu” a viver a falta.

Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) propõe uma tríade interessante onde real, imaginário e simbólico se sucedem. Esse pensador francês valoriza a linguagem enquanto aquilo que estrutura o inconsciente. Lacan usa do ‘nome do pai’ como símbolo da palavra.


Wilfred R. Bion (1897-1979)
Wilfred R. Bion (1897-1979), psicanalista inglês, nascido na Índia, propõe a capacidade de vivermos o “O” da experiência, representado nas religiões hindus pelo símbolo do 'om', onde o aparelho psíquico fica livre da satisfação sensorial, sendo sustentado justamente pelo símbolo. Assim, a falta do seio real é o que leva a pensar. Contudo, quando a falta que se sente é de um seio do qual se tem muito escassas as impressões afetivas, o ambiente se torna assustador e muito pouco fértil a simbolização.


A arte no simbolizar

Edipo de Moreau
O artista nos prova que a paisagem existe mesmo que não conheçamos a paisagem em-si, ou seja, nos reporta ao ambiente retratado, mesmo sem termos conhecido o ambiente real da paisagem. A Partir daí inicia-se certo processo. A realidade é percebida gerando a duvida, então, o imaginário é o que entra em funcionamento. Nesse ponto do processo (do imaginário), movimentos lúdicos são experimentados, sempre repletos de amor, ódio e consequentemente a fuga para o real. Dentro desta perspectiva Bion aprecia o espaço mental, tal como num processo de digestão daquilo que se obtém nas pesquisas feitas no mundo real. Assim, com a ajuda de um ambiente saudável, alguma hipóteses dentre aquelas ludicamente experimentadas, agora abre a possibilidade para a simbolização, através de um representante na realidade. Assim como no sonho também na arte, abre-se certo caminho nobre de acesso aos conteúdos inconsciente. Por funcionamento através da capacidade criativa, ilustram em sua representação os movimentos internos de fantasias.

Arte e o eu real

Con-fusão entre o eu e a arte
Em 1910 Freud publica “Leonardo Da Vinci e Uma Lembrança Da Sua Infância” e nessa importante obra analisa o artista através dos documentos de registro e também através de suas obras. Através de seu quadro ‘Sant’ Ana com Dois Outros’ analisa as duas mães fundidas num corpo só, formando um abutre com o manto que as envolve, ave sombria que aparecera num sonho de Leonardo di ser Piero da Vinci (1452-1519) colocando as penas de calda em sua boca. Essa questão é retomada em 1939 por Carl Gustav Jung (1875-1961), importante colaborador na construção do pensamento psicanalítico, em seu “O Espírito Na Arte e Na Ciência”, onde transcende o modelo cientifico propondo o vértice mitológico na analise. A arte de Da Vinci revela aspectos importantes de seus conflitos emocionais e verdades internas.

Donald Woods Winnicott 
(1979-1983)
De qualquer modo, o modelo estético-artistico apresenta dessa forma, como revelação do mundo do verdadeiro eu, ou nas palavras de Donald Woods Winnicott (1979-1983), pediatra e psicanalista pós-kleiniano, temos aqui uma possibilidade de contato com o verdadeiro self que vive nos quartos dos fundos do falso self, construindo a partir da necessidade de sermos desejados pelo outro, alinhavando a idéia em concordância com Lacan que propõe que “o homem é o desejo do outro”.

Arte e sublimação

Freud (1910, p. 72) propõe o conceito de sublimação como capacidade de substituição de objetivos imediatos por outros desprovidos do caráter sexual, através do aprimoramento e valorização das realizações. A arte não é só simples instrumento ilustrativo dos processos internos, ela tem a propriedade de conduzir o espectador a um “estado de espírito” muito próximo da vivencia emocional da qual experimentou o artista. O artista constrói um ambiente emocional que envolve aquele espectador aberto à linguagem artística usada. Quantas vezes não nos pegamos segurando um “nó na garganta” ao ouvirmos uma canção, sem sabermos explicar o porquê do sentimento de tristeza que habita nosso peito?

A arte nos permite viver nossa “memória sonho”, como propõe Walter Trinca (1997), onde a sensorialidade perde o valor. Não podemos provar cientificamente quantos metros existe entre a cerca e a casa pintadas na tela, mas ficamos satisfeitos ao contemplá-la. O espaço e o tempo são freqüentemente inutilizados. Na arte, existe a relação estética do “sempre” eternizada na obra. Dispensamos a coisa em si que nos propõe Kant e nos encantamos pela representação da qual nos diz Freud.

Referencias:
Bion, Wilfred, Ruprecht. Transformações - mudança do aprendizado ao crescimento. Rio de Janeiro, Imago, 1983, trad. C.H.P. Affonso, M.R.A. Junqueira, L.C.U. Junqueira Fo.

(1970) Atenção e interpretação. Rio de Janeiro, Imago, 1973.

(1992). Cogitations. (Edited by F. Bion). London: Karnac Books.

Freud, S. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas - Edição Standard Brasileira, IMAGO (1969-80)

Jung, C. Espírito Na Arte e Na Ciência, Petrópolis, Vozes, 1939.

KLEIN, Melanie, (1930) A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego. in Contribuições à psicanálise. São Paulo, Mestre Jou, 1981.

Trinca, W. O espaço do homem novo. São Paulo, Papirus, 1997.

WINNICOTT, Donald, Da pediatria à psicanálise. São Paulo, Francisco Alves, 1982.

O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
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renatodmartino@ig.com.br
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terça-feira, 15 de março de 2011

Ainda Sobre o Pensar

Se existe algum sentido em se afirmar que fora do domínio da experiência não pode existir aprendizado, então temos ai o ponto de partida para se entender o processo que compreende o desenvolvimento mental, ou seja, como ocorre a expansão do pensamento. 
Na tentativa de examinar atentamente o que chamamos de ‘pensar’, estaremos cogitando sobre certa capacidade da qual o humano se gaba perante os outros animais. No entanto, esse mesmo humano ainda é muito pouco habilidoso no uso deste recurso mental. Digo isso apoiado no pressuposto de que esse mesmo humano atual que somos nós, ainda faz a maior parte das suas escolhas por motivos dos quais não puderam ser submetidos a um pensamento atido e dedicado. Faz isso por certas necessidades extremamente primárias, onde o pensamento não tem acesso. O humano escolhe sem pensar onde a urgência se pronuncia. Onde a necessidade de satisfação imediata não permite tolerar frustrações, recurso fundamental ao pensar. Num modelo muito primitivo de funcionamento mental é o modo como o ser humano contemporâneo faz suas escolhas. Mesmo assim, tentaremos aqui, fazer o possível para angariarmos o máximo de recursos nessa breve tarefa de pensar o ‘pensar’.  

A palavra pensar parte do Latim PENSAREA, que diz respeito a pesar, ou avaliar o peso. Aquilo que chamamos de ‘pensamento’ faz parte do processo de construção do espaço interno mental. Esse espaço serve à tarefa de conter os conteúdos mentais como é o caso das emoções e também aspectos colhidos na realidade. Pois bem, mas, que tipo de beneficio poderia nos trazer o exercício e aprimoramento da habilidade de pensar? Para Freud (1856-1939) o pensamento tem função fundamental no adiamento da ação, resultado do impulso. Freud escreve essa ideia num texto que serviu de inspiração para importantes pensadores da psicanálise atual que contribuíram para que o pensamento psicanalítico pudesse evoluir no que hoje se realiza. As Formulações Sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental, publicado em 1911, foi uma obra que tornou claro certos conceitos dos quais, Freud lutara por anos no desafio do esclarecimento de aspectos dos processos psíquicos. Nessa obra ele escreve que, ‘o pensar foi dotado de características que tornaram possível o aparelho mental tolerar uma tensão intensificada de estímulo, enquanto o processo de descarga era adiado.’ O teste da realidade e os recursos criados pelo aparelho psíquico com intuito de viabilizar o confronto das fantasias com informações advindas da realidade. Assim, logo percebemos o beneficio de se expandir essa capacidade. Quero propor que pensar é também capacitar-se no desempenho da vida, no que diz respeito à realização de mundo. A criação de certo continente mental que sustente o processo do pensar sem que se entregue antes á ação.
Sigmund Freud (1856-1939)

Na verdade, quando a percepção feita através dos órgãos dos sentidos indica a necessidade de ação, a capacidade de pensar pode adiar essa ânsia. Isso até que se perceba com mais acuidade a realidade. Nesse momento o significado semântico da palavra nos orienta com grande ilustração: avaliaremos pelo pensamento, o peso das ideias para se decidir o que escolher. Essa é talvez a primeira das funções do pensamento, ou a mais básica delas. A partir da capacidade em adiar ações inicia-se então, uma serie de expansões na perspectiva dos processos mentais. 
Ora, a psicanálise nos mostrou com muita propriedade que só podemos aceitar no mundo real, aquilo que já existe no mundo interno, ou dentro de nós. Criamos espaço em nossa mente e só depois conheceremos na realidade. A capacidade de reconhecimento do mundo interno é o encontro e o reconhecimento de fantasias, medos, desejos apaixonados, ódios e tudo mais que está em nosso mundo interior. São características do incerto, do informe. Nosso mundo interno nunca é bem definido e sempre pobre de referencias da razão. Por conta disso é um terreno escuro, sombrio e cheio de ameaças. No entanto, só conhecendo nosso eu interior, que podemos distingui-lo do que está fora, o que chamamos realidade. Logo, o estado emocional do ‘eu’ (dentro) tem menor chance de se abalar na situação de ambiente emocionalmente danoso (fora), isso se estiver dedicando-se a um reconhecimento do si mesmo. O pensamento é por assim dizer, a capacitação do ‘eu’ (compreendendo o mundo interno) na ligação afetiva com o mundo (externo).
O exercício do pensar só se efetiva na experiência, como já se tomou por entendido. Experiência que compreende a ação junto do outro. O pensar é então certa capacidade que se desenvolve impreterivelmente através do vínculo com o outro. A partir da imaginação, fantasias sobre a realidade, o encontro com a verdade do outro promove o pensamento. Depende-se do outro para se pensar, mesmo que seja o outro internalizado através de uma experiência afetiva. Quando não se inclui o outro, o movimento mental não pode levar o nome de pensar, pois ainda conserva características imaginarias. Ainda se encontra como ilusão que só será quebrada na introdução da verdade externa. Dessa forma, sou forçado a depositar meu descrédito em qualquer tentativa de batizar como pensamento, experiências que não compreendam o outro, ou o encontro com a verdade do outro.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
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sábado, 12 de março de 2011

Participação de Prof. Renato Dias Martino no Revista de Sábado TV TEM.

http://www.youtube.com/watch?v=SNeT_rhab04

Professor Renato Dias Martino fala, no programa Revista de Sábado, da TV Tem, no dia 12 de março de 2011, sobre a importância das redes sociais como mecanismo de inteiração entre as pessoas.

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segunda-feira, 7 de março de 2011

Curso de extensão: A ARTE COMO SIMBOLIZAÇÃO DE MUNDO.

A ARTE COMO SIMBOLIZAÇÃO DE MUNDO.

Salvador Dalí (1904 - 1989) – Sem título – Óleo sobre tela – 200 x 193cm
    
 A DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA E O FUNCIONAMENTO MENTAL.  PERSPECTIVAS PSICANALÍTICAS SOBRE O PROCESSO PSÍQUICO DO SIMBOLISMO E A ARTE COMO RECURSO NOBRE DESSA ORDEM DE PROCESSO PSÍQUICO.


Coordenação: Prof. RENATO DIAS MARTINO
26\03\2011, das 14:00 ás 16:00 horas
Local: UNILAGO São José do Rio Preto SP
inscrições : http://www.unilago.com.br/extensao/info/?Curso=342


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Músico
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renatodiasmartino@hotmail.com
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domingo, 6 de março de 2011

As Mudanças de Esperança

Na lata de alumínio, debaixo da pia era onde se guardava o feijão. Ali morava Esperança. Ela não tinha nada de especial. Era igualzinha às outras. Mesmo tamanho, mesma espessura, mesma cor e muito provavelmente o mesmo sabor. Era uma sementinha de feijão comum, como todas as outras dentro daquele saco de cinco quilos. Todas juntinhas dentro da lata de alumínio debaixo da pia. Sentia-se muito segura por isso. Todos os dias de manhã, ela acordava e nem por um minuto mantinha qualquer duvida quanto a ser aceita pelas outras. Este sentimento brotava do fato de que era só olhar do lado e constatar como era idêntica a todas. Todas as sementinhas estavam seguras ali.

Certo dia, Esperança e mais algumas amigas idênticas a ela, caíram fora da lata. Por descuido da cozinheira no momento de pegar os grãos para seu cozido. Foram então varridas e jogadas no terreiro. Todas, exceto Esperança, caíram sobre uma superfície de cimento. Ela, por sua vez, caíra na terra fofa e bem adubada pelo esterco das galinhas do quintal.


Assim que caíram lá no fundo do terreiro, começou a chover. Um chuvisqueiro fresquinho e manso.


Você já deve ter imaginado o que aconteceu, não é? Diferente do que para suas amiguinhas, toda a condição propicia para acontecer a germinação calhara a ela. Então, Esperança começou a germinar. Foi estufando, estufando até rachar uma das laterais. As companheiras que assistiam tudo de cima da peça de cimento, assustaram-se. E disseram quase que numa só voz: Nossa! Por que faz assim? Você esta horrível! Se continuar vais se arrebentar.


E ela realmente se arrebentou. Foi inchando, inchando até que explodiu. Ficou disforme e certamente diferente das colegas que não tiravam os olhos dela. Esperança de sentiu horrivelmente excluída. Lembrou-se então da vida que vivia na lata e como se sentia feliz num grupo de total identificação. Mas, mesmo assim, Esperança, continuou ali. Talvez por intuir que seria sua chance para crescer.

De qualquer forma, todo esse processo foi acontecendo assistido por suas companheiras. Elas, expostas ao sol e sem proteção, ou chance de germinarem, pois não estavam em contato com a terra fofa, foram definhando e por fim apodreceram. Esperança por sua vez foi brotando, crescendo e logo se tornou um belo pé de feijão que gerou várias vagens cheias de outras sementinhas.

Na verdade todas as vezes que nos propomos crescer e expandir nossas capacidades, acabamos por assustar o outro, que na maioria das vezes não estará disposto, pelo menos naquele momento à mudança. Somos então julgados e inevitavelmente excluídos daquele grupo que não estava preparado para a transformação.


Prof. Renato Dias Martino
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Uma reflexão sobre nossas experiências emocionais em formato imaginário.
http://www.youtube.com/watch?v=NVH1ZMyNLts


quinta-feira, 3 de março de 2011

O real e a idealização (do real)

O real e a idealização (do real)
Renato Dias Martino

Aphrodite And Eros - 1917 -
Henri Camille Danger
O conceito de desejo está no Dicionário Aurélio (2002) definido como ato ou efeito de desejar; vontade de possuir ou de gozar; anseio, aspiração, cobiça, ambição; vontade de comer ou beber; apetite sexual. Quando nos propomos a cogitar sobre tao fato, falamos da incoscequencia de Eros (deus do amor), filho de Aphrodite (deusa da beleza). O mito de Eros que na primeira fase de sua vida, permanece uma criança pequena, mesmo com o passar dos anos.
Dentro de sua etimologia, a palavra desejo, tem sua origem do latim desidiu, que tem seu inverso em considiu. A palavra sidiu ou ainda siderare, quer dizer astro. E enquanto con traz a referencia de vínculo, des traz a ideia de desvinculação. Logo estamos falado de estar, ou não estar ligado aos astros. Ou ainda, consultar os astros (assim como os gregos faziam por meio do oraculo), ou tomar certo caminho desconsiderando o que eles tem a nos dizer. Dessa forma, fica claro que ao desejarmos algo, nos tornamos responsáveis por isso e abandonamos a opinião dos astros, quanto a isso.
Benedito Espinoza (1632-1677)
Ora, se a proposta é de falarmos sobre o desejo, então estaremos cogitando sobre certa tensão que indica um fim. Quem deseja, o faz em relação a algo, que por sua vez, trará o fim do desejo. Esse fim está intimamente ligado a um pressuposto de carência. Quero dizer que, o desejar é resultado do sentimento da falta de algo. Sendo assim, o desejo torna-se uma característica clara do ser humano. O humano, mortal que se encontra no pólo oposto dos deuses. Para Benedito Espinoza (1632-1677), um dos grandes pensadores do século XVII, dentro da chamada Filosofia Moderna, a imperfeição repousa na perspectiva do humano e o define como tal.
O desejo é uma classe de sentimento, ou de certo movimento mental, que muitas vezes mesmo irracional, em sua forma inconsciente emergem tomando a forma de nossas escolhas. A ideia é que o desejo é um fluxo muito forte de libido (energia psíquica) e carrega em si, muito dos conteúdos impensados e impregnados de um narcisismo pré-maturo. Assim, um pensamento que tenha nascido dessa forma, pré-maturo já agia em no funcionamento da mente, mesmo sem ainda poder ser chamado de pensamento. Esse fato revela-se importante na medida em que muito perigosa é a ação ausente da reflexão. O agir sem pensar.

A psicanálise nos mostrou com muita clareza que o desejo é definido pela sensação de perda de algo que se foi. E se concordamos nessa afirmação, logo, poderíamos descrever que o objeto de desejo encontra-se no passado. Isso corresponde a dizermos que quem deseja, deseja, pelo menos em certa medida, a repetição de algo que perdeu no passado. Isso se torna de maior proporção se nos lembrarmos que a perda sempre inclui certa culpa de não ter cuidado daquilo que se perdeu. Assim, podemos afirmar que o desejo guarda sempre uma cota de passado e isso é representado nas experiências psíquicas, pela memória.

Tânatos
Abre-se então certa condição que nos permitiria afirmar, que o desejo encontra-se impregnado com das forças de Tânatos (o deus grego da morte) dentro de sua perspectiva de pulsão de morte. Busca sempre, em certa medida o retorno em busca de algo perdido, por mais que se encontre regido pelas graças de Eros (o deus grego do amor) no conceito freudiano de pulsão de vida, em seus impulsos na direção do mundo externo. Percebemos que memória e desejo estão muito próximos e que, a forma como se pode ter certa concepção de memória coincide diretamente no que se tem concebido sobre o desejo. Em sua celebre obra Interpretação dos sonhos de 1900, Sigmund Freud (1856-1939) propõe a ideia de que a memória é o desejo no passado e se concordarmos quanto a isso, poderíamos formular que, se a memória é desejo do passado, então o desejo é também, uma espécie de memória do futuro.
Sigmund Freud (1856-1939)
De qualquer forma, o desejo, então é algo que existe para ser satisfeito, contudo, ainda assim, só existe enquanto se está frustrado.
Entretanto, deixemos temporariamente a situação da satisfação de lado, com a proposta de retornarmos mais tarde e cuidar dessa hipótese com mais cuidado e dediquemos então os olhares para a situação da frustração. Pelo menos a priori, abrem-se, dois caminhos, o de enfrentar a tarefa do reconhecimento da realidade, ou sustenta-se a fantasia até onde ela possa ser sustentada.


Friedrich Nietzsche (1844-1900)
‘Eu fiz isso’, diz minha memória.
‘Eu não posso ter feito isso’,
diz meu orgulho, e permanece inflexível.
Por fim _ a memória cede.'
Friedrich Nietzsche (1844-1900) – Além do Bem e do Mal (1886).

Essa questão se torna de grande importância se estivermos falando em aspectos condizentes à luta diária, onde exista um trabalho de capacitação emocional em no sentido do aceitar, respeitar, ser sincero e assim, tornar-se capaz de amar o real, ou, ligar-se afetivamente ao outro. Falo aqui de vínculo.

O objeto de desejo nunca é real, isso por que nunca desejamos o objeto real, mas aquilo que esperávamos que fosse, o ideal. Na realidade tendemos a desvaloriza o objeto de desejo, assim que se torna real. Isso por que se tornar real limita as qualidades e possibilidades do objeto, o que não ocorre com o ideal. Às vezes, levamos isso a tal conseqüência, que nos conduz a desistir de certo objeto, por não atender nossas expectativas. É como se disséssemos: “Se não é como eu desejava não importa pra mim”. Ou seja, a realidade não interessa o que interessa é o que se imaginava ser essa realidade. Assim que o real se revela é logo descartado. Ou ainda, por outro lado, num ato de violência para com a realidade, podemos forçar o objeto a se tornar aquilo que gostaríamos que fosse.
Immanuel Kant (1724-1804)
O que conduz essa linha de pensamento é o fato de que na maioria do tempo somos impulsionados por paixões, ou seja, idealizamos (fantasia) algo e conseqüentemente passamos a odiar o seu extremo oposto. Forma perigosa de se conduzir a vida, pois, de tal modo, não se pode conhecer coisa nenhuma. Deixamos de nos aproximamos de certas “coisas” por enxergá-las sendo muito maiores que nós e, a partir do mesmo modelo de funcionamento, evitamos outras por nos julgarmos muito superiores a elas. Na perspectiva de Immanuel Kant (1724-1804) conduzir escolhas execencialmente pelo desejo é um modo doentio de viver, então dispensar o desejo seria a condição sine qua non da prática daquilo que chamou de moral e que pressupõe certa indiferença em relação à satisfação e ao prazer. Na proposta edípica de Freud é justamente a renuncia do desejo pela mãe que liberta para o pensar. Na capacidade de viver a posição do terceiro excluido é que se inicia as realizações no mundo. Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) psicanalista francês propoe o Nome-do-Pai como simbolo do corte no desejo pela mãe. O que adequa o vínculo entre filho e mãe, libertando do pesadelo incestuoso.
Wilfred R. Bion (1897-1979)
Na apreciação psicanalítica do indiano naturalizado inglês, Wilfred R. Bion (1897-1979) a questão se encontra na perspectiva daquilo que poderia proporcionar, definir e sustentar na qualidade do vínculo que se pode ter com a realidade. Bion propõe a cesura do desejo, priorizando o que chamou de ‘O’ da experiência. O reencontro com a realidade depois da simbolização. O símbolo permite que se tolere o vazio e isso coincide com a privação da satisfação imediata do desejo. Ai está a chance para que se comece a pensar. A presença excessiva de certo desejo por algo, impede que se possa conhecê-lo na realidade, ou ainda, paralisa qualquer que seja o esforço na direção de entendê-lo em sua forma integra.

A conseqüência inevitável desse funcionamento baseado na paixão está justamente na cristalização ou enrijecimento daquilo que limita o que é do eu (como o desejo), daquilo que é do mundo, do não-eu, do outro, em ultima instancia, da realidade (que dificilmente coincide com o desejo).
Congela e compromete severamente aquilo que nos leva a experimentar possibilidades, condição indispensável à criatividade. Experiências que são exercícios de fundamental importância na medida em que capacita de referencias que nos permitem distinguir não só o que poderia ser o mundo externo, mas, conseqüentemente, o que pode realmente podemos ser, ou melhor falando, o que pode ser o eu real. Falo da inexorável luta entre o que é real e o que se deseja que seja, ou até, o que se teme que possa ser (já que o medo é filho do desejo). A questão está na ordem do que se encontra entre o real e o imaginário. Um processo de rigidez nesse nível é inevitavelmente gerador do que poderíamos denominar de pseudo-sabedoria ou mesmo certa sabedoria psicótica. Uma classe de informações sobre o mundo que só pode manter-se através da imposição. Um saber que deve contar com a defesa de certo escudo chamando arrogância.
Enquanto essa pseudo-sabedoria se localiza em certo nível superficial, encontramos um sujeito turrão e teimoso, conseqüentemente ignorante (ignorante de sua própria ignorância). Contudo, mesmo assim é alguém que consegue a duras penas, algumas realizações no mundo, já que (mesmo chateado com isso) mantém certo vínculo com a realidade. No entanto, se esse modelo de “saberes” passa a ser atribuído a elementos de maior profundidade da personalidade, criam-se características psicóticas na forma de se conduzir a vida. O outro nunca é o outro, mas, sempre o que se deseja que fosse.

Voltemos agora os olhares para a satisfação completa do desejo. Este vértice conduz a morte da busca e nos remete ao estado de inércia. Na satisfação total não existe reflexão e não é difícil chegar a essa conclusão quando nos lembramos de um bebê que logo adormece assim que se satisfaz com o seio da mãe. Totalmente satisfeitos deixamos de pensar, deixamos de existir. Só seguimos em frente se tivermos a consciência do que perdemos.


Bion, W. R. (b). Dois papéis: A grade e a cesura. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1977
__Transformações - mudança do aprendizado ao crescimento. Rio de Janeiro, Imago,
(1970)
Chaui, M. Convite à Filosofia – 14° Edição – Editora Ática, São Paulo, 2010
Dicionário Aurélio, RJ, Nova Fronteira, 2002.
Freud, S. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas - Edição Standard Brasileira, IMAGO (1969-80)
KANT, I. Crítica da Razão Pura. 5° vol. - Editora Formar Ltda: São Paulo. 1985.
____ Crítica da Razão Prática. 5° vol. - Editora Formar Ltda: São Paulo. 1985.
NIETZSCHE, F.Além do bem e do mal – Editora Nova Cultural: São Paulo, 1999.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
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