Prof. Renato Dias Martino - As experiências que estão compreendidas num processo de verdadeira mudança devem ocorrer sempre a partir da percepção de um desconforto. Quando o sujeito percebe que existe algo que se revela incomodo, por algum motivo. Na medida em que esse incômodo passa a impedir o funcionamento saudável, então ele começa a angariar recursos para reconhecer que deve ocorrer certa mudança de realidade. É bom salientar que assim deve ocorrer num processo natural da saúde da mente e que a verdadeira mudança sempre ocorrerá através de um processo lento.
Elen Valereto - Quais são as principais motivações por questões emocionais que levam as pessoas a buscar mudanças em suas vidas?
Prof. Renato Dias Martino - O sujeito pode reconhecer a necessidade de mudança por perceber que está envolvido numa aliança perversa com o outro. Percebe que certa relação mantida com alguém, está o perturbando emocionalmente. Então, de forma emocionalmente saudável, procurará desenvolver-se para se libertar de certo relacionamento de alienação que por agredi-lo na auto-estima, limita suas capacidades. Quando esse tipo de vínculo é identificado, e se o sujeito não estiver tão comprometido com um ‘benefício oculto’ em se manter nessa relação, inicia-se então um processo de mudança que muitas vezes pode levar um bom tempo.
Elen Valereto - Quanta coragem é preciso para mudar e conhecer o desconhecido?
Prof. Renato Dias Martino - A origem da palavra coragem vem da junção de ‘cor’, que significa coração mais ‘agem’ que sugere ação e então, literalmente falamos de agir com o coração. Logo fica claro que, um coração empobrecido não pode agir. Agir pelo coração é ser capaz de amar e a verdadeira mudança só pode ocorrer pelo amor, do contrário essa mudança nunca será um indicativo de expansão mental e maturidade. Quero propor que só se pode ser possível perceber uma verdadeira mudança se o sujeito estiver nutrindo-se, de alguma maneira, de amor.
Elen Valereto - Que obstáculos que impedem ou dificultam a tomada de decisão para mudar?
Prof. Renato Dias Martino - A imaturidade emocional do sujeito, esse é o maior desafio. Um sujeito imaturo emocionalmente é aquele que pouco confia em si mesmo. Certa imaturidade que tem nos benefícios de se manter da mesma forma, um atrativo muito grande e assim, a mudança se torna desinteressante. Um sujeito frágil como esse, encontra-se desnutrido na auto-estima e sem o amor do outro, então o reconhecimento da mudança fica impossibilitado.
Elen Valereto - Quem quis mudar, mudou. E agora? Ainda há espaço para outras mudanças?
Prof. Renato Dias Martino - Mesmo que não sejamos capazes de reconhecer, a mudança acontece o tempo todo e na realidade não podemos fazer mais do que nos responsabilizar por ela, ou mesmo, na ausência de coragem, evitar essa responsabilização. Entretanto, quando evitamos a mudança pagamos muito caro, pois estaremos funcionando em desacordo com o movimento do universo, que se encontra em constante mudança e expansão. Quando o sujeito não muda, ele luta contar si mesmo e também se coloca em desacordo com a ordem natural das coisas. Com isso, fica em certo estado que o põe em risco. Estagnado, o sujeito se vê ameaçado por ele mesmo.
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
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