Por que dizer “eu sei”?
Será porque sabemos realmente?
“Só sei que nada sei”.
Sócrates (496-470 a.C. / 399 a.C.) tornou essa máxima como seu lema e o imortalizou.
Sócrates (496-470 a.C. / 399 a.C.) |
Mas, se não conhecemos a nós mesmos, o que
sabemos então?
Estudamos anos a fio certa coisa e um dia nos damos conta que sabemos muito pouco sobre ela. A satisfação que obtemos com a sensação do “saber” é realmente gratificante, mas penso ser útil
encará-la como um domingo de descanso em uma semana de
labuta, onde o ponto de interrogação é o norte do desenvolvimento e da expansão. Quando não temos dúvidas, nos acomodamos. As certezas são as maiores ilusões criadas pela mente humana. Contentamo-nos com a certeza quando nos vemos incapazes de continuar a questionar e não porque estamos realmente certos.
Maurice Blanchot (1907-2003) |
Maurice Blanchot (1907-2003) diz:
“La réponse est le malheur de la question” -
“A resposta é a desgraça da pergunta”. (2002)
A única certeza é a morte.
Logo, buscar incessantemente certezas e garantias é o equivalente a buscarmos a morte: a morte da pesquisa, a morte do amor (sentimento rico em
incertezas), a morte da busca da vida.
“Navigare necesse, vivere non est necesse” no latim, “navegar é preciso, viver não é preciso”, frase de Pompeu, general romano (106-48 a.C.), foi
dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.
O poeta português Fernando António Nogueira Pessoa
(1888 - 1935), ressuscita a ideia com a condição de que: “viver não é necessário, o que é necessário é criar”.
A criação parte da falta de algo. Criamos aquilo que ainda não existe e, se não existe, logo não
sabemos. Quando dizemos: “eu sei”, encerramos a busca. Já sabemos, logo; não há nada a aprender. Muitas vezes, pronunciamos “eu sei” antes mesmo do outro concluir
o que quer dizer. É uma maneira de não dar muita
atenção
ou de ignorar alguém.
Quando respondemos automaticamente: “eu sei”, o que realmente dizemos é “não estou ouvindo o que você diz”. Assim, tiramos o valor do discurso do outro. É como se parássemos de ouvi-lo por achar que já sabemos tudo o que há para saber.
Sempre que ameaçados, nos vemos impelidos a nos defender.
Pode-se dizer, “eu sei” quando
encontrar-se tomado por ansiedade, enquanto se espera a vez de
falar. Também quando, simplesmente, não estamos dispostos ou interessados em ouvir. Seja qual for o motivo, essa reação impede que possamos aprender coisas que podem ser importantes.
Em um ato de descrédito em si mesmo e na própria capacidade de aprender, criamos um abismo entre o “eu” e o outro.
O “eu sei” pode servir como uma defesa para aquele que se sente ignorante e envergonhado, por realmente não saber.
Defendendo-se assim, acaba por não aprender.
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17 991910375
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.
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