quarta-feira, 19 de março de 2014

DA IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

A vida no ambiente social coletivo obriga que o sujeito crie recursos adaptativos, já que sua natureza indica justamente a tendência oposta disso. Somos impelidos a nos agrupar e convenientemente nos mantemos agrupados. A psicanálise nos ensinou com muita propriedade que enquanto humanos, não somos seres que se agrupam naturalmente, só o fazendo enquanto imaturos ou fragilizados.
Sigmund Freud
(1856 - 1939)
Em sua importante obra Psicologia das Massas e Análise do Ego, de 1921, Freud esclarece a ausência de um tendência natural gregária no constituinte instintual do ser humano. Ao contrário de uma disposição inata ao agrupamento, nós humanos prendemos às duras penas a nos tolerar. Isso se formos bem acolhidos para que assim nos desenvolvamos de forma saudável. 
Um ser humano é essencialmente diferente do outro. Nos diferenciamos uns dos outros como nem uma outra espécie animal o faz. Assim, a necessidade de nos comunicarmos de alguma maneira passa a ser recurso essencial para sinalizar nossas diferenças e pontuar nossos limites para que possam ser respeitados pelo outro. Por outro lado, tememos sobremaneira essa mesma individualidade, que nos diferencia e nos convida a dissimular similaridades. 
Na tentativa de dar conta dessa demanda contraditória e geradora de conflitos, criamos uma serie de sistemas de informações preestabelecidas que nos permite articular um mundo de elementos sem que seja preciso nos comunicarmos uns com os outros. Isso causa certa ilusão de que o outro tem conhecimento sobre aquilo que se passa no nosso mundo interno, como nossos desejos, ou aquilo que imaginamos ou mesmo pensamos. Essa ilusão é apoiada no fato de que mesmo sem comunicarmos isso tudo, ainda assim, as coisas funcionam da mesma forma. É como se as coisas falassem pelas pessoas e o avanço da tecnologia contribui muito para que essa ilusão tome conta da vida do sujeito contemporâneo e molde a sociedade em que vivemos. A criação de padrões preestabelecidos traz a fantasia de sermos iguais e nos isenta de exercitarmos nossa capacidade de nos comunicar e com isso revelar nossas diferenças.
Dessa maneira, pronuncia-se logo de início um grande prejuízo no desenvolvimento das relações. O sujeito acaba por se acomodar até o nível onde a coisa parece falar por ele e fica assim, impedido de expandir sua capacidade de diálogo com o outro e consigo mesmo, já que necessitamos impreterivelmente do outro para aprendermos a nos comunicar bem com nós mesmos. 
Aquilo que mantém a ilusão de ser possível sabermos o que o outro supostamente pensa sem que haja comunicação direta e de forma clara, revela-se um grande equívoco, já que mesmo que haja um diálogo direto e de uma forma aberta, ainda assim existe uma grande cota de informações que se manterão ocultas, distante do conhecimento daqueles que se comunicam. É de conhecimento daquele que se propõem a estudar a psicanálise que na fala do paciente em analise guarda-se dois grupos de conteúdo. Esse material é dividido em conteúdo manifesto; compreendido naquilo que o sujeito relata conscientemente e o conteúdo latente; que se encontra nos pontos cegos da mente dele. Conteúdos estes que estão inconscientes por serem referentes às experiências das quais o sujeito não pode se responsabilizar e são sentidos assim, como desagradáveis. Toda declaração que possa ser feita terá sempre uma parte que não pode ser revelada, isso pois camufla um segredo maior que é desconhecido até daquele que declara.
Ora, se foi possível chegarmos até esse ponto da reflexão de acordo com as hipóteses levantadas, podemos cogitar, então, que se existe alguma comunicação que possa chegar próxima da realidade, essa comunicação deve ser realizada tendo um vínculo afetivo como base. Uma comunicação real é aquela que acontece com certas condições especiais. Para que que essa ordem de comunicação real possa ocorrer, essa experiência deve contar com um ambiente vincular saudável. Um ambiente que apresente o mínimo de ameaças possíveis para que a formação de mecanismos de defesa não comprometa a sinceridade na comunicação. 
A comunicabilidade é uma capacidade que demanda de manutenção constante. O exercício de se comunicar com o outro faz parte do processo de expansão da mente e dos vínculos. A relação entre a mãe e o bebê inicia seu processo de maturidade a partir do desenvolvimento da capacidade de comunicar à mãe aquilo que ele sente.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
prof.renatodiasmartino@gmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com.br

2 comentários:

Sávio Christi disse...

Mano Renato, vim lhe dar os parabéns por seu trabalho e convidá-lo a acessar minha página de divulgação, eis o endereço → http://www.facebook.com/SavioChristiDesenhistaDivulgacao.

Bem, abraços e até mais então!

Unknown disse...

Texto fsntástico!!!