Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) |
Do pensamento de Arthur
Schopenhauer
À
22 de fevereiro de 1788 em Dantzig, nascia Arthur Schopenhauer. Nessa época
essa cidade fazia parte da Prússia, hoje pertence à Polónia. Seu pai era um
homem rico, sempre preocupado com seus negócios e muito pouco foi presente na
vida do menino Arthur. Sua mãe, Johanna Schopenhauer (1766 –1838) foi grande
escritora e intelectual de sua época, mas que, no entanto não conseguia
estabelecer um bom vínculo com o filho. Schopenhauer sofria severas críticas
vindas dela, quanto a sua maneira de ser e de pensar. Na realidade, ele nasceu
e foi criado meio a um casamento conflituoso, num ambiente hostil de
desentendimento e discórdia. Fato que influenciou muito o rumo de sua obra e
por si só justifica a tendência depressiva da filosófica de Schopenhauer.
Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) |
Na rica obra
SCHOPENHAUER: E OS ANOS MAIS SELVAGENS DA FILOSOFIA, Rudiger Safranski,
biógrafo de Schopenhauer, relata um trecho de carta enviada ao filósofo por sua
mãe, onde ela o condena por escancarar a realidade sem piedade, ainda que sem
perceber que ela faz o mesmo com seu próprio filho. Schopenhauer certamente
muito cedo aprendera esse modelo com sua progenitora.
Wolfgang Goethe (1749 —1832) |
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 — 1831) |
Foi próximo de Wolfgang Goethe (1749 —1832) e
inevitavelmente influenciado pelas propostas ousadas presentes nas reflexões do
amigo poeta. Cultuado por Friedrich Nietzsche (1844 —1900), desprezou Georg
Wilhelm Friedrich Hegel (1770 — 1831).
Friedrich Nietzsche (1844 —1900), |
Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) |
‘Schopenhauer como Educador’ é uma
conferência proferida em 1874, onde Nietzsche apresenta não um professor, mas o
modelo de mestre com características elevadas e expansivas. Enquanto em
Nietzsche despertara afinidade, Schopenhauer atacou com grande vigor o
pensamento de Hegel. Apontando certo partidarismo filosófico, Schopenhauer
enxergava certo interesse político à favor do Estado da Prússia presentes nas
formulações hegelianas.
Schopenhauer fora,
segundo escreve o próprio Sigmund Freud (1856 – 1939), o precursor do
pensamento que originou a criação da psicanálise. A preciosa formulação de
Wilfred Bion (1897-1979) a respeito de sermos ‘pensamentos em
busca de pensador’ nos faz sentido aqui.
Wilfred Bion (1897-1979) |
‘de um pensamento errante em busca de algum pensador para se alojar nele’ (Bion na Quarta Conferência de New York, de 1977/1992, pg.131).
Sigmund Freud (1856 – 1939) |
Sendo o ‘inconsciente’ o
conceito maior dentro da teoria psicanalítica, Freud reconhece Schopenhauer
como um mestre, assim como Nietzsche o fez. Buscando inspiração nas formulações
do “filósofo pessimista”, se farta de sua sinceridade no que diz respeito à
natureza humana. Considera as formulações de Schopenhauer como que um caminho
aberto para a criação do que hoje podemos chamar de psicanálise.
Sigmund Freud (1856 – 1939) |
A tentativa freudiana de levantar a importância da vida sexual em
tudo que se configura como realização humana também encontra um ponto de apoio
no pensamento de Schopenhauer. Empreitada complexa já que essa ideia na época
era veementemente combatida pela ciência e pela religião; não diferente, desde
sempre, desperta ainda hoje enorme resistência. Ainda assim, Schopenhauer traz
em obras como "O mundo como vontade e representação" (1819), e
"Parerga e Paralipomena" (1851), uma dolorida franqueza no reconhecimento
da realidade, sendo frequentemente citado por Freud em sua vasta obra.
Fortemente influenciado pelas escrituras védicas - textos sagrados
da Índia antiga - datadas de muito tempo antes de Cristo, Schopenhauer
introduziu o pensamento indiano assim como alguns conceitos budistas na
filosofia da metafísica alemã. Apesar de ter morrido aos 72 anos, em 1860, esse
importante pensador transcende qualquer noção de tempo ou época, nos oferecendo
um instrumento de reflexão muito adequado ao tempo contemporâneo. Contribui de
forma perene quando aproxima o pensamento filosófico da espiritualidade da
verdade transcendental. Pois que foi justamente no misticismo que encontrou
afeto necessário para a revelação da verdade que ausente de amor converte-se em
crueldade. Arthur Schopenhauer aborreceu a humanidade revelando um humano
confuso e iludido. Nisso antecipou-se em pouco menos de meio século à
psicanálise de Freud.
Immanuel Kant (1724 - 1804) |
Como única fonte de esperanças para nutrir e conduzir seu
trabalho, ele busca na espiritualidade a abertura para expansão. “Na expansão da consciência
Schopenhauer parece buscar em Platão e na cultura védica a serenidade que o
perturbava tanto no contato com as propostas de Kant.” (Martino, 2015). O pensamento de Immanuel Kant (1724 -
1804) é gerador de desconforto para Schopenhauer, mas que, no entanto, é também
aquilo que impulsiona suas reflexões rumo à expansão. As críticas ao real
conhecimento da qual bradava Kant é o lugar de onde Schopenhauer parte e vai
para além. Em suas formulações Kant distingue o “fenómeno” do “noumeno”. Sendo
que para ele “fenómeno” representa a realidade acessível ao nosso conhecimento
limitado, enquanto o “noumeno” é a “substância transcendental”, a “coisa-em-si”
que é incognoscível. O “noumeno” configura-se então para Kant como
limite da possibilidade de conhecimento.
No entanto Schopenhauer propõe uma expansão do pensamento e aquilo
que em Kant chamávamos de “fenómeno” revela-se como ilusão do que é a realidade
e não apenas uma visão parcial dessa realidade. Então, para Shopenhauer aquele
que observa apenas o fenômeno está iludido quanto à realidade dos fatos.
Seguindo esse mesmo vértice reflexivo, “noumeno” para Shopenhauer configura-se
na verdadeira realidade, independente da nossa vontade. Sendo que o “noumeno”
revela-se insuportável à percepção humana em sua plenitude.
Bem como no budismo, Schopenhauer também busca na cultura védica a
“União com o Todo”, na aproximação dos opostos, onde a vontade do humano não
importa. Para Schopenhauer estamos presos em ilusões, geradas pela vontade. Não
existindo assim, qualquer liberdade real, para aquele que está sujeito a sua
própria vontade, sendo que essa vontade é desconhecida dele próprio. Partindo
desse pressuposto Schopenhauer busca a Mahavakya, “grande sentença” que revela
a unidade da alma individual com o todo. Schopenhauer encontra nos Upanishads,
o conjunto da parte final de cada um dos quatro Vedas, o ensinamento filosófico
essencial.
Com isso a Suprema Personalidade de Deus propõe no capitulo da
Revelação da Verdade, o tema central da filosofia dos Vedas: a auto-realização
do homem pelo autoconhecimento (Martino, 2015). No entanto, o humano faz tudo
por sua vontade, chegando a mentir pra si mesmo por isso, mesmo que Krishna nos
oriente que “quem a tudo renuncia, jubiloso, alcança, já agora, a mais alta paz
do espírito; mas quem espera vantagem das suas obras é escravizado por seus
desejos”. Assim como para o devoto de Krishna, também para Schopenhauer, o
mundo dos fenómenos (a aparência, a ilusão) é sinónimo de sofrimento e dor.
Logo, a supressão da vontade é o único e verdadeiro acto de liberdade.
O Eros de Freud
representado no desejo mais primitivo e gerador do maior medo. Isso faz a
satisfação sexual, em si mesma uma experiência narcisista. Para Schopenhauer o mundo configura-se conforme a vontade.
Vontade continua que nunca é satisfeita sendo então geradora de um eterno
sentimento de insatisfação.
Prof. Renato Dias Martino Psicoterapeuta e Escritor renatodiasmartino@hotmail.com pensar-seasi-mesmo.blogspot.com.br/ |
2 comentários:
Muito esclarecedor o paralelo do filósofo com o psicanalista e a correlação do primeiro com os Vedas.
Agradeço muito querida Prof. Lígia!
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