Gisele Bortoleto
Fernandes: Nos dias de hoje, muita gente tem pavor do que é inseguro ou
arriscado, mas é impossível requerer segurança eterna. Como se manter num mundo
de relacionamentos líquidos, voláteis, sejam amorosos ou profissionais, que
estão ótimos e seguros num dia e no outro, não mais? O que precisamos fazer?
Prof. Renato Dias
Martino: O medo da insegurança é justamente o que esclarece essa indagação, já
que nada é mais certo do que estar sozinho. Enquanto o outro pode me abandonar,
o eu sempre estará lá. O narcisista é aquele que não tolera conviver com
incertezas e as relações são naturalmente incertas, pois dependem de duas
partes distintas, duas almas, dois corpos que desejam coisas
diferentes. Portanto, o sujeito narcisista se envolve de maneira superficial
pois assim se solta com muita facilidade frente a primeira dificuldade que
ocorra. Por mais que exista um mundo que funcione deste modo, ainda assim,
quando o que buscamos são vínculos saudáveis e duradouros (mesmo que sejam raros),
não nos convenceremos com superficialidades, ainda que pareçam atraentes e
prazerosas.
Gisele Bortoleto
Fernandes: Como adquirir a força interna que permita que os relacionamentos (de
todo o tipo) durem mais tempo, sem se acabar de uma hora para a outra?
Prof. Renato Dias
Martino: Na realidade, não seria uma força, mas uma capacidade de tolerar
frustrações. Quando não é capaz de tolerar frustrações, o sujeito se torna
mais suscetível à se envolver em relações superficiais e sem conteúdo.
Gisele Bortoleto
Fernandes: Como podemos manter a estabilidade nessa instabilidade e fazer com
que as relações não sejam tão voláteis?
Prof. Renato Dias
Martino: Alguém que busca estabilidade deve também oferecê-la. De tal modo, é
necessário envolver-se apenas com alguém que também busque isso. Alguém
que tenham o mínimo de capacidade
emocional amadurecida. E isso não é de forma alguma difícil de se reconhecer
naquele que se aproxima. O que realmente acontece é que, muitas vezes o sujeito
intolerante acaba por ignorar sinais muito claros da incapacidade do outro, se
envolvendo mesmo assim.
Gisele Bortoleto
Fernandes: O que faz com que essas relações sejam tão voláteis nos dias de
hoje?
Prof. Renato Dias
Martino:
Dificilmente as crianças têm sido cuidadas pelos pais. Quando não são
deixadas com poucos meses de idade o dia todo em creches ou escolinhas, estão
sendo cuidadas por babás. Isso representa no desenvolvimento dessa criança, uma
relação de descompromisso, já que essa criança não é capaz de entender o que
pode ter maior importância para sua mãe do que estar perto dele.
O maior prejuízo está
na formação de um ciclo mórbido, que se retroalimenta. Vão se formando filhos
inseguros de si mesmo, se transformando em adultos muito pouco capazes de amar,
que proliferarão esse modelo de incapacidade. Do cuidado dedicado com os bebês
depende o destino da humanidade. A paz que um dia partiu do colo tranquilo,
daquela que cuidou com zelo, estabeleceu a serenidade interior daquele que hoje
estende essa paz ao mundo.
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-991910375
prof.renatodiasmartino@gmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/
Um comentário:
Muito lindo professor Renato , parabéns
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