O que chamamos de personalidade parece ser o resultado de disposições inatas, mas fundamentalmente das configurações de relacionamentos estabelecidos. Nascemos com características peculiares, no entanto também vamos sofrendo influências que irão acentuando ou minimizando esses atributos. Quando Wilfred Bion (1897 – 1979) nos orienta sobre o fato de que "O pensar passa a existir para dar conta dos pensamentos." (BION, 1962), ele nos sugere que antes mesmo de o pensador ter nascido já havia um pensamento que o precedeu.
Quando nasce um bebê, de certa forma, já tem como incumbência suprir certas expectativas, que já existiam antes de seu nascimento. Portanto, fica claro que mesmo antes de o sujeito nascer, as configurações vinculares já definiam certas características de sua personalidade. Os vínculos significativos, que definem traços fundamentais na estruturação da personalidade, também continuam influenciando a configuração do funcionamento do sujeito. Por essa perspectiva a frase de nossas avós parece ganhar um grande sentido quando propõe: “diga com quem andas e eu te direi quem tu és.”.
Wilfred Bion (1897 – 1979) |
Quando nasce um bebê, de certa forma, já tem como incumbência suprir certas expectativas, que já existiam antes de seu nascimento. Portanto, fica claro que mesmo antes de o sujeito nascer, as configurações vinculares já definiam certas características de sua personalidade. Os vínculos significativos, que definem traços fundamentais na estruturação da personalidade, também continuam influenciando a configuração do funcionamento do sujeito. Por essa perspectiva a frase de nossas avós parece ganhar um grande sentido quando propõe: “diga com quem andas e eu te direi quem tu és.”.
As relações influenciam na maneira como funcionamos, tanto de forma saudável quanto de maneira nociva. Uma vinculação saudável pode propiciar a expansão do pensar e com isso um bom desenvolvimento da personalidade. Por outro lado, um vínculo nocivo pode obstruir a ampliação do pensamento dificultando o desenvolvimento da maturidade emocional e consequentemente prejudicando a estruturação da personalidade. Isso deve ser tão comprometedor quanto mais tenra for a idade do sujeito em desenvolvimento.
Sendo de uma maneira ou de outra, essa influência deve ocorrer essencialmente através de modelos. Quando somos amados com sinceridade, por exemplo, aprendemos a amar a nós mesmos e com isso nos qualificamos para amar o próximo. No entanto, enquanto a influência que combina amor e sinceridade é poderosa, proporcionando a expansão e o desenvolvimento, a influência que esteja permeada de ódio tem consequências desastrosas. Alguém mentalmente comprometido pode ameaçar a saúde mental daquele que se encontra intimamente ligado. A desorganização na mente de um desorganiza a mente do outro.
Sigmund Freud (1856 – 1939) alertou com propriedade sobre o que denominou “lucro secundário” nos pacientes. Para Freud lucro secundário consiste no benefício em continuar doente, ou ainda, as vantagens em sustentar uma suposta doença. Freud percebeu em inúmeros casos que o paciente percebera uma vantagem em continuar doente “e raramente deixa de haver ocasiões em que se comprova que a doença, repetidas vezes, se torna útil e adequada, e adquire, por assim dizer, uma função secundária que reforça novamente sua estabilidade.”. (Freud, 1917).
Enquanto o ganho primário estaria na possibilidade de descarga da libido reprimida, geradora de enorme desconforto e que é aliviado a cada manifestação do sintoma, numa ‘a fuga para a doença’, o beneficio secundário se encontraria nas vantagens sociais e emocionais adquiridas pelo paciente em função de sua suposta doença que perduram mesmo depois das causas terem sido amenizadas, ou mesmo dissolvidas. “Eles se queixam da doença, mas a exploram com todas as suas forças; e se alguém tenta afastá-la deles, defendem-na como a proverbial leoa com seus filhotes.” (Freud em A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA, 1926).
No entanto, não é só o paciente que deve lucrar com o estado de sua enfermidade, mas aquele que convive com ele também pode ter um benefício nisso. Muitas vezes, aquele que se relaciona com um sujeito adoecido ou mesmo fragilizado, seja fisicamente ou emocionalmente, pode encontrar uma forma de se beneficiar dessa situação. Amiúde, o diagnóstico dado a uma pessoa é muito conveniente também a aquele que com ela está vinculado, trazendo certos benefícios ocultos. Esse benefício pode ser desde ordem financeira, até no âmbito emocional. A isso poderíamos chamar de “ganho terciário”. Isso pode se estender para além das patologias, mas deve também ser aplicável às características mais amplas de cada sujeito.
Manter-se vinculado a alguém emocionalmente imaturo, por exemplo, pode trazer ao sujeito a impressão de ser muito amadurecido. Assim como, manter-se numa relação com alguém fracassado pode trazer a ilusão ao sujeito, de ser bem sucedido. Nessa relação parasitária, o sujeito que se sente inferior obviamente também tem o ganho de se manter num estado confortável de comodismo.
O fato de o sujeito se impor frente ao outro, infligindo uma forma dominadora de ser, não é um sinal de saúde emocional. Por mais que muitas vezes a arrogância seja idealizada por dar ares de superioridade, por detrás de um prepotente existe sempre um grande inseguro de si mesmo.
Muitas vezes o sujeito demonstra uma suposta habilidade em comandar o outro, no entanto, mal consegue conduzir a si mesmo. Dessa maneira, muitas vezes o sujeito mais comprometido com incapacidades emocionais pode se esconder atrás de uma suposta sensatez, que na realidade é amparada por arrogância, dissimulando sua insegurança com prepotência. Esse sujeito dificilmente busca ajuda, até porque não acredita precisar. Muitas vezes aquele que busca psicoterapia é justamente o sujeito emocionalmente mais saudável da família.
Quando é possível se realizar um bom trabalho no processo psicoterapêutico, o resultado se expande para além do próprio paciente. Para tanto, é fundamental que exista o encontro entre um sujeito que é capaz de perceber sua necessidade de ajuda e um psicoterapeuta que possa contar com um bom nível de maturidade emocional para acolhe-lo.
Uma psicoterapia bem sucedida não favorece exclusivamente o paciente, mas também a aqueles que com ele se relacionam.
BION, W. R. [1962]. “Uma teoria sobre o pensar.” In:
BION, W. R. Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
p.127- 137.
Freud. S. O TEORIA GERAL DAS NEUROSES, ESTADO
NEURÓTICO COMUM, CONFERÊNCIA XXIV, PARTE III. (1917 [1916-17]),Obras Completas,
Vol. XVI.
____. A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA: CONVERSAÇÕES COM
UMA PESSOA IMPARCIAL (1926), Obras Completas, Vol. XX.
P
Prof. Renato Dias Martino
4 comentários:
Perfeito grande Mestre!!
Cleide Menezes
Excelente conclusão: Quando é possível se realizar um bom trabalho no processo psicoterapêutico, o resultado se expande para além do próprio paciente. Para tanto, é fundamental que exista o encontro entre um sujeito que é capaz de perceber sua necessidade de ajuda e um psicoterapeuta que possa contar com um bom nível de maturidade emocional para acolhe-lo. (pensar-se-a-si-mesmo). Vale compartilhar! Abs,
Perfeito! Algumas pessoas preferem o ganho secundário à ser responsaveis por si.
Gratidão professor Renato , riquíssima contribuição.🙏
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