O LIMITE DO AMOR
Lá, no SOBRE O NARCISISMO UMA INTRODUÇÃO, o Freud fala sobre o que ele chamou de amor feliz. Eu tenho uma restrição quanto à ideia de feliz. Eu, mais adequadamente, colocaria: o amor real, ou um amor bem-sucedido. Mas, de qualquer forma, o Freud coloca lá que, para que possa ser chamado de amor feliz, a libido do ego precisa coincidir com a libido objetal, ou seja, o quanto o sujeito ama a si mesmo precisa coincidir com o quanto ele ama o outro. Todas as vezes que um uma tendência de interesse sobressair a outra, vai haver uma falta correlacionada. Se eu amar mais o outro do que a mim mesmo, eu não posso chamar isso de amor e se eu amar a mim mesmo mais do que ao outro, tanto quanto. E aí, a gente vai resgatar lá, a formulação religiosa com os dois mandamentos de Jesus Cristo. “Ama a Deus sobre todas as coisas e ama o outro como a ti mesmo”. E aí, é interessante, vale lembrar que, quando a gente lê na Bíblia, “mandamento”, isso não quer dizer que Jesus está mandando você fazer isso. Jesus está mostrando uma regra. Jesus está mostrando uma lei. Jesus está mostrando ali, um princípio. Então, ele está dizendo assim: “não há como amar o outro além do que você ama a si mesmo”. Não tem como. E antes de amar a si mesmo, você precisa estar amando a Deus. Amando a realidade, amando o todo. Porque, senão, isso que você tem com você não é amor, muito menos aquilo que você tem com o outro.
O OUTRO COMO AMBIENTE
O Winnicott traz o conceito de mãe ambiente. Para o Winnicott, é importante que a mãe seja capaz de, antes de ser uma outra pessoa na vida do bebê, que ela possa ser o ambiente do bebê. Como uma extensão do que o útero foi para o bebê. Então, a mãe é o ambiente do bebê que cuida de toda a psicosfera, por assim dizer, para que ele possa se integrar ao todo. Depois que ele se integrou ao todo, ele está capacitado a reconhecê-la como uma outra pessoa e não simplesmente como o ambiente saudável que o circunda.
O INDIVÍDUO OU A ESPÉCIE
O ser humano tem essa coisa do indivíduo, do individual, do individualismo. Ele tende, a todo custo preservar a si próprio. O seu desejo, aquilo que ele quer, mas a natureza não está nem aí para o indivíduo. A natureza não está nem aí para o sujeito. A natureza está aí para espécie. Schopenhauer já chamou atenção sobre isso. A natureza tem interesse que a espécie prolifere. Uma formiga não tem a menor importância, o que tem importância é o formigueiro. Ou você está de acordo com o formigueiro, ou você não tem a menor relevância para a natureza. E o ser humano é extremamente incapaz de estar de acordo com o todo, com a natureza. Ele quer saber dele próprio, do umbigo dele e ele, ele, ele, ele e nada mais.
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