DESEJO
E NECESSIDADE
O teu
desejo te afasta da tua verdade. O teu desejo te afasta de você mesmo. Quanto
mais você tiver focado no seu desejo, menos você está sendo capaz de estar
sendo você mesmo. Porque, para estar sendo você mesmo, você precisa estar de
acordo com as suas necessidades. Na maioria das vezes, o sujeito está tão
encantado com a ilusão do desejo, que ele não consegue suprir as suas
necessidades básicas. Ele gasta dinheiro com viagem não paga um plano de saúde
quando precisa de um médico vai lá disputar com pessoas carentes lá no serviço
público e quando ele volta da viagem, ele olha para aquilo e fala: “E aí? Para
que que serviu essa viagem?” “Ah! Para recordações!” Mas você pode viver
recordações na sala da sua casa. Se você estiver de bem com você mesmo, você
pode viver recordações belíssimas no jardim da sua casa.
SOFRE
OU PADECER
Sofrer
é diferente de padecer. Padecer é simplesmente sentir a dor e sofrer é ser
capaz de submeter essa dor a uma transformação. Sofrer o processo! Podemos
afirmar que o sujeito que é capaz de renunciar aos seus desejos ele está muito
mais de acordo com a realidade e padece menos. Padece menos, mas não sofre
menos, porque sofrer diz respeito ao processo e todos aqueles que estão vivos
estão sofrendo. só não sofre aquele que morreu!
AMOR
OU SEXO
Esse é
um tema extremamente polêmico, porque nós aprendemos desde pequenininho que
praticar o sexo com o outro é fazer amor. No entanto, uma coisa não tem nada a
ver com a outra. Desejo sexual não é amor. O desejo sexual é um desejo de se
satisfazer com o corpo do outro, amor é justamente a capacidade de adiar a sua
satisfação pelo outro. Uma coisa é o avesso da outra. O sexo precisa ser de comum acordo dos dois.
O sexo saudável é aquele que acontece quando os dois estão disponíveis, naquele
momento. Esse negócio de que precisa haver sexo, tem que ter sexo, é uma
conversa fiada. Não tem que ter sexo. O sexo tem que acontecer quando houver a
sintonia das duas pessoas e aquilo acontecer como uma brincadeira. É muito mais
um entrosamento dos dois, do que um desejo. O sujeito que é maduro
emocionalmente, ele é capaz de adiar a sua vontade sexual, porque ele percebe
que o outro não está disponível. Ele é capaz de renunciar ao seu desejo sexual
por conta do outro. Porque desejo sexual é uma coisa, vontade de sexo é outra.
Desejo sexual diz respeito a alguma coisa que vai para além da satisfação
sexual. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Você tem vontade sexual e
isso é fisiológico e você precisa do sexo para suprir esta vontade. Agora, o
desejo sexual é outra coisa. O desejo sexual diz respeito a um biotipo
específico, o desejo sexual diz respeito a “eu desejo ser desejada pelo meu
companheiro”. Isso não tem nada a ver com satisfação sexual, dentro do âmbito
da necessidade. Então, o desejo sexual é nocivo, a vontade de sexo é saudável.
RENÚNCIA
OU REPRESSÃO
O
pressuposto para a renúncia é a responsabilização. Aquele que não se
responsabilizou por alguma coisa, não é capaz de renunciar a esta coisa. Ele só
passa a ser capaz de renunciar a alguma coisa a partir do momento que ele
reconhece aquilo, que ele passa a respeitar a si mesmo em relação à aquilo e
passa se responsabilizar por aquilo. Aí ele pode realmente renunciar a isso.
senão, não é renúncia. Senão, é repressão. Se não ficou escondido.
RENÚNCIA
DO ÉDIPO
Eu vou
te dar um exemplo básico. Vamos pensar no exemplo edípico, assim como Freud nos
trouxe. A criança deseja ter a mãe só para ela, então, ela percebe que ela
deseja a mãe só para ela. Consequentemente, inclui o desejo de excluir o pai.
Ele passa a reconhecer que realmente esse desejo existe, passa a respeitar a si
mesmo por conta daquilo. Porque, muitas vezes, quando o sujeito reconhece isso
ele passa não respeitar isso. E aí, ou ele pode abortar o processo, ou ele pode
ali, desenvolver uma perversão e realmente pegar a mãe para ele e matar o pai.
E aí, a partir desse respeito, ele passa a se responsabilizar por aquilo. “Não,
realmente isso acontece comigo, eu me responsabilizo por isso.” A partir daí,
ele é capaz de renunciar a isso, ou seja, sem julgamento. Eu passo a
reconhecer, eu passo a respeitar e me responsabilizar, porque não me julguei,
por conta disso. Porque, se eu me julgar por conta disso, o que que vai
acontecer? Ou, eu vou me condenar, me sentir inferiorizado, ou eu vou condenar
o outro, projetando esse desejo no outro e inferiorizando o outro. “Ou” e “e”.
Pode acontecer uma coisa e outra. Se ele não reconhece, não respeita e não se
responsabiliza, o que ele pode fazer é reprimir isso e reprimindo isso, ele vai
desenvolver um modelo substitutivo para isso. Ou seja, ele vai levar isso vida
fora, desdobrando em outras relações, com outras coisas, que vão repetir este
mesmo modelo.
DEVERIA
SER OU ESTAR SENDO
Nós
psicanalistas, temos o hábito de condenar o superego. Nós temos uma propensão
automática de perceber um sujeito que tem ali, uma conduta de um ideal de eu,
daquilo que ele deveria ser e nós atribuímos isso a um superego rígido. E nós
não estamos equivocados, no entanto, a gente precisa olhar sempre para além
daquilo e quando a gente fala de um superego rígido, antes de um superego
rígido, nós temos um ego desnutrido, um ego desacreditado. Eu costumo dizer que
o ego é aquilo que eu estou sendo. E na medida que eu consigo reconhecer,
respeitar e me responsabilizar por aquilo que eu estou sendo, eu confio naquilo
que eu estou sendo, logo eu tenho muito pouco que me importar com aquilo que eu
deveria ser, que é o superego. O sujeito, quando ele está desnutrido naquilo
que ele está sendo, num recurso natural e importante, o superego vai se
enrijecer. Ele precisa que o superego se enrijece, ele precisa que o superego
seja firme. Porque ele não está confiando naquilo que ele está sendo e ele
passa a confiar naquilo que ele deveria ser, no ideal de eu, no superego e não
no ego. Todas as vezes que a gente olhar para um superego rígido, nós
precisamos olhar para além desse superego rígido, porque atrás desse superego
rígido, tem um ego desnutrido, desacreditado. Um sujeito que desconfia daquilo
que ele está sendo. Tudo aquilo que ele está sendo, tudo aquilo que ele está
fazendo, passa por um crivo de desconfiança e esta desconfiança dá na mão do
superego o controle da vida dele.
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