terça-feira, 8 de abril de 2025

DESEJO E SOFIMENTO - Prof. Renato Dias Martino


DESEJO E NECESSIDADE

 

O teu desejo te afasta da tua verdade. O teu desejo te afasta de você mesmo. Quanto mais você tiver focado no seu desejo, menos você está sendo capaz de estar sendo você mesmo. Porque, para estar sendo você mesmo, você precisa estar de acordo com as suas necessidades. Na maioria das vezes, o sujeito está tão encantado com a ilusão do desejo, que ele não consegue suprir as suas necessidades básicas. Ele gasta dinheiro com viagem não paga um plano de saúde quando precisa de um médico vai lá disputar com pessoas carentes lá no serviço público e quando ele volta da viagem, ele olha para aquilo e fala: “E aí? Para que que serviu essa viagem?” “Ah! Para recordações!” Mas você pode viver recordações na sala da sua casa. Se você estiver de bem com você mesmo, você pode viver recordações belíssimas no jardim da sua casa.

 

SOFRE OU PADECER

 

Sofrer é diferente de padecer. Padecer é simplesmente sentir a dor e sofrer é ser capaz de submeter essa dor a uma transformação. Sofrer o processo! Podemos afirmar que o sujeito que é capaz de renunciar aos seus desejos ele está muito mais de acordo com a realidade e padece menos. Padece menos, mas não sofre menos, porque sofrer diz respeito ao processo e todos aqueles que estão vivos estão sofrendo. só não sofre aquele que morreu!

 

AMOR OU SEXO

 

Esse é um tema extremamente polêmico, porque nós aprendemos desde pequenininho que praticar o sexo com o outro é fazer amor. No entanto, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Desejo sexual não é amor. O desejo sexual é um desejo de se satisfazer com o corpo do outro, amor é justamente a capacidade de adiar a sua satisfação pelo outro. Uma coisa é o avesso da outra.  O sexo precisa ser de comum acordo dos dois. O sexo saudável é aquele que acontece quando os dois estão disponíveis, naquele momento. Esse negócio de que precisa haver sexo, tem que ter sexo, é uma conversa fiada. Não tem que ter sexo. O sexo tem que acontecer quando houver a sintonia das duas pessoas e aquilo acontecer como uma brincadeira. É muito mais um entrosamento dos dois, do que um desejo. O sujeito que é maduro emocionalmente, ele é capaz de adiar a sua vontade sexual, porque ele percebe que o outro não está disponível. Ele é capaz de renunciar ao seu desejo sexual por conta do outro. Porque desejo sexual é uma coisa, vontade de sexo é outra. Desejo sexual diz respeito a alguma coisa que vai para além da satisfação sexual. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Você tem vontade sexual e isso é fisiológico e você precisa do sexo para suprir esta vontade. Agora, o desejo sexual é outra coisa. O desejo sexual diz respeito a um biotipo específico, o desejo sexual diz respeito a “eu desejo ser desejada pelo meu companheiro”. Isso não tem nada a ver com satisfação sexual, dentro do âmbito da necessidade. Então, o desejo sexual é nocivo, a vontade de sexo é saudável.

 

RENÚNCIA OU REPRESSÃO

 

O pressuposto para a renúncia é a responsabilização. Aquele que não se responsabilizou por alguma coisa, não é capaz de renunciar a esta coisa. Ele só passa a ser capaz de renunciar a alguma coisa a partir do momento que ele reconhece aquilo, que ele passa a respeitar a si mesmo em relação à aquilo e passa se responsabilizar por aquilo. Aí ele pode realmente renunciar a isso. senão, não é renúncia. Senão, é repressão. Se não ficou escondido.

 

RENÚNCIA DO ÉDIPO

 

Eu vou te dar um exemplo básico. Vamos pensar no exemplo edípico, assim como Freud nos trouxe. A criança deseja ter a mãe só para ela, então, ela percebe que ela deseja a mãe só para ela. Consequentemente, inclui o desejo de excluir o pai. Ele passa a reconhecer que realmente esse desejo existe, passa a respeitar a si mesmo por conta daquilo. Porque, muitas vezes, quando o sujeito reconhece isso ele passa não respeitar isso. E aí, ou ele pode abortar o processo, ou ele pode ali, desenvolver uma perversão e realmente pegar a mãe para ele e matar o pai. E aí, a partir desse respeito, ele passa a se responsabilizar por aquilo. “Não, realmente isso acontece comigo, eu me responsabilizo por isso.” A partir daí, ele é capaz de renunciar a isso, ou seja, sem julgamento. Eu passo a reconhecer, eu passo a respeitar e me responsabilizar, porque não me julguei, por conta disso. Porque, se eu me julgar por conta disso, o que que vai acontecer? Ou, eu vou me condenar, me sentir inferiorizado, ou eu vou condenar o outro, projetando esse desejo no outro e inferiorizando o outro. “Ou” e “e”. Pode acontecer uma coisa e outra. Se ele não reconhece, não respeita e não se responsabiliza, o que ele pode fazer é reprimir isso e reprimindo isso, ele vai desenvolver um modelo substitutivo para isso. Ou seja, ele vai levar isso vida fora, desdobrando em outras relações, com outras coisas, que vão repetir este mesmo modelo.

 

DEVERIA SER OU ESTAR SENDO

 

Nós psicanalistas, temos o hábito de condenar o superego. Nós temos uma propensão automática de perceber um sujeito que tem ali, uma conduta de um ideal de eu, daquilo que ele deveria ser e nós atribuímos isso a um superego rígido. E nós não estamos equivocados, no entanto, a gente precisa olhar sempre para além daquilo e quando a gente fala de um superego rígido, antes de um superego rígido, nós temos um ego desnutrido, um ego desacreditado. Eu costumo dizer que o ego é aquilo que eu estou sendo. E na medida que eu consigo reconhecer, respeitar e me responsabilizar por aquilo que eu estou sendo, eu confio naquilo que eu estou sendo, logo eu tenho muito pouco que me importar com aquilo que eu deveria ser, que é o superego. O sujeito, quando ele está desnutrido naquilo que ele está sendo, num recurso natural e importante, o superego vai se enrijecer. Ele precisa que o superego se enrijece, ele precisa que o superego seja firme. Porque ele não está confiando naquilo que ele está sendo e ele passa a confiar naquilo que ele deveria ser, no ideal de eu, no superego e não no ego. Todas as vezes que a gente olhar para um superego rígido, nós precisamos olhar para além desse superego rígido, porque atrás desse superego rígido, tem um ego desnutrido, desacreditado. Um sujeito que desconfia daquilo que ele está sendo. Tudo aquilo que ele está sendo, tudo aquilo que ele está fazendo, passa por um crivo de desconfiança e esta desconfiança dá na mão do superego o controle da vida dele.








Prof. Renato Dias Martino


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