A boa alma sempre se mantém sob as dimensões da verdade e do amor. Sempre disponível, é capaz de sentir compaixão pela dor alheia, de entender as necessidades do outro e tentar supri-las de alguma forma, dentro de seus próprios limites. Porém, o excesso de amor ao próximo muitas vezes disfarça um paradoxo: a dificuldade de lidar com os próprios problemas.
Problemas dos outros
Francine Moreno
Problemas dos outros
Francine Moreno
- A boa alma sempre se mantém sob as dimensões da verdade e do amor. Sempre disponível, é capaz de sentir compaixão pela dor alheia, de entender as necessidades do outro e tentar supri-las de alguma forma, dentro de seus próprios limites. Porém, o excesso de amor ao próximo muitas vezes disfarça um paradoxo: a dificuldade de lidar com os próprios problemas.
Longe de ser um sinal de santidade, pode ser entendida como uma negação das dificuldades pessoais e um desejo exagerado de agradar e chamar a atenção sobre si. “Essa pessoa costuma se perder por não saber lidar com sua própria angústia. O modelo é o da onipotência narcísica, que passa para o outro uma impressão de ideal de maturidade, mas que na realidade é incapaz de perceber as emoções em si mesmo, tornando- se assim dependente do outro para viver seus medos e paixões”, afirma o professor e psicoterapeuta Renato Dias Martino.
Tanto altruísmo também funciona, em alguns casos, como uma estratégia de defesa ou conquista de espaço em ambientes competitivos. “Como todos nós desejamos ser amados, adotar o papel de “bonzinho” de certa forma garante que os outros nos admirem”, afirma a psicoterapeuta Yara Monachesi. O problema é que muitas vezes isso implica não saber dizer não, ter dificuldades em colocar limites, ou deixar-se absorver de tal forma pelas dificuldades alheias que não sobra energia ou tempo para pensar e resolver a própria vida.Seja como for o processo em comum, é inconsciente. Essa extrema dedicação pode também ser uma forma de compensar a autoestima. Há também uma falta de maturidade. “Muitas vezes o desejo de agradar e de fazer-se presente em situações difíceis para o outro é tão grande que a pessoa passa a ser inoportuna, inconveniente, como aquele que telefona diversas vezes no mesmo dia para saber se a enxaqueca da melhor amiga melhorou”, explica Yara Monachesi. Por outro lado, não admitir as próprias dificuldades pode significar que o que está em vigor é o modelo super-mulher ou super-homem, que dá conta de tudo e não precisa de ninguém, o que é impossível. “Para que haja um equilíbrio entre as duas forças, cuidar do outro quando ele de fato necessita e quando nossa ação pode ser eficaz, e cuidar de nós mesmos e deixar que outros nos cuidem quando necessitamos exige muita clareza quanto ao que podemos oferecer e ao que podemos receber”, afirma Yara.Olhar de frente um mecanismo de autoconhecimento e procurar amparo é a ação mais conveniente para renunciar ao comportamento de tratar do outro para não perceber a si mesmo. Nos casos mais extremados, em que o cuidador não consegue interromper esse ciclo e abre mão de suas necessidades básicas e fundamentais para dedicar-se ao outro, é indicada uma psicoterapia que lhe permita redefinir as prioridades e fortalecer-se para poder ter maior clareza quanto aos próprios limites, preservando seu espaço vital.
Professor Martino usa como exemplo o mito de Narciso, que não podia conhecer-se, pois sua origem era extremamente dolorosa, era fruto de um estupro. “Assim, toda tentativa de autoconhecimento é sempre repleta de desconfortos emocionais. Por isso, o psicanalista naturalizado inglês Wilfred Bion, propõe, baseado no filósofo alemão Kant, que a verdade deve ser apresentada sempre com amor, do contrário é crueldade. Desse modo, a procura é de um ambiente que possa contar com muito afeto para que se possa arriscar na dura tarefa do autoconhecimento.”
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/
Longe de ser um sinal de santidade, pode ser entendida como uma negação das dificuldades pessoais e um desejo exagerado de agradar e chamar a atenção sobre si. “Essa pessoa costuma se perder por não saber lidar com sua própria angústia. O modelo é o da onipotência narcísica, que passa para o outro uma impressão de ideal de maturidade, mas que na realidade é incapaz de perceber as emoções em si mesmo, tornando- se assim dependente do outro para viver seus medos e paixões”, afirma o professor e psicoterapeuta Renato Dias Martino.
Tanto altruísmo também funciona, em alguns casos, como uma estratégia de defesa ou conquista de espaço em ambientes competitivos. “Como todos nós desejamos ser amados, adotar o papel de “bonzinho” de certa forma garante que os outros nos admirem”, afirma a psicoterapeuta Yara Monachesi. O problema é que muitas vezes isso implica não saber dizer não, ter dificuldades em colocar limites, ou deixar-se absorver de tal forma pelas dificuldades alheias que não sobra energia ou tempo para pensar e resolver a própria vida.Seja como for o processo em comum, é inconsciente. Essa extrema dedicação pode também ser uma forma de compensar a autoestima. Há também uma falta de maturidade. “Muitas vezes o desejo de agradar e de fazer-se presente em situações difíceis para o outro é tão grande que a pessoa passa a ser inoportuna, inconveniente, como aquele que telefona diversas vezes no mesmo dia para saber se a enxaqueca da melhor amiga melhorou”, explica Yara Monachesi. Por outro lado, não admitir as próprias dificuldades pode significar que o que está em vigor é o modelo super-mulher ou super-homem, que dá conta de tudo e não precisa de ninguém, o que é impossível. “Para que haja um equilíbrio entre as duas forças, cuidar do outro quando ele de fato necessita e quando nossa ação pode ser eficaz, e cuidar de nós mesmos e deixar que outros nos cuidem quando necessitamos exige muita clareza quanto ao que podemos oferecer e ao que podemos receber”, afirma Yara.Olhar de frente um mecanismo de autoconhecimento e procurar amparo é a ação mais conveniente para renunciar ao comportamento de tratar do outro para não perceber a si mesmo. Nos casos mais extremados, em que o cuidador não consegue interromper esse ciclo e abre mão de suas necessidades básicas e fundamentais para dedicar-se ao outro, é indicada uma psicoterapia que lhe permita redefinir as prioridades e fortalecer-se para poder ter maior clareza quanto aos próprios limites, preservando seu espaço vital.
Professor Martino usa como exemplo o mito de Narciso, que não podia conhecer-se, pois sua origem era extremamente dolorosa, era fruto de um estupro. “Assim, toda tentativa de autoconhecimento é sempre repleta de desconfortos emocionais. Por isso, o psicanalista naturalizado inglês Wilfred Bion, propõe, baseado no filósofo alemão Kant, que a verdade deve ser apresentada sempre com amor, do contrário é crueldade. Desse modo, a procura é de um ambiente que possa contar com muito afeto para que se possa arriscar na dura tarefa do autoconhecimento.”
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/
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