quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pedofilia


Um termo que há muito pouco tempo era desconhecido da população. Muitas edições de dicionários da língua portuguesa sequer trazem essa expressão. Só nos últimos tempos é que nos vemos esbarrando nessa palavra com certa freqüência. Na verdade estamos sendo inundados por uma enxurrada de pedófilos que são despejados dentro de nossos lares todos os dias pelos meios de comunicação. Esse texto não pretende ser simplesmente parte desse fluxo, muitas vezes desordenado e repetitivo. Cheio de ódio (com razão) que muitas vezes impede uma visão mais realista e em troca seguimos um caminho onde a vingança é o objetivo.
Apesar disso, a proposta aqui é pensarmos mais atentamente no que é pedofilia e avaliarmos se algo pode ser transformado a respeito da idéia que se tem sobre o aumento considerável de incidência de casos dessa ordem. Abrindo assim novas possibilidades de focar o assunto e talvez percebermos melhor onde realmente se encontra a emergência.
Bem, ao que me parece, os casos de pedofilia têm sempre alguns aspectos que pela coincidência se tornam invariantes de caso para caso.
E é justamente daí que partiremos. Quero dizer que existem sempre características em comum aos casos de pedofilia divulgados pela mídia. Talvez nesse ponto esteja um sinal daquilo que tem que ser cuidado mais atidamente. Dificuldade de punir as pessoas envolvidas na rede, sobretudo as que fazem parte de dois grupos em particular. Em primeiro lugar os mais abastados financeiramente e em segundo, aqueles que na realidade deveriam estar cuidando da criança. Falo de casos onde a própria mãe é quem leva o filho para as mãos do ‘lobo’.



Na realidade o que se percebe é que a ânsia por punir o agressor acaba por desfocar a real origem do problema. Até onde pude verificar em minha breve pesquisa, quase que a totalidade dos casos traz o aspecto ‘desestrutura familiar’ como invariante. Falo que existe no histórico de vida de cada criança abusada, enorme incapacidade de contenção familiar. Lares sem qualquer condição de gerar um bom funcionamento emocional, que é o que vai permitir uma possibilidade de reconhecimento da realidade e de mundo.
Sendo assim surge a questão, "quanto se investe na investigação e punição e a contra ponto, quanto se investe na prevenção do problema no que diz respeito ao preparo efetivo das famílias? "Percebo que a tarefa de prenderem os ‘lobos’ tem tido maior intensidade do que a busca por proteger os ‘cordeiros’. Então, vamos construir jaulas e mais jaulas, pois eles não vão parar de aparecer tão cedo. O que estou tentando colocar é que, por mais que pareça desinteressante aos olhos dos que cheios de ódio só pensam em se vingar, ainda assim, no histórico da vida de cada pedófilo, existem experiências muito semelhantes às das crianças que agora ele abusa. A cogitação é sobre algo que se prolifera num ciclo de geração para geração.



Na família é onde conseguiremos os modelos que nos guiarão por nossa vida a fora. Quando o lar é um ambiente tranquilo e acolhedor, o risco de se cair no colo do ‘lobo’ fica sempre menor . Se isso procede como verdade, e se o intuito é realmente ir de encontro com o real problema, o foco principal é na família. Reestruturação dessa instituição chamada família, que em minha avaliação, passa por um momento sem precedentes. Ao se renunciar um modelo tido como antiquado, ou atrasado, entrou-se num processo de severa degradação.

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

2 comentários:

Jacqueline Ferreira disse...

Cada vez vemos mais casos na mídia sobre pedofilia, abuso e violência sexual contra crianças, cada vez mais chocante.
Acredito não é que os casos estejam aumentando, mas sim porque agora tudo é notícia, e é preciso que se torne público realmente para que seja tomada providência em todos os níveis possíveis.
Concordo plenamente com a sua fala ao dizer que repetimos o que foi vivido por nós. O sujeito que é violento aprendeu ser violento sofrendo violência.
Penso que geralmente não existe uma consciência autocrítica para nossos comportamentos. Porque somos como somos? Nem nos damos conta, repetimos o nosso comportamento de forma tão automática que não existe estranheza por mais inaceitável que seja. Como diz o Belchior (cantado pela Elis Regina): “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.”
No caso do pedófilo, não acredito que seja somente uma repetição de quem sofreu abuso. Ouvi um psiquiatra forense dizer que era contra a castração química e a razão para sua posição era porque esse era um transtorno de ordem mental e isso não seria suficiente para que ele mudasse. Ao mesmo tempo fico sem entender como distúrbio mental pode ter como gatilho um abuso sofrido e não ser possível ter recuperação? Não acredito que exista ex-pedófilo.
Em todo caso, vejo a saúde mental da família direcionando todas as mazelas que são vividas para os modelos que temos.
Mais uma vez, adorei seu texto.

Aline Letícia Bellini disse...

O problema maior da Pedofilia são as consequências, não é mesmo?!
Nós que trabalhamos com menores, com famílias desestruturadas e com futuros incertos, sabemos que muuuuuuuuitas mentes ficam vulneráveis assim, incapazes de mudar sua realidade de vida por conta de um acontecimento terrível que talvez tenha tido na infância.
Entretanto, estamos aqui pra amenizar e prevenir através da orientação, né?!


Parabéns pelo texto.A-M-E-I!