quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Para Quem Tem Medo de Falar de Amor



Como alguém que se propõe ás experiências da socialização e, além disso, ocupa-se em perceber atentamente os movimentos das relações humanas, não me parece incoerência dizer que os relacionamentos têm se tornado tão breves e descompromissados, que então, desprovido de experiências boas o suficiente, o sujeito fica impossibilitado de alcançar certa dimensão do que é amor.


Quero propor com isso que, usamos mal certos conceitos fundamentais para que possa haver experiência afetiva saudável. Ora, sabemos bem da importância da adequação entre experiência e conceito. Muitas vezes chamamos certas experiências de certo nome, e quando submetemos esse fato a um pensamento mais cuidadoso, percebemos que na realidade estão distante de qualquer adequação.

O conceito de amor talvez seja o mais importante dos conceitos dentro da ordem das reflexões. É só através do amor que poderá nascer qualquer esperança. É só da união saudável entre dois, que existe a chance de gerar o novo. Entretanto, a proposta de se abrir ao mundo em busca de novas relações, pode ser também a oportunidade de se estabelecer certa relação doentia.
A proposta de discutir ou sugerir uma leitura sobre o tema, acaba por correr um grande risco de ser ridicularizada, ou mesmo ser confundida com certa tendência romântica, distante dos interesses de qualquer que seja a área do pensamento, já que só pode ser aplicável num plano ideal. Restrita aos pequenos grupos e fica assim, distante da realidade do dia a dia. O despreparo em se tratar desse tema é evidente e revela-se em cada nova tentativa de reflexão sobre o assunto. 

Quem se arriscaria na tarefa de descrever o que é o amor?
Os gregos sugerem alguns tipos de amor como, Eros, o tipo de amor passional. Platão nos fornece um belo modelo no seu Banquete, por volta de 380 a.C. onde cogita sobre certa “genealogia do amor”. 
Philia é uma outra forma de amor, segundo os gregos,o amor virtuoso e fraternal
E também, Ágape, o amor ideal e puro da alma. Como na Primeira Epístola aos Corintos, onde fica evidente a importância de certo amor genuíno. No capítulo 13, pelas palavras do Apostolo dos Gentios: Paulo de Tarso encontra-se em forma de poesia uma definição belíssima do amor.

Freud tem uma coleção de ensaios que esbarram na questão do amor, onde surgem reflexões geniais das vicissitudes dos elementos brutos contidos na mente, no caminho rumo à expansão. Como numa escala evolutiva, a Psicanálise parte das paixões desenfreadas como protótipo daquilo que pode ou não transformar-se em modelos mais nobres do que poderia ser amor. Dentro do modelo clássico da sua Teoria das Pulsões, Freud nos ensinou; quando falamos do Eros (pulsão de vida), referente à projeção da pulsão do interior para aquilo que está para além do eu, usamos Tânatos (pulsão de morte) que é o caminho inverso na direção dessa pulsão. A mistura dessas duas tendências, que segundo a Psicanálise, nunca se anulam uma a outra, é que se define a qualidade dos vínculos e definiria então, a qualidade disso que tentamos chamar de amor. Enquanto o primeiro propõe desligar-se de si para ligar-se ao outro, o segundo propõe desligar-se do outro e retroceder em direção a si mesmo, num movimento narcisista.
No entanto, não é necessária qualquer formação ou graduação que possa trazer o título de sociólogo, psicólogo, ou psicanalista, para que o sujeito possa perceber que interesses narcisistas estão de uma forma geral, em primeiro plano na configuração de como o humano atual vem se relacionando entre si. Isso é um sinal claro da limitada capacidade desse humano, em articular sobre o amor. O ser humano está sempre se defendendo dessa ordem de experiências, a não ser que se encontre extremamente carente e se veja desprotegido o bastante para arriscar-se na abertura afetiva. O materialismo e a o interesse em ter, sem duvida tem sobreposto a tentativa na capacitação para o ser. Não existe duvida de que, aquilo que qualifica o sujeito para amar está no ser. Aquele que está sendo pode amar, enquanto aquele que apenas tem, não guarda essa capacidade. 


Lembro-me de um amigo me presenteando com um ditado popular de sua terra, diz meu amigo: O sujeito era tão pobre que só tinha dinheiro.

Mesmo tendo em mãos um grande cabedal de conceitos teóricos, mesmo com toda colaboração literária de alto valor e da mais refinada origem, ainda assim, somos extremamente desqualificados para falar de amor. Isso, pois ai repousa o conceito que só nos interessa mediante a certa experiência boa o suficiente para preencher o vazio da palavra, que por si só não tem conteúdo. Não sabemos o que é o amor, entretanto, necessitamos do exercício do amar para nutrirmos nossa alma.

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Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 

Um comentário:

Alexandre Felipe disse...

Tudo que é difícil de definir é mais profundo e apetitoso... Será que se soubéssemos a real definição e propósito do amor, não perderia a graça, oo encanto?


Abraço