Como
alguém que se propõe ás experiências da socialização e, além disso, ocupa-se em
perceber atentamente os movimentos das relações humanas, não me parece
incoerência dizer que os relacionamentos têm se tornado tão breves e
descompromissados, que então, desprovido de experiências boas o suficiente, o
sujeito fica impossibilitado de alcançar certa dimensão do que é amor.
Quero
propor com isso que, usamos mal certos conceitos fundamentais para que possa
haver experiência afetiva saudável. Ora, sabemos bem da importância da
adequação entre experiência e conceito. Muitas vezes chamamos certas
experiências de certo nome, e quando submetemos esse fato a um pensamento mais
cuidadoso, percebemos que na realidade estão distante de qualquer adequação.
O conceito de amor talvez seja o mais importante dos
conceitos dentro da ordem das reflexões. É só através do amor que poderá nascer
qualquer esperança. É só da união saudável entre dois, que existe a chance de
gerar o novo. Entretanto, a proposta de se abrir ao mundo em busca de novas
relações, pode ser também a oportunidade de se estabelecer certa relação
doentia.
A proposta de discutir ou sugerir uma leitura sobre o tema,
acaba por correr um grande risco de ser ridicularizada, ou mesmo ser confundida
com certa tendência romântica, distante dos interesses de qualquer que seja a
área do pensamento, já que só pode ser aplicável num plano ideal. Restrita aos
pequenos grupos e fica assim, distante da realidade do dia a dia. O despreparo
em se tratar desse tema é evidente e revela-se em cada nova
tentativa de reflexão sobre o assunto.
Quem se arriscaria na tarefa de
descrever o que é o amor?
Os gregos sugerem alguns tipos de amor como, Eros, o tipo de amor passional. Platão nos fornece um belo modelo no seu Banquete,
por volta de 380 a.C. onde cogita sobre certa “genealogia do amor”.
Philia é uma outra forma de amor, segundo os
gregos,o amor virtuoso e fraternal.
E também, Ágape,
o amor ideal e puro da alma. Como na Primeira Epístola aos Corintos, onde
fica evidente a importância de certo amor genuíno. No capítulo 13, pelas palavras do
Apostolo dos Gentios: Paulo de Tarso encontra-se em forma de poesia uma
definição belíssima do amor.
Freud tem uma coleção de ensaios que
esbarram na questão do amor, onde surgem reflexões geniais das vicissitudes dos
elementos brutos contidos na mente, no caminho rumo à expansão. Como numa escala evolutiva, a Psicanálise
parte das paixões desenfreadas como protótipo daquilo que pode ou não
transformar-se em modelos mais nobres do que poderia ser amor. Dentro do modelo
clássico da sua Teoria das Pulsões, Freud nos ensinou; quando falamos do Eros
(pulsão de vida), referente à projeção da pulsão do interior para aquilo que
está para além do eu, usamos Tânatos (pulsão de morte) que é o caminho inverso
na direção dessa pulsão. A mistura dessas duas tendências, que segundo a
Psicanálise, nunca se anulam uma a outra, é que se define a qualidade dos
vínculos e definiria então, a qualidade disso que tentamos chamar de amor.
Enquanto o primeiro propõe desligar-se de si para ligar-se ao outro, o segundo
propõe desligar-se do outro e retroceder em direção a si mesmo, num movimento
narcisista.
No entanto, não é necessária qualquer formação ou
graduação que possa trazer o título de sociólogo, psicólogo, ou psicanalista,
para que o sujeito possa perceber que interesses narcisistas estão de uma forma
geral, em primeiro plano na configuração de como o humano atual vem se
relacionando entre si. Isso é um sinal claro da limitada capacidade desse
humano, em articular sobre o amor. O ser humano está sempre se defendendo dessa
ordem de experiências, a não ser que se encontre extremamente carente e se veja
desprotegido o bastante para arriscar-se na abertura afetiva. O materialismo e
a o interesse em ter, sem duvida tem sobreposto a tentativa na capacitação para
o ser. Não existe duvida de que, aquilo que qualifica o sujeito para amar está
no ser. Aquele que está sendo pode amar, enquanto aquele que apenas tem, não
guarda essa capacidade.
Lembro-me de um amigo me presenteando com um ditado
popular de sua terra, diz meu amigo: O
sujeito era tão pobre que só tinha dinheiro.
Mesmo tendo em mãos um grande cabedal de
conceitos teóricos, mesmo com toda colaboração literária de alto valor e da
mais refinada origem, ainda assim, somos extremamente desqualificados para
falar de amor. Isso, pois ai repousa o conceito que só nos interessa mediante a
certa experiência boa o suficiente para preencher o vazio da
palavra, que por si só não tem conteúdo. Não sabemos o que é o amor, entretanto,
necessitamos do exercício do amar para nutrirmos nossa alma.
--
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
Um comentário:
Tudo que é difícil de definir é mais profundo e apetitoso... Será que se soubéssemos a real definição e propósito do amor, não perderia a graça, oo encanto?
Abraço
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