Entendendo-se aqui a base da experiência do desapego, como sendo a capacidade
de tolerar a frustração implicada em não ter a confirmação da posse de algo, e
que essa confirmação estaria sobre tudo, dependente dos órgãos dos sentidos,
falamos então da capacidade emocional. A mente funciona em certo nível onde os
órgãos dos sentidos não têm acesso e sendo assim o apego não pode ter confirmação
nessa ordem de experiências.
A psicanálise nos ensinou e o fez com muita propriedade, que o bebê
começa a aprender pensar justamente na ocasião da ausência da mãe. É quando
sente a falta dela que começa a imaginar o que está faltando e percebe-se assim
sendo outro, além dela. Esse é o principio do processo do pensar que gradualmente
deve se desenvolver no bebê. Mas, só se pensa em algo sendo capaz de tolerar a
falta que esse algo possa fazer. Entretanto, só pode aprender a pensar na
ausência daquela mãe da qual pôde se confirmar como sendo real. Ou seja, o bebê
que se apegou à mãe, agora aprende a desapegar-se através da mãe simbolizada,
numa recordação afetiva. É como se o bebê dissesse: A mamãe continua existindo quando não a vejo, mas agora, como símbolo
dentro de mim.
Pois bem, se estivermos de acordo até esse ponto, então temos argumentos o
bastante para afirmar que a capacidade de desapego deve representar sinal do
contato mais próximo da realidade simbólica. Nascemos num mundo material onde a
dependência orgânica (material) do outro (mãe) era inevitável, já que um bebê
não pode viver sem sua mãe (ou alguém que se disponha a essa função) e aos
poucos temos o desafio de nos desapegar dessa dimensão de experiências, para
nos envolver com um mundo simbólico, onde a necessidade de verificação pelos
órgãos dos sentidos não deve ter tanta urgência. Isso deve definir o grau da
maturidade emocional.
Se o intuito aqui for o de pesquisarmos sobre a realidade mental, logo
perceberemos que o apego às materialidades da vida não passa de uma grande
ilusão inerente ao desenvolvimento emocional e é própria da imaturidade mental.
Essa ilusão serve como defesa das partes primitivas da mente e é mantida pela
incapacidade de reconhecer o fato de que o “ter” não garantirá o “ser”. Sabemos
bem que aquele que pode desfrutar do reconhecimento do verdadeiro eu, ou seja, daquilo que realmente “é”, passa a ser
capaz de amar e certamente conseguirá obter aquilo que é necessário e o
suficiente para viver e expandir-se cada vez mais em sua própria capacidade.
Por outro lado, aquele que simplesmente “tem” não conseguirá através de suas
posses o mesmo resultado, pois sempre estará desconfiado se o outro está sendo
alguém verdadeiro para ele, ou se o outro também foi adquirido, como tudo que
conseguiu.
Fica claro então que, aquele que desenvolveu a capacidade de amar, abre
mão da ilusão do “ter o outro” em nome da realidade do “ser para o outro”. Além
disso, aquele que é demasiadamente apegado às coisas, teme perder o que ele tem, enquanto aquele
que ama terá para sempre, dentro de si mesmo (simbolização). Isso, tendo aqui certa
concepção de que o verdadeiro amor liberta (simboliza).
Essa cogitação acaba se confirmando quando levamos em conta que, só
desejamos aquilo que ainda não obtivemos, depois que conseguimos ter já não
desejamos mais. Assim, o desapego é fundamental para uma vida dinâmica de
conquistas reais e cada vez menos fundadas na mediocridade do objetivo de posse
de pessoas e coisas. Nada mais empobrecedor do que a dedicação desmedida
ao acumulo de bens.
Enquanto muito apegados às materialidades somos impedidos da
simbolização e passamos assim, a sermos dependentes de certa ilusão que, por um
lado nos cobra constantemente e por outro nos empobrece de nós mesmos.
--
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-991910375
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com
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