sábado, 25 de janeiro de 2014

O Intelectualismo e as Reflexões Psicanalíticas

Tendo como hipótese o fato de que não é de fundamental importância a capacidade intelectual (do Latim intellectus, de intelligere - inteligir, entender, compreender), para a alcançar aquilo que é o objeto de interesse da psicanálise, a coragem (do Latim coraticum, derivado de cor, coração – agir com o coração) revela-se como condição principal para todo aquele que busque refletir sobre as dores da alma, ou o que quer que esteja sob o olhar dessa teoria do pensar. Na realidade a intelectualidade, quando ausente da coragem, impede a acolhida do novo. 
O esforço dessa tendência reflexiva parte do contato com o desconforto emocional que intensifica a criatividade no intuito de criar recursos que possam conter a “dor psíquica”, que sem um formato ou um nome, inunda o funcionamento mental de angustias e ansiedades. Fica claro assim, que para esse esforço é necessário muito mais coragem do que intelectualidade.
As teorias do pensar, como é o caso da psicanálise, enfrentam um grande desafio, que é o de oferecer ao leitor, em palavras relativamente simples, um instrumento que promova a reflexão e proporcione a expansão da capacidade do pensar. 
As publicações de trabalhos psicanalíticos, assim como de outras teorias do pensar, são, com frequência, elaboradas com uma linguagem extremamente complexa, geradora de inacessibilidade para o leitor que se arrisque nessa área do conhecimento humano. Uma prática pouco construtiva e que na realidade impede o processo de aprendizado, pois reforça a falsa ideia de que é necessária certa intelectualidade incomum para que se possa alcançar as reflexões psicanalíticas. 
Assim sendo, revela-se certa demanda de criação de algo que permita, através de uma linguagem compreensível, estimular um exercício mental, no intuito da criação de instrumentos acessíveis que sejam auxiliadores na tarefa do refletir a psicanálise, ou as experiências da mente humana. 
Quando tentamos colocar essa ordem de reflexões em palavras simples e inteligíveis, revela-se um fato interessante.  Quando articulamos as conceptualizações psicanalíticas com palavras de fácil compreensão, percebemos que grande parte delas, está no âmbito do já sabido e que na realidade, faz parte do que titulamos de óbvio.


“Em nenhum de meus trabalhos anteriores tive, tão forte quanto agora, a impressão de que o que estou descrevendo pertence ao conhecimento comum e de que estou desperdiçando papel e tinta, ao mesmo tempo em que usando o trabalho e o material do tipógrafo e do impressor para expor coisas que, na realidade, são evidentes por si mesmas.”  O Mal Estar na Civilização (1929/1930), Sigmund Freud (1856 - 1939)

Cogitar-se sobre algo que “está na cara”, contudo, por ser desconfortável, não se pode enxergar facilmente. O uso de articulações intelectualizadas e de difícil entendimento, muitas vezes se encontra nessa mesma perspectiva.
É importante, nessa altura da reflexão, lembrar que o pensamento psicanalítico vai muito além da prática clínica. Ele proporciona um instrumento para pensar o mundo e a nós mesmos, na busca pela experiência da quebra do narcisismo, na infindável tarefa do “conhecer-nos a nós mesmos”. Propondo uma forma de acolhimento especial para a transformação das ideias, na transformação dos pensamentos, logo, a transformação da qualidade dos vínculos. 

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

3 comentários:

Alexei Fernandes disse...

Está muito boa a argumentação.
Curta e focada.

Alexei Fernandes disse...

Está muito boa a argumentação.
Curta e focada.

Ana Raquel disse...

Excelente tema! tem muita gente precisando ler esse texto. Desejo sucesso!