A palavra
é uma unidade de linguagem, um instrumento de comunicação das ideias por meio
da fala ou da escrita, e essa é uma definição lógica, aquilo que transforma em
conceito o conjunto de letras “p”, “a”, “l”, “v” e “r”, arranjadas
de certa forma específica. Palavra vem do grego parabolé. Cedo
percebemos que a palavra foi criada no intuito de vinculação entre as pessoas,
a palavra une as pessoas.
De qualquer forma, a
proposta desse texto não é se prender a modelos já pensados, mas tentar
transcender o modelo de conceito racional, vazio de experiência, até porque,
não é só isso: o valor que se pode dar à palavra está intimamente ligado ao
desenvolvimento emocional. A palavra está vinculada e é subordinada de certa área
de nosso psiquismo onde o racional não pode penetrar. Logo, da forma como
lidamos com a palavra, podemos revelar sinais da saúde mental, que pode ser descrita
como a capacidade de vínculo que se pode ter entre nosso mundo interno (impulsos
instintuais e fantasias) e mundo externo (o outro, aquilo que existe independente
do desejo do eu).
Dessa forma é indispensável, para o desempenho da palavra, a
capacidade de simbolização, já que a própria palavra é antes de tudo um
símbolo, e isso quer dizer que tem a propriedade de fazer o conteúdo da ideia presente,
mesmo em sua ausência.
Poderíamos, até, fazer uso
de um modelo filosófico para pensar o que é símbolo. Imaginemos, então, algo,
alguém, algum lugar, que possamos sentir a presença, mesmo não podendo confirmar
com os órgãos dos sentidos. Quando dermos conta dessa proposta, podemos de alguma
forma simbolizar. O símbolo se encontra exatamente na ausência real sensorial. O
bebê aprende a simbolizar a mãe e, isso é o que lhe permite tolerar, até que
ela atenda seu choro. O símbolo sustenta a alma na falta do objeto, aí então,
se está apto a transformar em palavra.
Hanna Segal ( 1918 – 2011), grande
pensadora da psicanálise, coloca em 1982 que: “A
formação de símbolos governa a capacidade de comunicação, já que toda a
comunicação se faz mediante símbolos”.
Hanna Segal ( 1918 – 2011) |
Ela postula que, quando
ocorrem perturbações que comprometem essa capacidade simbólica, a capacidade de
comunicação é também perturbada:
Hanna Segal ( 1918 – 2011) |
“primeiro,
porque a diferenciação entre o sujeito e o objeto se desfaz; segundo, porque os
meios de comunicação estão ausentes, já que os símbolos são sentidos de modo
concreto e, portanto, não estão disponíveis para fins de comunicação.”
Quando se comunica a
ideia de alguma coisa através da palavra, acredita-se nela, mesmo sem que se
tenha, a mão, a coisa em si. A
capacidade do espaço mental em sustentar uma imagem interna boa o bastante para
que se possa transmiti-la ao outro é o que define a qualidade da palavra e
consequentemente da saúde psicológica.
Quando levantamos a
hipótese da degradação da palavra, estamos antes de tudo descrevendo um estado de
incapacidade de troca afetiva. A palavra deve ser uma extensão do ser, ou seja,
a qualidade da ideia contida na palavra é o que define a própria palavra. Palavras
distantes do ser são
frias e como uma “nota fiscal fria” (refiro-me a um modelo tributário), não
conta com a responsabilidade daqueles que a emitem.
Capítulo do
livro Para Além da Clínica. Renato Dias Martino - 1. ed. São José do Rio Preto, São Paulo:
Editora Inteligência 3, 2011.
Um comentário:
Esclarecedor,verdadeiro ao meu entendimento.Bravo!
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