Em 2009 escrevi sobre os motivos que levariam o
sujeito a buscar um processo de psicoterapia. Na ocasião propus reflexão à
dedicação que se pode ter “a momentos onde a concretude das coisas simplesmente
perde o valor”. Levanto a hipótese de que “a humanidade parece enfrentar um
período da historia onde a infertilidade (para não dizer esterilidade) na
produção do pensamento é algo preocupante”.
Pretendo
novamente trazer a baila tal cogitação. Cinco anos se passaram e a realidade
nos mostra que a capacidade de pensar sem dúvida continua sendo certa
habilidade muito deficitária no ser humano contemporâneo, que parece agir mais
e pensar muito pouco. Sendo assim, a ilusão passa a ser muito mais frequente
que a tomada de consciência da realidade.
O ser humano se vê engajado de criar
expedientes que possam mantê-lo dentro das ilusões. Vem se especializando cada
dia mais na tarefa de criar mecanismos que permitam mantê-lo iludido a maior
parte do tempo possível. Na impossibilidade de vinculação saudável, existe
então uma tentativa que aposta na substituição de um real suprimento de
necessidades básicas por artifícios vazios de experiências realmente nutridoras
e escassas de qualidade profícuas, que ofuscam e adiam esse imperativo de
satisfação fundamental que ora está impedido de suprir-se.
Ilusões são sedutoras por serem prazerosas e
sugerirem um afastamento dos desconfortos, no entanto são pobres e não estão a
serviço da nutrição da mente.
Pressupondo-se de certa demanda básica a ser
suprida e diante da impossibilidade no suprimento adequado, cria-se então certa
ilusão substitutiva dessa necessidade. Foi o caminho da qual a psicanálise nos ensinou.
Contudo, ainda que o exercício do pensar seja recurso fundamental para a expansão de uma mente saudável, proporcionando maior capacidade afetiva, o direito de conservar sua ignorância é reservado a cada ser humano. Até porque o que o leva manter-se ignorante de certa verdade, é o fato de não ter encontrado algo que valesse a pena, na realidade externa, com o outro.
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2 comentários:
Suas considerações continuam atualizados!
Mais uma vez lhe agradeço Professor Renato por nos proporcionar esse momento de reflexão, peço licença também para alimentar essa questão com uma dúvida que me surge, como podemos "definir" oque é realidade se estamos o tempo todo sendo ludibriados por nossos sentidos, pois as vezes o próprio exercício do pensar nos leva a crer que essa prática é apenas mais uma ilusão.
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