Partindo de um pressuposto, onde o bebê passa por um longo
período de dependência total, e a mãe é a sua única ligação com a vida e com
sua própria existência, podemos pensar que, qualquer que seja o desejo do
sujeito, um dia foi o de ser desejado. Em outras palavras, a forma como o bebê
é desejado (mesmo antes de nascer), definirá certos traços em sua personalidade
que perdurarão por muito tempo, se não, por sua vida toda.
Num tempo, onde ele não sabia o sentido ou significado da
dependência e era totalmente dependente da mãe. Sendo assim, direta ou
indiretamente, a pessoa se transforma naquilo que, aquele que o cuidou,
desejava.
A questão torna-se delicada se não for submetida a um
cuidadoso processo de pensamento. Na medida em que situações emocionais
importantes como essas não são dedicadas a um pensamento afetivo, o sonho dos
pais pode se tornar o pesadelo do filho.
O nascimento de um
filho é também um momento de reviver alguns sentimentos e emoções que deixamos
lá atrás, assim como uma oportunidade de confundirmos o que é nosso e o que é
daquela vida que nasce. É muito comum que frustrações do sujeito sejam
oferecidas como um presente ao filho que nasce e que, agora, terá a missão de
criar modos de solucionar essas frustrações.
Frustrações que podem estar em um modo de pensar, agir ou até
mesmo no desejo profissional irrealizado pelos pais.
Quando não existe a capacidade de pensar com carinho,
questões como essas, tenderemos a transformar nossos filhos em espelho de
nossas frustrações. Proponho aqui, que aquilo que um dia foi nosso desejo, hoje
é um medo em nossos filhos. Um medo de frustrar aqueles que cuidaram dele e
viver um dolorido sentimento de incompetência. Modelo de pais, assim, nos
sugere uma herança daquele que critica impiedosamente e funciona desta forma
consigo mesmo.
O desejo é o que move o ser humano em direção à vida, porém é
bom que seja constantemente submetido a testes de realidade, onde serão avaliadas
as reais possibilidades de realização.
Um desejo cristalizado é algo que ficou no passado e, o tempo
passou. A psicanálise nos ensina que a raiz da neurose esta exatamente no
desejo que ficou fixado no passado e não pode acompanhar o desenvolvimento do
eu. Interessante seria poder submeter nossos desejos a um modelo como o da
passagem bíblica do “sacrifício de Abraão”, onde Deus ordena que ele sacrifique
seu filho Isaac.
Então disse Deus: "Tome seu filho, seu único filho,
Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como
holocausto num dos montes que lhe indicarei". Gênesis 22,02
Porém, o filho que Deus propôs ser sacrificado é, na verdade, o desejo de Abraão.
Porém, o filho que Deus propôs ser sacrificado é, na verdade, o desejo de Abraão.
Prof. Renato Dias Martino
Fone: 17- 991910375
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