IMATURIDADE
Nós vivemos numa sociedade de adultos imaturos, adultos imaturos e perigosamente inteligentes. Sujeitos que têm uma inteligência grande, o sujeito que tem um conhecimento muito vasto, mas que são extremamente imaturos emocionalmente e um sujeito imaturo emocionalmente condiz com um sujeito incapaz afetivamente, ou seja, incapaz de amar. Ele não é capaz de se dedicar ao outro, ele não é capaz de considerar o outro, ele não é capaz de respeitar o outro. Porque, apesar de inteligente é imaturo e sendo guardando, fixado uma criança ou inúmeras crianças dentro dele, ele vai priorizar aquilo que o interessa e não aquilo que seja bom para todos.
PRINCÍPIO DO PRAZER
O Freud propôs que nós funcionamos de duas formas diferentes. No processo primário e no processo secundário. O processo primário é regido pelo princípio do prazer, ou seja, eu busco satisfação imediata o tempo todo e evito desconfortos o tempo todo. Esta é a função do processo primário, no princípio do prazer. Na medida em que o sujeito vai desenvolvendo a sua capacidade de tolerância, ele começa a funcionar também por um outro processo chamado processo secundário, que então é regido pelo princípio da realidade. Ele começa admitir, considerar alguma coisa que já não é só o seu prazer, não é só a sua satisfação, não é só evitar desconfortos, mas é também considerar o mundo externo e a realidade como um todo. Nós estamos falando então, de uma sociedade onde um adulto não é capaz de considerar a realidade como um todo, mas ele simplesmente e tão somente busca a sua satisfação e muitas vezes usando, de maneira inteligente, narrativas dizendo que aquilo ali é para o bem do outro também.
NO ADULTO
Nós funcionamos, mesmo depois de adulto a maioria do tempo, pelo processo primário. Não deixamos de funcionar, no entanto, nós aprendemos a conter os desdobramentos do processo primário e a partir de então, somos capazes de funcionarmos também pelo processo secundário. Na maioria do tempo a gente está buscando afastar desconfortos e buscando satisfação imediata, no entanto, somos capazes, a partir da maturação emocional, de conter este processo para que ele não se manifeste o tempo todo e nesta continência a gente passa a ser capaz de considerar o mundo externo também. Ou seja, o processo primário e o processo secundário vão funcionar concomitantemente. Um não anula o outro. Existe uma cota do sujeito funcionando por um processo e outra cota funcionando por outro processo, mas a maior parte do tempo nós estamos funcionando pelo processo primário, por mais maduro, por assim dize,r que nós possamos ser.
SIMBOLIZAÇÃO
Como é que o processo psicoterapêutico entra nessa tarefa de transformação da forma que o sujeito funciona? Através da simbolização. Como é que se dá esse trabalho de simbolização? Se dá de uma maneira muito bonita, muito bela, porque o sujeito, a partir do vínculo bem-sucedido com o psicoterapeuta, com o psicanalista, o sujeito, enquanto paciente, ele vai internalizando a relação que ele tem com o analista e a partir dali esta relação que ele tem com analista vai se tornando um modelo que ele vai aos pouquinhos trazendo para a relação com ele mesmo. Então, a forma como ele se relaciona consigo mesmo vai ganhar um novo modelo a partir da relação que ele tem com o analista. Então, em primeiro momento ele vai levar a figura do analista internalizada e na medida em que ele se encontra em algum conflito na sua vida cotidiana, ele provavelmente vai pensar: “o que seria que o meu psicoterapeuta, o meu psicanalista me diria agora, nessa situação?” E na medida em que ele vai conseguindo internalizar e essa simbolização vai se efetivando e vai se consolidando, ele passa a levar esse diálogo na relação com ele próprio, ou seja, ele não pensa mais o que o psicanalista dele diria para ele, mas hoje ele já tem essa forma de funcionar e ele mesmo passa a lidar com seus conflitos de uma forma própria, que leva em conta as experiências que ele teve com o analista.
SUPORTAR
Esse processo de simbolização faz com que o sujeito seja cada vez mais capaz de tolerar desconfortos e menos capaz de aguentar desconfortos. Porque o sujeito quando ele aguenta é porque ele não aprendeu a tolerar. O desdobramento bem-sucedido é na capacidade de tolerar na esperança de que aquilo vai passar. O sujeito que aguenta ele aguenta porque não tem esperança de passar. Ele suporta. Ele carrega o peso o sujeito que tolera, tolera até que passe.
ESPERANÇA
O processo de tolerância está diretamente subordinado à esperança. Sem esperança, sem tolerância. Precisa haver a esperança de que algo acontecerá e que possa trazer o alívio daquela situação, senão é aguentar e aguentar não é saudável por quê porque é acumulativo, porque é estressante, porque traz para o sujeito um adoecimento, mesmo que ele não esteja percebendo.
VÍNCULO E ESPERANÇA
A esperança é algo desenvolvido, impreterivelmente a partir de um vínculo bem-sucedido. Não existe o desenvolvimento de esperança sem que anteriormente possa ter havido um vínculo afetivo saudável.
SIM E DIA
Símbolo é juntar, diábolos é separar. SIM é juntar, DIA é separar. Quando eu sou capaz de simbolizar, eu estou integrando. A partir da minha integração com o outro eu tenho um modelo de integração comigo mesmo. O processo de diabolização, por assim dizer, é o processo de separação de fragmentação. Então, enquanto eu, a partir do processo psicoterapêutico consigo simbolizar, a sociedade me propõe diabolizar por várias vias. Seja pelas ideologias que separam negros de brancos, homossexuais de heterossexuais, de homens de mulheres e outras coisas parecidas, vão separando as coisas e dentro do processo psicoterapêutico, a gente tem a chance de juntar as coisas e a partir de um processo extremamente desconfortável, reconhecer a realidade como um todo.
ESTAR SENDO
A diferenciação básica do ato de fé e da esperança é que o ato de fé diz respeito a algo que está acontecendo naquele momento, no aqui e agora, apesar de eu não conseguir constatar pelos meus órgãos dos sentidos, apesar de não estar dentro da perspectiva do sensorial, ainda sim está acontecendo. Então, isso carece o ato de fé para que eu possa, a partir da minha intuição, perceber isso, reconhecer isso aprender a respeitar isso e me responsabilizar por isso. A esperança diz respeito àquilo que há de vir. Então, por mais que agora a situação esteja me frustrando, ainda assim eu vou tolerar com a esperança de que isso vai se transformar e essa esperança diz respeito à percepção do “estar sendo”, do fluxo da vida e não de um estado cristalizado, engessado que, a partir do “eu sou”, não me permite perceber que a vida é um fluxo.
SOBRE O SABER
Intuição sem que eu possa dar um nome, ela é cega. Um nome que não esteja preenchido de intuição é vazio. No entanto, a partir da nossa vivência psicoterapêutica, a gente percebe que muitas vezes, a intuição não precisa sequer levar um nome para que ela possa ser considerada. Muitas vezes eu não vou encontrar nome para uma experiência vivida e a ainda assim, essa experiência que não foi nomeada é nutridora, é passiva de aprendizado, nos ensina, mesmo sem nome. Priorizar o conhecimento, ainda ficar ligado ao saber, ao conhecer, é limitar a nossa experiência como um todo. Porque o saber é limitado, é limitado e limitante em qualquer esfera, seja numa ciência extremamente rebuscada e tecnológica, ainda assim, esse saber é limitante, porque o saber não inclui o amor. O saber é frio, o saber é racional, o sujeito só vai desenvolver a sua capacidade afetiva a partir do seu desenvolvimento emocional, da sua qualificação afetiva, que venha de um preparo, de uma maturação emocional, que tem a ver com simbolizações e tolerância.
EQUAÇÃO OU ANALOGIA
O termo “equação simbólica” foi criada pela Hanna Segal, inspirada na Melanie Klein. Equação simbólica é quando o objeto coincide com o símbolo, equaciona com o símbolo. Aquilo que está dentro é aquilo que está fora. Quando aquilo que está fora não está presente, aquilo o que tá dentro também não fica presente. Não traz a possibilidade de desenvolver tolerância, porque a ausência de um equaciona a ausência do outro e isso vai para além, num exemplo dentro da clínica. O analista é meu pai! Isto é uma equação simbólica. O analista se torna o pai do sujeito. A analista se torna a mãe do sujeito. Na analogia simbólica é assim: isto que está dentro é como se fosse aquilo que está fora, então não é aquilo que está fora, mas é como se fosse. O analista é como se fosse meu pai. Isso é analogia. O analista é análogo ao meu pai, ele não está numa equação com o meu pai. A analista é como se fosse a minha mãe, ela não é minha mãe equacionada. A parte psicótica da mente funciona por ação simbólica e não por analogia simbólica. A equação simbólica só tem igualdades, a analogia simbólica tem igualdades e também admite diferenças.
BEZERRO DE OURO
Um exemplo muito interessante de equação simbólica, nas formulações religiosas é a passagem do bezerro de ouro. Quando Moisés sobe a montanha para ter com Deus e o povo fica ali esperando, quando ele volta o povo juntou todo o ouro que tinha, derreteu e fez um bezerro de ouro. Para o povo, Deus tinha que ser materializado em algo valoroso, porque senão eles não conseguiam adorar Deus. Então, existe a necessidade de concretizar alguma coisa para que este elemento concreto e físico possa coincidir com o símbolo interno.
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