domingo, 5 de janeiro de 2025

SOBRE VÍNCULOS SAUDÁVEIS - Prof. Renato Dias Martino




AVALIAR A REALIDADE

A possibilidade de avaliarmos a realidade de maneira segura e posteriormente entrarmos num acordo com esta realidade depende exclusivamente e fundamentalmente do vínculo afetivo que a gente possa estabelecer. Não há como entrar num acordo com a realidade sem que a gente tenha um bom vínculo afetivo, ou bons vínculos afetivos. Este vínculo afetivo saudável é que vai servir de ponte para o acordo com a realidade. Um sujeito que não tem vínculos afetivos saudáveis, muito provavelmente, vai tomar como verdade, suas ilusões. Vai tomar como realidade aquilo que ele imagina que seja.

SUPERFICIAL E PROFUNDO

O vínculo afetivo, ele se estabelece a partir de dois “verdadeiros eus”. Um verdadeiro eu que se relaciona com outro verdadeiro eu. Isso se chama vínculo afetivo. Diferente do vínculo social que é estabelecido por dois “falsos eus”. Um falso eu que se relaciona com outro falso eu. Por mais que essa palavra, “falso”, possa suar pejorativa, não é pejorativo. É um constituinte da personalidade do sujeito. Mas é falso. E o ser social é um ser dissimulado. Então, uma ligação é profunda, a ligação afetiva é profunda e a ligação social é superficial.

CASCA

Quando o sujeito, por exemplo, vai se desenvolvendo e aí, dentro de uma metáfora, ele vai soltando as suas cascas, assim como a cigarra faz, assim como muitos animais, a cobra faz, outros animais vão soltando as cascas, esses vínculos sociais tendem a serem abandonados. Porque eles são superficiais e estavam ligados à casca e vão ficando os vínculos afetivos que são ligados profundamente.

VÍNCULO COM A REALIDADE

O vínculo saudável é um vínculo verdadeiro. O vínculo saudável é aquele que traz a possibilidade de se desvencilhar de defesas. O vínculo saudável é aquele que está ligado por afeto. Por afeto e sinceridade. Esta ligação de afeto e sinceridade não carece de defesas porque são dois “verdadeiros eus”. Sendo verdadeiro e sendo um vínculo com algo que está além do eu, passa a ser uma ponte com a realidade. O outro é uma realidade e uma possibilidade de estar ligado ao outro verdadeiro, que faz parte da realidade externa sem defesas sem impedimentos.

ACORDO

Tem pessoas que não conseguem se ligar ao outro de maneira afetiva. Ele só se liga ao outro de maneira social. Ele só se liga ao outro de maneira falsa e dissimulada. E eu não estou criticando aqui, eu não estou, de maneira alguma, criticando o sujeito que faz isso. Pelo contrário, esse sujeito ele é digno de compaixão, porque ele não aprendeu a amar. Então, ele só se liga ao outro a partir do falso eu, logo ele nunca está num acordo com a realidade, porque ele está sempre ligado ao outro através de ilusões, de dissimulações, de mentiras, de falsidades, de imaginações. Para que ele possa estabelecer um acordo com a realidade ele precisa ter vínculos afetivos e não tão somente vínculos sociais.

AFINIDADE

O vínculo afetivo é construído. O vínculo social se cria automaticamente, instantaneamente porque o vínculo social se dá a partir de aparências, de identificações. O vínculo afetivo se dá a partir de afinidades e as afinidades vão sendo reconhecidas gradativamente.

AFINADO 

Cada corda do violão emite uma nota diferente. Tem duas cordas do violão que são a mesma nota, só que em oitavas diferentes. Todas as notas estão afinadas num só tom, mas emitindo notas diferentes. As cordas são diferentes, mas elas estão afinadas entre si. Se tiver uma corda que não esteja afinada, ela vai dar uma dissonância. O som vai ficar desconfortável. Para que haja harmonia, as cordas precisam estar afinadas, precisam ter afinidades uma com a outra. Então, quando a gente fala de afinidade, nós não estamos falando de gostar da mesma coisa, nós estamos falando de uma frequência, de uma vibração dentro da mesma tonalidade.

NO QUE É FUNDAMENTAL

Quando a gente está falando de gostar, a gente está falando de desejo e a afinidade, ela é muito mais profunda do que aquilo que eu gosto ou deixo de gostar. Dentro de uma família bem estruturada, todas as pessoas estão afinadas emocionalmente e afetivamente. Existe uma forma de afinidade afetiva que vai estar regendo esta família. Não tem a ver com, eu gosto de música sertaneja e você gosta de rock n’ roll, eu gosto de manga e você gosta de pera, eu gosto de macarrão e você gosta de pizza. Não tem a ver com isso. Tem a ver com estar afinado emocionalmente, naquilo que é fundamental, naquilo que é base de um vínculo como respeito, como responsabilidade, como afeto como dedicação.

AFINIDADE E RESPEITO

Quando existe afinidade, eu posso não aceitar aquilo que você faz, mas eu respeito o que você faz. Quando existe afinidade, eu posso não gostar do mesmo estilo de música que você gosta, mas eu respeito o estilo de música que você gosta. A afinidade está dentro da perspectiva do respeito e não da aceitação. Eu não aceito, mas eu respeito, logo tenho afinidade. Estou afinado.

CONFIANÇA

Dentro da configuração do vínculo saudável do vínculo afetivo saudável e não tão somente um vínculo social, a gente tem a ideia da confiança. A gente tem a experiência da confiança este conceito que vai ser preenchido por uma experiência é muito importante. A confiança - COM quer dizer junto e FIANÇA quer dizer acreditar. confiança é vínculo, é o fio, “com-fio”. Esse fio é o que liga uma pessoa a outra afetivamente. Então, a confiança traz a possibilidade de se relacionar com o outro não somente no âmbito social, mas no âmbito afetivo, onde um afeta o outro criando um vínculo.

CONCORDAR

COM quer dizer junto e CORDES quer dizer coração. Então, concordar é estar junto de coração, não é aceitar a ideia que o outro traz. Concordar a estar junto de coração, independente da opinião de cada um, independente de quem está com a razão. Então, um ambiente de afinidade é um ambiente de concórdia, de concordância, onde um concorda com o outro, apesar de não compartilhar da mesma ideia. Porque a racionalidade porque a razão, ela está num nível onde tudo é relativo. Então, eu posso dizer para você que a minha mão é branca e você vai dizer não a sua mão é rosa, é rosada. Eu vou falar não é branca, não é rosada... Então, a gente vai começar a debater aqui sobre uma coisa que é infecunda, porque na realidade, se a gente estiver concordando, tanto branco quanto rosado, vai solucionar a questão.

RAZÃO 

Enquanto houver a necessidade de alguém ter razão, não há concórdia. Enquanto houver a necessidade de uma verdade prevalecer sobre a outra, não existe verdade, porque a verdade é soberana, independente do que eu acho, ou o que você acha. Quando nós somos capazes de estarmos num ambiente de concórdia, a verdade vai emergir, vai se desvelar. Ela vai aparecer, independente daquilo que eu acho, ou da sua opinião. E aí, nós temos, realmente a possibilidade de entrar num acordo com a realidade.

PERFAZER 

A identificação é quando eu vejo no outro, algo que está em mim. Não tem a ver com afinidade. Afinidade é quando as partes se perfazem pelo reconhecimento do limite. Nós reconhecemos o limite, logo podemos nos encaixar, podemos casar uma parte com a outra. Na identificação as duas partes se misturam e eu já não sei mais o que que é de um o que que é do outro.



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