PARADIGMA
Uma
das funções da psicanálise é quebrar alguns paradigmas. Paradigmas que são
cultivados, compartilhados socialmente no senso comum e que dentro da
perspectiva da psicanálise há uma possibilidade de quebra deste paradigma. E
não são paradigmas simplesmente cultivados aleatoriamente, mas são paradigmas
que, no seu cultivo trazem um dano no funcionamento emocional. De alguma forma,
compartilhar estes paradigmas vai trazendo para o sujeito, um adoecimento
emocional e o tema de hoje é justamente a partir desta ideia. Tolerância e
força.
FORÇA
E SAÚDE
Dentro
do senso comum, força é um indicativo de saúde. Um sujeito forte é um sujeito
saudável. Esta é uma expressão quase que unânime. Se a gente não pensar de
maneira cuidadosa, saúde mental e força conhecidem, no senso comum.
QUEM
AGUENTA NÃO TOLERA
O
sujeito que aguenta, ele não precisa tolerar. O sujeito que é capaz de
aguentar, de suportar. ele não precisa aprender a tolerar. Ele aguenta o
prejuízo, para que que ele vai aprender a tolerar? E quem aguenta é forte.
INTUIÇÃO
A
visão é limitante e limitada, a audição é limitante e limitada, o tato é
limitante e limitado e todos os outros sentidos... A intuição não. A intuição
não mente. A intuição é pura, mas no convívio se civilizatório, no convívio
social, nós não podemos usar da intuição. Por quê? Porque intuição não se
explica, porque a intuição não tem embasamento teórico, porque a intuição não
está atrelada ao conhecimento e para que o sujeito possa se utilizar da
intuição, deste sentido que não está ligado ao sensorial, esta pessoa precisa
estar sensível. Ela precisa estar sendo uma pessoa sensível para que ela possa
reconhecer o mundo pela via da intuição. Sem sensibilidade sem intuição.
PSICANÁLISE
E INTUIÇÃO
Um
psicanalista, essencialmente é guiado pela sua intuição. Ele pode ser guiado
pelos cinco sentidos, mas se estes cinco sentidos estiverem confirmando aquilo
que a sua intuição está dizendo.
ADESTRAÇÃO
A
diferença básica do ser humano para as outras espécies animais é que ele se
ausentou, ele se distanciou da sua natureza. Isso que a gente chama de evolução
do ser humano é o distanciamento dele da sua natureza. Ele não só se distanciou
da sua natureza, mas ele levou junto algumas outras espécies de animais também.
Então, os nossos ditos animais domésticos são animais que foram retirados da
sua natureza, que foram humanizados. A sociedade espera que você também seja
domesticado. A vida social, a vida civilizatória é baseada em adestramentos.
Quanto mais “educadinho” você for, mais bem visto social você vai ser. E isso,
voltando lá no início da minha fala, é adoecedor. O sujeito que está muito bem
adequado a vida social e a civilização ele tende a adoecer.
CIVILIZAÇÃO
Uma
característica muito peculiar da sociabilização e da civilização é que a
criança, muito cedo, vai aprendendo a deixar de ser ela mesma para se tornar
aquilo que o outro gostaria que ela fosse e me parece que hoje em dia cada vez
mais cedo. Cada vez mais cedo, ela tem que se encaixar num critério
pré-estabelecido para que ela seja aprovada socialmente.
SENSIBILIDADE
Se nós
estamos falando de intuição, nós estamos falando de uma capacidade que só pode
ser desfrutada por aquele que tem sensibilidade, que seja sensível. Um sujeito
sensível pode desfrutar da sua intuição. A sensibilidade é o que fundamenta o
uso do aparato intuitivo e a sensibilidade só pode ser desenvolvida por um
sujeito que seja capaz de tolerar a sua fragilidade. Sensibilidade é um
desdobramento da fragilidade. Um sujeito forte não pode ser sensível. A força
anula a sensibilidade.
INTERNO
E EXTERNO
Quando
a gente está falando de sensibilidade e o desdobramento da sensibilidade na
intuição, esta intuição vai perceber e a partir dessa percepção disponibilizar
o reconhecimento, tanto daquilo que vem de dentro, tanto daquilo que vem do
mundo interno, que são as pulsões que são as emoções, quanto daquilo que vem do
mundo externo, que é aquilo que me afeta a partir do contato com o outro. A
intuição ela tem tanto esta função de percepção interna, quanto de percepção
externa. Tanto do funcionamento emocional, quanto do funcionamento afetivo.
INTUIÇÃO
OU ALUCINAÇÃO?
Como
eu posso reconhecer se aquilo que eu estou sentindo é intuição ou é uma
alucinação? Qual é o mecanismo, qual é o referencial para que eu possa avaliar
se aquilo que eu estou sentindo é a partir de uma intuição ou é a partir de
algo reprimido, ou algum elemento não elaborado do meu mundo interno? Não
importa! Se a tua intuição está dizendo alguma coisa, você tem que respeitar
essa intuição, porque ela está apontando um limite. Ela está apontando uma
limitação sua por mais que essa limitação seja de uma falha no funcionamento
emocional por exemplo um medo se você tem medo de alguma coisa será que este
medo é uma intuição de dizendo sobre algo real ou é uma Alucinação não importa
esta intuição está te apontando algo interno uma limitação interna sua que vai
te obstruir de conseguir ter uma relação bem-sucedida com o mundo externo se a
intuição falou tá falado.
COMUNICAR
INTUIÇÕES
Quando
eu tenho uma intuição enquanto analista junto com o meu paciente é importante
que eu possa comunicá-la a ele. Mas, qual é a maneira adequada de se comunicar
uma intuição? Nunca através de uma afirmação, sempre através de uma dúvida,
sempre através de uma indagação, sempre através de uma proposta de: “eu tenho a
impressão que”, “me parece que”, “se faz sentido para você”. Nunca dentro de
uma afirmação, nunca dentro de uma certeza, porque a afirmação ou a certeza são
inimigas da intuição.
FORÇA
E ILUSÃO
Reconhecer
a sua fragilidade é um motivo para se desenvolver tolerância. Se eu percebo a
minha fragilidade é porque eu percebi o meu limite e esta percepção me faz
reconhecer até onde eu dou conta. Então, reconhecer a sua fragilidade é
fundamental no desenvolvimento da tolerância. O que que é um sujeito forte? É
um sujeito que aguenta, é um sujeito que enfrenta, é um sujeito que encara, é
um sujeito que não avalia a configuração da experiência antes de se enfiar. É o
sujeito que acredita que ele dá conta de qualquer coisa e isso é uma grande
ilusão. A força, dentro da configuração emocional e afetiva só pode existir
através da ilusão. O sujeito é forte quando ele está iludido.
FRAGILIDADE
Esse
sujeito que se avalia como forte, ele acaba prometendo para o outro que ele é
forte. O outro começa a acreditar que ele é forte. E aí, que está a grande
cilada, porque ele não é forte e uma hora isso aí vai desmoronar. E vai
desmoronar sabe quando? No pior no momento, mais inadequado. No momento mais
inadequado vai se revelar a fragilidade que é a sua concepção real e natural.
Nós somos frágeis.
SOB
PRESSÃO
Muitas
vezes, o sujeito chega ao ponto de dizer assim: “Eu trabalho melhor sob
pressão. É aí que eu dou o meu melhor.” Não! Não é o seu melhor. O seu melhor
você dar quando você está em paz. O seu melhor você dar quando você está
tranquilo. O seu melhor você dar quando você está se dedicando a alguma coisa
que você ama, que você está se dedicando a alguma coisa que você tem afinidade.
Você está se dedicando a alguma coisa que reúne uma configuração de harmonia. É
aí que você dá o seu melhor.
INTUIÇÃO
OBSTRUÍDA
Todos
nós temos a capacidade de intuir. A intuição é um dom de cada um de nós. Agora,
quando a gente não está sendo capaz de reconhecer a nossa fragilidade, portanto
a nossa sensibilidade, a gente fica obstruído de intuir. A intuição fica
inacessível e quando ela vem eu acabo desacreditando dela. Menosprezando.
porque muitas vezes eu estou apegado no saber e a intuição não tem explicação.
Muitas vezes, eu estou dentro de uma perspectiva de força, de acreditar que eu
estou forte e se eu sou forte aquilo que a intuição me aponta é irrelevante.
Então, todos nós somos intuitivos, mas podemos estar obstruídos por conta de
inúmeros fatores.
INTUIÇÃO
E INSTINTO DE AUTOPRESERVAÇÃO
A
intuição é um fator do instinto de autopreservação. Estão interligadas e são
interdependentes. Intuição! intuir é olhar por dentro. Então, quando eu tenho
uma intuição em relação ao outro é porque este outro já faz parte de mim, ele
já está dentro de mim. Então, é como se eu usasse o meu instinto de
autopreservação para preservar o outro. Intuir! Eu só posso intuir sobre alguém
que está no meu coração, está dentro. Eu não tenho como intuir sobre uma pessoa
que eu não tenha relação afetiva.
EXTRA-SENSORIAL
A
intuição não é uma suposição. A intuição não é uma dedução. A suposição ou a
dedução são subordinados ao aparato sensorial. Eu preciso saber sobre alguma
coisa para deduzir, para supor. Isso tudo tem a ver com a opinião do jeito. A
intuição é um reconhecimento da realidade. A intuição te aponta para alguma
coisa que diz respeito à realidade, mas a uma realidade que não está disponível
aos órgãos dos sentidos.
DESCONFORTO
Eu
entro num ambiente e neste ambiente tem uma pessoa que me cria um desconforto,
só de olhar para esta pessoa. Aquilo que popularmente a gente chama de “não fui
com a cara”. Isso é uma intuição. Aí, você vai dizer: “Ah não! Mas, você pode
estar projetando alguma coisa mal elaborada sua nesta pessoa”. Que seja! Se
afaste dessa pessoa, porque você não está preparado para lidar com esta pessoa.
Seja por uma característica da pessoa, ou seja por uma limitação sua em relação
a esta pessoa. Então, vá para sua análise, trate das coisas mal elaboradas,
depois você volta e tenta alguma coisa com essa pessoa.
REVISÃO
DE CONCEITOS
Muitas
vezes, a gente pode ter a impressão de que, ficar revendo conceitos pode ser
uma questão meramente filosófica, ou meramente de adequação dos termos dentro
da linguagem. Na realidade, não é isso. Pensar a conceitualização das
experiências diz respeito a adequar a formulação do pensamento. Quando a gente
usa a palavra força, ou forte, dentro da clínica, nós estamos reafirmando uma
experiência superegóica, porque o sujeito tem que ser forte e a força é
essencialmente ilusória dentro das formulações emocionais e afetivas. Então,
quando a gente promove a ideia da força, nós estamos criando um ideal de eu no
sujeito. Um ideal de força no sujeito. Um ideal de potência no sujeito, que ele
vai ter que suprir. A função da psicanálise não é tornar o sujeito forte, mas é
reconhecer fragilidades. E aí, quando a gente fala: reconhecer fragilidades, é
muito importante que a gente possa distinguir fragilidade de fraqueza.
Fragilidade é uma coisa e fraqueza é outra.
VERDADEIRO
E FALSO EU
Um
sujeito emocionalmente forte é um sujeito que tem uma casca grossa, por assim
dizer. Força, dentro do âmbito emocional, diz respeito à defesa. Não existe
como ser forte sem que o sujeito esteja cercado, ou munido de defesas. Quanto
mais defesas, mais força, dentro do âmbito emocional e logo no âmbito afetivo.
Quanto mais defesas ele tiver, mais prejudicada a essência estará. Aquilo que
está dentro, pode se sentir sufocado por conta de uma defesa muito espessa. E
aí, trazendo aí, dentro da perspectiva do Winnicott, do verdadeiro e do falso
self, o verdadeiro selfie pode estar oprimido e sufocado por conta de um falso
selfie muito enrijecido e espesso. Porque o falso selfie é a casca e o
verdadeiro selfie é a essência. Quando eu tenho um falso eu muito grosso, eu
estou sufocando o meu verdadeiro eu.
AMBIENTE
HOSTIL
A
força é muito importante enquanto sujeito estiver inserido num ambiente hostil,
num ambiente ameaçador. Quando ele está vivendo num ambiente onde ele está
sendo ameaçado o tempo todo. E quando eu estou falando ameaça, não estou
falando simplesmente de uma ameaça direta, mas muitas vezes, dentro do âmbito
emocional e afetivo, nós somos ameaçados indiretamente. Muitas vezes, sem que a
gente perceba a gente convive num ambiente extremamente tóxico emocionalmente
em que nós somos ameaçados o tempo todo. E aí, é interessante que o sujeito
seja “cascudo”, por assim dizer, cheio de defesas. Forte! Porque senão, ele vai
ser golpeado, ele vai ser machucado, vai ser ferido. Quando eu estou convivendo
num lugar hostil, quando eu estou convivendo num lugar onde as pessoas promovem
um ambiente tóxico emocionalmente e afetivamente é importante que eu seja
forte, ou pelo menos que eu pareça ser forte. Esta força pode ser útil, mas
mais importante do que essa força é a capacidade de avaliar o quanto este
ambiente está sendo tóxico e me afastar deste ambiente o quanto antes. Quando
eu acredito ter esta força, eu perco a capacidade de avaliar o quanto o
ambiente está sendo tóxico. Porque eu aguento! Ou pelo menos, eu acredito
aguentar.
MECANISMOS
DE DEFESA
Segundo
a teoria freudiana, as defesas são pré-conscientes. Ela vai ser gerada por uma
parte do ego que está no limiar do inconsciente e do consciente, logo
pré-consciente. Então, as defesas são pré-conscientes, no entanto a Melanie
Klein traz uma classe defesas inconscientes que fazem parte da posição
esquizoparanóide. O bebê se defende sem ter consciência que esteja fazendo
isso. Quando nós estamos falando aqui de defesas esquizoide na terra infância,
nós estamos falando de uma classe de defesas psicóticas, que estão propiciando
ou promovendo uma cisão com a realidade. Se houver cisão, a defesa é
inconsciente, mas se houver repressão, assim como acontece na perspectiva
neurótica, aí nós vamos falar de pré-consciente, muitas vezes até de
consciente.
PURITANISMO
O
ambiente mais nocivo é aquele que está revestido de bondade, de falsa bondade,
de puritanismo este ambiente passa a ser o ambiente mais nocivo. Mais nocivo do
que aquele que tem uma hostilidade explícita, manifesta, porque esta
hostilidade manifesta pode trazer para o sujeito a possibilidade de se
defender, mas quando esse elemento nocivo vem revestido de falsa bondade o
sujeito fica desarmado e não consegue se defender. É preferível você tomar um
tapa na cara do que você receber um ataque revestido de puritanismo.
GRUPO
DE AFINIDADE
Em
1921, Freud publica PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANÁLISE DO EGO e ali ele coloca que
o humano não é um animal de grupo. Ele se insere no grupo na medida em que ele
não esteja confiando nele mesmo. Ele busca benefícios no grupo, mas isso não é
natural dele. Ele não é um animal gregário. E aí, eu vou para além. Quando você
é obrigado a conviver em grupos onde não existe afinidade emocional, ou seja,
quando as pessoas não funcionam emocionalmente como você, você tende a adoecer.
Quando você é obrigado a participar de grupos onde você não tem afinidade, você
tende a adoecer e adoecer de uma forma muito perigosa, porque você adoece sem
perceber que está adoecendo. Porque esta configuração emocional acontece
silenciosamente. Essa intoxicação emocional vai acontecendo sem que você
perceba e você não consegue associar o seu adoecimento com a configuração que
você está convivendo.
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