terça-feira, 8 de setembro de 2009

Primeiro Passo para se entender Psicanálise

Primeiro Passo para se entender Psicanálise
Renato Dias Martino


O que é Psicanálise?


Primeira Tópica é um modelo organizado por Sigmund Freud (Viena, 1856 – Londres, 1939), médico austríaco e fundador da Psicanálise, que se tornou a base para o pensamento psicanalítico. A partir dessa idéia metapsicológica, trazida pela Psicanálise, houve considerável mudança no vértice, na percepção, entendimento e pensamento sobre a Psicologia, Sociologia, Antropologia e, sobretudo, na forma de perceber aquilo a que chamamos de aparelho psíquico.

Quem é Freud?
Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, na Moravia, pequena cidade situada onde hoje é a Tchecoslováquia. Seus pais eram judeus e ele próprio continuou judeu. Em 1860, por motivos de guerra, sua família é forçada a se mudar para Viena, onde Freud recebeu sua educação e passou boa parte de sua vida. Primeiro filho de oito irmãos e do terceiro casamento de seu pai, Jacob Freud com Amalie Nathansohn Freud, Sigmund Freud, muito cedo, se mostra interessado pelas questões da alma, assim como pela história da Bíblia.


Desafios


Um grande admirador de Charles Darwin (1809—1882), e sua teoria, o tem como referência em grande parte de suas obras. Demonstra o valor da teoria darwinista, analisando-a como um pensamento que vem quebrar o que chamou de ilusão narcisista. Em seu texto “Uma dificuldade no caminho da Psicanálise”, datado de 1917, escreve sobre três feridas narcísicas da humanidade. Quando desenvolve a Metapsicologia, demonstra que o ser humano não é totalmente dono de si mesmo.
Despertou, com isso, grande oposição, pois tira o homem do domínio de sua própria vontade. Coloca, assim, a Psicanálise entre Nicolau Copérnico (1473-1543), que corajosamente introduz a idéia de que a terra não seria o centro do universo, e o darwinismo, que propõe que o homem não está no topo da evolução biológica, sendo um animal entre os outros em evolução. Assim, inaugura certo conflito com o pensamento científico vigente em sua época, já que os olhares da Psicologia se voltavam para o ponto de vista de escolas de pensamento experimental como a do fisiologista Wilhelm Wundt (1832- 1920).


A histeria




Dr. Joseph Breuer (1842-1925), um dos médicos mais respeitados de Viena, e colega a quem Freud tinha uma grande afeição, já, em 1880, desenvolvera um estudo sobre histeria. Partindo do radical “histeros” (útero), nasce o termo histeria, que designaria um estado patológico que, a princípio, ocorreria apenas em mulheres.
A paciente, senhorita Bertha Pappenheim (1859-1936), ganha, nos estudos de Freud e Breuer, o pseudônimo de Anna O. (caso que seria publicado só 13 anos mais tarde).  

Jean-Martin Charcot (1825-1893)

 Transformações metodológicas


Em 1885, Freud recebe uma bolsa e viaja a França para estudar a histeria com Jean-Martin Charcot (1825-1893), de quem Freud já tinha conhecimento como brilhante estudioso das doenças da mente e que lhe despertara intensa admiração. Na escola Salpetrière, Charcot também fazia uso da hipnose no método da “cura” desta patologia psíquica. Freud usa o método catártico por mais algum tempo, mas começa a perceber que a hipnose, assim como o método da catarse, na busca da ab-reação, não apresentava bons resultados em todos os pacientes e passa a desenvolver e utilizar-se do método que chamou de associação livre. Com isso, inicia o rompimento com os estudos do método catártico do velho amigo e colega de estudos, Breuer.


No discurso do paciente, estariam dois tipos de conteúdo:


1) manifesto: representado nas questões explícitas;
2) latente: representado nos pontos cegos da mente.


A perspectiva passa da antiga visão horizontal para um vértice vertical, revelando uma conotação de profundidade, o que poderíamos chamar de mapeamento mental.
O aparelho psíquico pode ser estudado e entendido tendo como referência três prismas ou pontos de vista: o topográfico, o dinâmico e o econômico. Neste primeiro tópico, Freud divide o aparelho psíquico em três sistemas que, apesar de sua condição de interdependência, serão estudados, posteriormente, um a um:




- Inconsciente (Ics),
- Pré-consciente (Pcs) e
– Consciente (Cs)



Melaine Klein (1882 – 1960)

Quem ajudou?

Carl Gustav Jung (1875-1961), um grande pensador suíço e estudioso da mente humana, rompera com Freud, em 1912, uma amizade que rendera um grande avanço para o estudo da Psicanálise, o que o indicaria ao título de precursor de Freud (título esse sugerido pelo próprio Freud). Jung esteve próximo do pensamento psicanalítico em uma fase de grande expansão.
Melaine Klein (1882 – 1960) iniciou seus estudos e publica seu primeiro trabalho na década de vinte, quando a Psicanálise já se fazia uma teoria psicológica que alcançava respeito e o nome de Freud já conquistara reconhecimento e prestígio pelo mundo todo. Ela desenvolve o método da ludoterapia no tratamento e análise de crianças. Enfrenta inúmeras dificuldades como a “rivalidade teórica” com Anna Freud (1895-1982), filha de S. Freud, que, nessa época, desenvolvera também um método de psicoterapia infantil.
Donald Woods Winnicott (1896 - 1971), pediatra e psicanalista inglês, o frances Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979), Antônio Ferro e, no Brasil, Walter Trinca, Antônio de Muniz Rezende e David Zimmermann, pensadores que trazem conceitos de enormes proporções para a Psicanálise. E, assim como o próprio Freud escrevera, “outros virão”.


As instancias da mente


- O Consciente (Cs)Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia, ou na mais alta camada do aparelho psíquico. Do ponto de vista dinâmico, ou funcional, nele, não se inscreve qualquer traço durável das excitações. No vértice econômico, caracteriza-se pelo fato de se dispor de uma energia livremente móvel, suscetível do sobre-investir este ou aquele elemento, a energia – catexias – muito clara no mecanismo de atenção.
Funciona na base do princípio da realidade, ou seja, tem a realidade como referencial para reconhecer o que são as produções da mente, ou percepção da realidade. Mas essa é apenas uma pequena parte do que é psíquico. Logo abaixo, num referencial de vértice vertical, fica o sistema pré-consciente ou Pcs.



- O Pré-consciente (Pcs)

Freud escreve em 1915:
“O conteúdo do sistema Pcs. (ou Cs.) deriva, em parte, da vida instintual (por intermédio do Ics.) e, em parte, da percepção”.
Os elementos contidos no sistema pré-consciente podem ser exemplificados, em parte, por tudo aquilo que lembramos, mas que, de alguma forma, não conseguimos trazer à consciência. Isso nos sugere um tipo de critério de seleção baseado em uma censura que barra estes conteúdos de se tornarem conscientes.
Freud coloca uma condição para que os conteúdos emirjam para as camadas superiores do aparelho psíquico quando declara em seu texto “Instintos e suas Vicissitudes”:
“Um instinto jamais pode se tornar um objeto da consciência – somente a idéia que representa o instinto é que pode.”
É no pré-consciente que ocorre a junção de algo que está dentro com algo que está fora, momento este em que um sentimento se liga a um objeto externo, formando o que Freud chamou de representação de coisa.

- O Inconsciente (Ics)



O eu desconhecido mora no inconsciente. Em 1911, Freud chamou a atenção com o texto “Formulações sobre os dois Princípios do Funcionamento Mental”, para os processos mentais em funcionamento. Apesar de a função mais evoluída desses processos, o processo secundário (já descrito neste trabalho), fazer parte do sistema consciente, é apenas uma parte do aparelho psíquico que funciona assim. Na maioria do tempo, o psíquico funciona por um processo em que o pensamento mágico impera, cuja forma de pensar está disponível a um bebê em seus primeiros anos de vida.
O princípio do prazer é que comanda esse tipo de processo que Freud chamou de processo primário. Noções como as de tempo e espaço não têm lugar neste processo mental. Dentro deste funcionamento, a lógica se estabelece por meio dos mecanismos de condensação e deslocamento, o que permitem uma “realidade” diferente da realidade externa, conhecida do sistema consciente e compartilhada entre sujeitos. Esta realidade interna é sempre regida por um alto grau de narcisismo e onipotência, que tendem a se dissolver quando emergem para camadas mais altas do aparelho mental. Assim, as idéias passam por aquilo que Freud denominou de teste de realidade, e chegam à consciência em forma de pensamento. Já no funcionamento inconsciente o que se produz são fantasias que são dependentes do princípio do prazer.

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
(17) 3011 3866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

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