segunda-feira, 13 de junho de 2011

REFLEXÕES SOBRE DEPRESSÃO

Já tive outras oportunidades de escrever cogitações sobre esse tema, mas me parece útil retomar a questão na medida em que perguntas frequentes nas abordagens feitas aos profissionais da saúde mental sem duvidas são referentes à depressão. Então decidi nessa linha, trazer a baila novamente esse questionamento.
Quando alguém apresenta um quadro de depressão, sem duvida se mostra encapsulado num formato especial de comportamentos que desperta no outro, uma curiosidade enorme. Isso porque os processos mentais característicos dessa experiência emocional acontecem internamente, logo de forma ofuscada do olhar externo.
O pensamento comprometido pela depressão é mantido essencialmente por fantasias que muito pouco se adéquam a realidade. Normalmente povoadas de uma crença do regresso daquilo que foi perdido. O sujeito depressivo só vê motivos em continuar vivendo se vincular essa motivação ao retorno do que foi perdido.
De forma geral descrevemos como depressão, a definição de toda categoria de elementos que se encontre de maneira rebaixada ou colocada no nível inferior às outras. Na geografia topográfica, por exemplo, se utiliza do termo para descrever as regiões mais profundas do terreno. Desta mesma forma, a psicologia se utilizou desse conceito para descrever o recolhimento dos investimentos emocionais.
Certa introspecção no funcionamento emocional.  O interesse no mundo externo diminui e o funcionamento psíquico passa a compreender, em sua maior parte, apenas os aspectos do mundo interno.
Algumas condições devem existir para que se desenvolva a depressão que ocorrerá normalmente após alguma perda importante. “Entra-se” em depressão quando acontece à perda de alguém, ou mesmo de alguma coisa muito importante na vida do sujeito.  Se estivermos aqui falando de um desenvolvimento saudável do funcionamento mental, a depressão deve compreender certo período de afastamento das coisas do mundo externo. Um desinvestimento de interesse no mundo que resultará num afugentamento da vida social.
Essa experiência emocional ocorrerá em qualquer pessoa, em qualquer fase da vida onde incida uma grande perda. No entanto, existem pelo menos a priori, dois tipos de depressão.
Um primeiro modelo é a depressão comum que ocorre numa mente saudável. Esse tipo de depressão se pronuncia sempre que perdemos algo de muito valor. Nesse padrão depressivo, desvalorizamos o mundo externo, nos resguardando na segurança do mundo interno. Porém, isso até que nos recuperemos da perda e voltemos a nos interessar pelas coisas do mundo. Sigmund Freud (1856-1939) denominou esse processo de ‘luto’. O sujeito se coloca retirado do mundo externo (onde ocorreu a perda), em nome de acomodar internamente a realidade daquilo que se perdeu. 

Na forma natural chamada de luto, o sujeito deprimido sente uma tristeza que o conduzirá a desvalorizar as pessoas e as coisas do mundo externo, contudo ainda manterá sua autoestima num nível consideravelmente bom. Isso servirá para manter o funcionamento mental, mesmo que rebaixado, trabalhando de forma saudável.
Contudo, se o relacionamento que se mantinha com esse alguém (ou aquilo) que foi perdido, era mantido de uma forma perturbada, muito provavelmente após a perda, se desencadeará uma depressão patológica. Esse modelo de experiência,
Sigmund Freud (1856 - 1939)
Freud chamou de ‘melancolia’. Aquele (ou aquilo) que se foi, levou junto com ele inúmeras questões mal resolvidas. Muito provavelmente culpas e sentimentos tão desconfortáveis que sequer puderam ser nomeados, eram características do vínculo que tem seu desfecho no modelo patológico da depressão depois da perda.  O sujeito não é capaz de acreditar em si mesmo depois da perda ocorrida. Passa a depreciar-se desacreditado de seu valor próprio. O amor do objeto perdido era essencial para que continuasse contando com a sua autoestima.
Na depressão melancólica ou patológica, a perda no mundo externo leva ao rebaixamento da autoestima em certo nível que compromete o funcionamento saudável da mente. Isso por que o sujeito não pode continuar funcionando bem sem aquele (ou aquilo) que perdeu. Enquanto na depressão normal (processo de luto), a perda é do objeto amado, na depressão patológica (estado de melancolia) o que se perde é a capacidade de amar.
Outra forma de desfecho patológico da depressão é quando não se encontra espaço emocional para que se viva a depressão natural do processo do luto. Na impossibilidade de se viver o processo depressivo natural, compreendido no luto, existe um risco de se desenvolver a forma patológica dessa experiência psicológica. Quando por alguma razão, não se pode dar o real valor para a experiência da perda, talvez isso se mantenha de forma inconsciente. Dessa forma, a experiência que foi então proibida de ser vivida conscientemente, passa a atuar na vida do sujeito definindo escolhas que na realidade são incongruentes com o bom funcionamento mental.
O método psicanalítico propõe-se a criar um espaço emocional na dupla compreendida pelo analista e paciente, onde este ultimo poderá reconhecer não só ‘quem’ ele perdeu, mas ‘o que’ perdeu junto desse alguém. Na realidade é a criação de um espaço que o paciente possa levar toda tristeza que inunda sua alma por conta da perda ocorrida e na segurança do vínculo com o analista, possa criar um sentido para sua depressão. 

3 comentários:

Carla disse...

Renato, muito esclarecedor seu texto, e coincide com uma palavra que hoje pela manhã tomou meu pensamento: Que falta me faz aquele "espaço".
Grata.

Unknown disse...

Gostei muito de seu artigo. Objetivo e bem explicativo.

Lets disse...

Achei meio confuso, mas creio que seja porque eu estou confusa. Vejo-me nas 2 depressões. Não tem sido fácil, tampouco suportável...