quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O nome do que sinto

Repensar os conceitos que servem para atribuir nome às experiências vividas, é um exercício fundamental para o funcionamento mental, portanto, é então tarefa essencial do processo psicanalítico. O grande papel do psicoterapeuta é justamente, o de auxiliar na tarefa nomeadora de sentimentos.


Enquanto seres humanos, ainda somos muito limitados nessa habilidade de reconhecer e nomear sentimentos. Isso fica facilmente constatável se percebermos que carregamos por muitos anos (muitas vezes pela vida toda) sentimentos que nunca soubemos muito bem como nomear. Simplesmente sentimos e quando isso passa a ser um desconforto, tentamos parar de sentir. Arrumamos uma forma de nos livrar desse sentimento desconfortável sem se sequer darmos um nome a isso que sentimos. 


Wilfred Bion (1897 –1979)


Wilfred Bion (1897 –1979), utilizando-se da ideia de Immanuel Kant (1724 – 1804) quando propõe que a “intuição sem conceito é cega; conceito sem intuição é vazio”. Bion 1992(pg. 96).



Ora, é importante mencionar o fato de que aquele que tem um sentimento, sente isso em relação a alguém. Quero propor que cada sentimento que habita nosso aparelho emocional, só pode existir se estiver relacionado a alguém, mesmo que seja com o si mesmo. Assim, a tarefa se torna mais complexa ainda, pois para nomearmos um sentimento, necessariamente temos que atribuí-lo a alguém e mesmo os sentimentos que atribuímos a nós mesmos, tem sempre o outro como referencia.


Bem, não é surpresa o fato de que o ser humano guardar grande dificuldade na experiência do encontro e ligação com o outro. Na história da evolução dos vínculos afetivos, o ser humano, definitivamente, ainda se encontra engatinhando e a capacidade de amar ainda é algo muito primitivo no funcionamento mental do humano atual. Com isso, em nossa pesquisa quanto às capacidades emocionais, entramos num terreno extremamente penoso, pois só pode “ser” aquele que é capaz de amar. Questão fundamental dentro da proposta de construção de um ambiente saudável a nossa volta.


Então, a experiência de conhecer e nomear sentimentos, não está limitada na tarefa de pensar só em si, mas está fundamentada na capacidade de pensar-se em relação ao outro. Para que haja o desempenho do pensar de maneira saudável, é necessário desenvolver um bom grau de consciência.


Essa questão fica muito clara e isso acontece de maneira muito bonita, quando conhecemos a origem da palavra consciência, que aqui usamos para denominar a capacidade de compartilhar (com o outro) carinhosamente das verdades da vida. Tratamos então da “con-sciência”, ou seja, a ciência que podemos compartilhar com o outro.


Alguém só se torna humano no contato afetivo com outro humano, de outra forma, não passa de um alguém. O desempenho dessa humanidade se inaugura na forma tolerante de aprender com o amor do outro, como é tornar-se a si mesmo.

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

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