Hostilidade ao incapaz
Seja na tentativa do diagnóstico, ou mesmo em qualquer proposta que
tenha o intuito de levantar possíveis consequências implicadas nas experiências
emocionais, esse tipo de tarefa estará sempre enquadrada nas suposições e não
passarão de hipóteses, já que essa dimensão das relações humanas guarda
características muito particulares em cada caso.
Sendo assim, qualquer tentativa de exame de saúde da mente, deve, sem
duvida, ser acompanhado de um olhar cuidadoso e dedicado do caso específico em
suas particularidades. Tentativas de rotulação e generalização são
especialmente prejudiciais e perigosas em se tratando da vida emocional. Dessa forma fica claro que, rotular as dores da
alma é inútil sem o cuidado dedicado para com o sujeito que sofre e que a
habilidade em diagnosticar uma patologia mental não garante a capacidade de
acolhê-la.
Quando nos propomos a pensar nas consequências
emocionais que possam acarretar para uma criança que tenha sido agredida por um
adulto, inúmeras hipóteses podem ser levantadas e todas elas partem do
pressuposto de que essa que foi agredida não possuía capacidade de se defender
daquilo que a hostilizava.
Uma situação desse tipo caracteriza-se num trauma,
um conjunto de perturbações causadas por um ferimento na mente e sendo assim
tenderá buscar maneiras de “curar-se”. Buscará repetir-se até que encontre a
chance de elaboração. Numa tentativa de levantar recursos defensivos para lidar
com a agressão, a mente repete de alguma maneira a situação.
Poderíamos aqui levantar duas formas básicas de
repetição da experiência traumática, pelo menos a priori. A situação
pós-traumática pode seguir um curso onde a repetição aconteça de forma interna.
Interna por se tratar de certa formação imaginativa sobre a experiência
traumática. Uma imaginação persistente que encontrará grande dificuldade para
dissolver-se no confronto com a realidade externa. A criança tenderá repetir
essa imposição hostil da realidade fechando-se para as experiências da vida
numa incapacidade de confiar no outro. Cada nova relação estará povoada de
desconfianças nesse outro que sempre guardará uma suspeita (imaginária) de que
cedo ou tarde, também o agredirá, de alguma forma.
Essa tendência, dependendo do grau de
evolução da maturidade emocional, pode manifestar-se desde uma timidez
excessiva até modelos mais severos onde o sujeito se tornando uma “eterna
vitima” das circunstâncias. Dessa maneira, segue construindo suas novas
ligações afetivas sempre com a característica de ser realmente hostilizada pelo
outro.
Por outro lado, a situação de agressão à criança
pode seguir num segundo modelo de desfecho. A forma perversa ou externa de
manifestação da repetição do trauma. O sujeito agredido pode desenvolver, de
forma inversa ao primeiro modelo, características obsessivas de agressor. Da
mesma forma que aquele que o agrediu fazia, já que muito provavelmente aquele
que agride revelará em sua história de vida, experiências de ter sido agredido
de alguma forma.
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
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2 comentários:
Essa agressão pode até mesmo nem ter ocorrido na realidade não é? (teoria do trauma)
Também penso por aí, Professor Renato. Na instalação de um possível gozo sado-masoquista.
A grande questão, contudo, além do diagnóstico, está na direção da cura. Ou seja, parafraseando Sartre, 'o que fazer com aquilo que fizeram comigo' - no caso, con as agressões sofridas (traumáticas)?
Você apontou a direção: elaborar sem repetir (Freud).
Obrigado pelo texto.
Abraços.
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