quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

AGRESSÃO À CRIANÇA


Hostilidade ao incapaz

Seja na tentativa do diagnóstico, ou mesmo em qualquer proposta que tenha o intuito de levantar possíveis consequências implicadas nas experiências emocionais, esse tipo de tarefa estará sempre enquadrada nas suposições e não passarão de hipóteses, já que essa dimensão das relações humanas guarda características muito particulares em cada caso.

Sendo assim, qualquer tentativa de exame de saúde da mente, deve, sem duvida, ser acompanhado de um olhar cuidadoso e dedicado do caso específico em suas particularidades. Tentativas de rotulação e generalização são especialmente prejudiciais e perigosas em se tratando da vida emocional. Dessa forma fica claro que, rotular as dores da alma é inútil sem o cuidado dedicado para com o sujeito que sofre e que a habilidade em diagnosticar uma patologia mental não garante a capacidade de acolhê-la.
Quando nos propomos a pensar nas consequências emocionais que possam acarretar para uma criança que tenha sido agredida por um adulto, inúmeras hipóteses podem ser levantadas e todas elas partem do pressuposto de que essa que foi agredida não possuía capacidade de se defender daquilo que a hostilizava.

Uma situação desse tipo caracteriza-se num trauma, um conjunto de perturbações causadas por um ferimento na mente e sendo assim tenderá buscar maneiras de “curar-se”. Buscará repetir-se até que encontre a chance de elaboração. Numa tentativa de levantar recursos defensivos para lidar com a agressão, a mente repete de alguma maneira a situação.

Poderíamos aqui levantar duas formas básicas de repetição da experiência traumática, pelo menos a priori. A situação pós-traumática pode seguir um curso onde a repetição aconteça de forma interna. Interna por se tratar de certa formação imaginativa sobre a experiência traumática. Uma imaginação persistente que encontrará grande dificuldade para dissolver-se no confronto com a realidade externa. A criança tenderá repetir essa imposição hostil da realidade fechando-se para as experiências da vida numa incapacidade de confiar no outro. Cada nova relação estará povoada de desconfianças nesse outro que sempre guardará uma suspeita (imaginária) de que cedo ou tarde, também o agredirá, de alguma forma.
 Essa tendência, dependendo do grau de evolução da maturidade emocional, pode manifestar-se desde uma timidez excessiva até modelos mais severos onde o sujeito se tornando uma “eterna vitima” das circunstâncias. Dessa maneira, segue construindo suas novas ligações afetivas sempre com a característica de ser realmente hostilizada pelo outro.
Por outro lado, a situação de agressão à criança pode seguir num segundo modelo de desfecho. A forma perversa ou externa de manifestação da repetição do trauma. O sujeito agredido pode desenvolver, de forma inversa ao primeiro modelo, características obsessivas de agressor. Da mesma forma que aquele que o agrediu fazia, já que muito provavelmente aquele que agride revelará em sua história de vida, experiências de ter sido agredido de alguma forma.
Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866 
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

2 comentários:

Unknown disse...

Essa agressão pode até mesmo nem ter ocorrido na realidade não é? (teoria do trauma)

Unknown disse...

Também penso por aí, Professor Renato. Na instalação de um possível gozo sado-masoquista.
A grande questão, contudo, além do diagnóstico, está na direção da cura. Ou seja, parafraseando Sartre, 'o que fazer com aquilo que fizeram comigo' - no caso, con as agressões sofridas (traumáticas)?
Você apontou a direção: elaborar sem repetir (Freud).
Obrigado pelo texto.
Abraços.