segunda-feira, 15 de abril de 2013

Medo do antigo



Não é novidade alguma o fato de que o novo é recebido com estranhamento e causa medo em seu prenúncio. Experimentamos certo desconforto sempre que nos é apresentada uma situação nova.

A psicanálise nos ensinou que a criança vive em constante estado de identificação.
Ela só se aproxima das coisas por identificar-se com elas, rechaçando eementemente, com um choro compulsivo, tudo aquilo que lhe é estranho ou diferente.
O inusitado é motivo de desconforto, seja quando não houve chance de se preparar para o que iria ocorrer; experimentando assim de certa dor traumática, ou mesmo
quando somos anunciados anteriormente sobre o novo e a partir dai passamos a sofrer cada período de ansiedade até que chegue seu momento.
A ideia do novo sempre traz consigo o estigma assustador do diferente. É a ausência de garantias, e o ser humano em geral é bem primário ao lidar com a falta de garantias. Na maioria das vezes, nos desesperamos ao perceber que estamos sem garantias. Clamamos por certezas e, muitas vezes, chegamos a criar certezas sem
nos preocupar muito se estão fundadas na realidade ou se são frutos de fantasias geradas muito mais pelo “desejo de que fosse”, do que pelo que “realmente é”.
Amiúde nos vemos criando formas para o adiamento do que esta por vir, na criação de mecanismos que capacitam a defesa da mente, quanto ao que aguarda no futuro ou mesmo, na tarefa de adaptação, para vivermos a situação nova. Chegamos a negar o novo ao ponto de não enxergarmos que na realidade ele já chegou.
Negamos que o novo chegou e recusamos, com ironia, qualquer sinal que venha da realidade.
De qualquer forma, e se excluirmos inúmeras questões conflituosas que rodeiam esse tema, imagino que poderíamos chegar à conclusão de que, no mínimo o novo assusta.
A proposta então é percebermos que o fato mais assustador, que ocorre no encontro com o novo, é justamente o risco de que ele nunca venha. É quando nos percebemos andando em círculos.
Vemo-nos repetindo certos padrões antigos e primitivos de relacionamentos com pessoas novas que acabamos de conhecer. Ligamo-nos ás coisas como se elas
nos dominassem.
Assim, surge a questão: o que nos bota medo é o novo, ou justamente a desesperança em forma de repetição?
Muito complexo o processo de desligamento daquilo que passou. Difícil a tarefa de se libertar do passado. Tememos o passado, pois, nele está nossa culpa e assim ficamos devedores submissos a ele. Sedentos pelo novo, que liberta, contudo temerosos da culpa por abandonar o passado, lugar de nossa origem.
Esse é, talvez, o maior medo, o de não darmos conta da tarefa de receber o novo e ceder a mais uma volta repetitiva do passado.
É dura a tarefa de se propor sofrer com a chegada do novo, porém o verdadeiro infortúnio é a impossibilidade de vivê-lo.






Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866 
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

Um comentário:

Unknown disse...

Muito obrigado, excelente!