Não é novidade alguma o fato de que o novo é recebido com
estranhamento e causa medo em seu prenúncio. Experimentamos certo desconforto
sempre que nos é apresentada uma situação nova.
A psicanálise nos ensinou que a criança vive em constante estado
de identificação.
Ela só se aproxima das coisas por identificar-se com elas,
rechaçando eementemente, com um choro compulsivo, tudo aquilo que lhe é
estranho ou diferente.
O inusitado é motivo de desconforto, seja quando não houve chance
de se preparar para o que iria ocorrer; experimentando assim de certa dor
traumática, ou mesmo
quando somos anunciados anteriormente sobre o novo e a partir dai
passamos a sofrer cada período de ansiedade até que chegue seu momento.
A ideia do novo sempre traz consigo o estigma assustador do
diferente. É a ausência de garantias, e o ser humano em geral é bem primário ao
lidar com a falta de garantias. Na maioria das vezes, nos desesperamos ao
perceber que estamos sem garantias. Clamamos por certezas e, muitas vezes,
chegamos a criar certezas sem
nos preocupar muito se estão fundadas na realidade ou se são
frutos de fantasias geradas muito mais pelo “desejo de que fosse”, do que pelo
que “realmente é”.
Amiúde nos vemos criando formas para o adiamento do que esta por
vir, na criação de mecanismos que capacitam a defesa da mente, quanto ao que
aguarda no futuro ou mesmo, na tarefa de adaptação, para vivermos a situação
nova. Chegamos a negar o novo ao ponto de não enxergarmos que na realidade ele
já chegou.
Negamos que o novo chegou e recusamos, com ironia, qualquer sinal
que venha da realidade.
De qualquer forma, e se excluirmos inúmeras questões conflituosas
que rodeiam esse tema, imagino que poderíamos chegar à conclusão de que, no
mínimo o novo assusta.
A proposta então é percebermos que o fato mais assustador, que
ocorre no encontro com o novo, é justamente o risco de que ele nunca venha. É
quando nos percebemos andando em círculos.
Vemo-nos repetindo certos padrões antigos e primitivos de
relacionamentos com pessoas novas que acabamos de conhecer. Ligamo-nos ás coisas
como se elas
nos dominassem.
Assim, surge a questão: o que nos bota medo é o novo, ou justamente a desesperança em
forma de repetição?
Muito complexo o processo de desligamento daquilo que passou.
Difícil a tarefa de se libertar do passado. Tememos o passado, pois, nele está
nossa culpa e assim ficamos devedores submissos a ele. Sedentos pelo novo, que
liberta, contudo temerosos da culpa por abandonar o passado, lugar de nossa
origem.
É dura a tarefa de se propor sofrer com a chegada do novo, porém o
verdadeiro infortúnio é a impossibilidade de vivê-lo.
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com
Um comentário:
Muito obrigado, excelente!
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