A procura por tornar-se uma boa companhia pra si mesmo é sem dúvida uma tarefa inesgotável. Entretanto, a questão é: como ser amigo de si mesmo sem nunca ter tido um modelo pra isso? Quando falamos da possibilidade de um dialogo bem sucedido consigo mesmo, isso dependerá diretamente da possibilidade de ter mantido um dialogo saudável com o outro, anteriormente, não sendo provável que aconteça sem essa condição.
O que acontece é que as pessoas costumam fugir das conversas com elas mesmas, por temerem um dialogo cheio de acusações e críticas pesadas. Isso, pois provavelmente foi só o que tiveram nas conversas com o outro e de tal modo, não encontram experiências de diálogos mais saudáveis na sua história de vida. Por conta disso o que acontece é um empobrecimento na autoconfiança e o dialogo interno se dá através de um clima hostil que tende a gerar transtornos mentais e até patologias graves.
No processo psicoterapêutico isso fica muito claro, onde, através do vínculo estabelecido entre psicoterapeuta e paciente é possível para esse ultimo criar um modelo de vínculo consigo mesmo. Não se trata de uma proposta de completar o outro, mas fornecer modelos para um dialogo interno que proporciona a integração do eu que vive em conflito consigo mesmo.
Penso ser realmente muito importante desenvolver um dialogo interno que possa ser digno de confiança para nos orientar na busca pelas respostas da vida, mas não acredito que isso possa acontecer sem ter sido precedido pelo vínculo com o outro, como resultado dessa experiência.
Amizades sinceras e irrigadas de afeto servirão de modelos mesmo quando os amigos não estiverem mais juntos, por algum motivo. Isso ocorre através de uma recordação (re - novamente, cor- coração e dar - doar). Não saberemos como acolher a nós mesmos para sentirmo-nos bem sozinhos, sem que antes tenhamos aprendido isso através do acolhimento do outro. Imaginar que seremos capazes de lidar sozinhos com as questões que a vida nos traz faz parte de uma ilusão narcisista. Só aprenderemos a ser uma boa companhia para nós mesmos tendo um bom companheiro para instruir-nos nisso e na ordem natural das coisas isso seria papel dos pais, porém pode ser possível encontrar esse modelo pra além desses vínculos primários.
Estou de acordo que as respostas estão sempre no mundo interno, entretanto é necessário que exista uma relação com o mundo (externo) para que isso possa se realizar. A psicanálise nos mostrou de forma clara que a personalidade é formada, nutre-se e se desenvolve através dos vínculos bem sucedidos com o outro e por outro lado, padece na medida em que esses vínculos fracassam.
A qualidade do dialogo que podemos travar com nós mesmos depende de um dialogo estabelecido com o outro, sendo que antes disso não teremos recursos de integração do eu o suficiente para essa ordem tão nobre e elevada das experiências psíquicas. Na realidade só iniciamos o processo do pensar a partir da entrada do outro, antes disso o que fazemos é simplesmente imaginar.
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-991910375
prof.renatodiasmartino@gmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/
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