O modelo de
vínculo onde a mulher é representada como um objeto que se pode obter e ser
usado, padece pela imaturidade emocional da dupla. Maturidade insuficiente essa
que torna vulnerável o sujeito e compromete a saúde do vínculo. Tanto homens
que imaginam possuir o objeto (mulher) quanto mulheres que se dispõem como
objeto passivo de ser possuído, revelam incapacidades emocionais (do eu para si
mesmo) que refletem diretamente na inaptidão dos relacionamentos (do eu para o
outro).
Várias são as
possibilidades e configurações nos relacionamentos onde um se dispõe a ser
usado pelo outro para obter algum benefício, sendo provavelmente a forma que
permite maior possibilidade de observação e a mais comum àquela que tem a
satisfação sexual como objetivo do uso. A articulação que deu à prostituição o
apelido de “profissão mais antiga do mundo”, encontra aqui uma justificativa.
Ora, não é
novidade alguma o fato de que o homem sente diversos desconfortos físicos que
logo se desdobram na dimensão mental, quando privado de sexo. A partir do ponto de vista biológico, essa
privação cria no homem saudável, uma ânsia que é gerada pela necessidade de
evacuação do material seminal, continuamente produzido durante sua vida toda.
Assim, ele permanece estando naturalmente, na maioria do tempo disponível ao
sexo. Por outro lado, a tolerância da mulher parece ser bem maior frente à
privação sexual. A mulher ovula uma vez por mês e, pelo menos fisiologicamente
estará disponível para o sexo apenas alguns dias durante o mês. Além disso, no
período pré-menstrual ocorre uma concentração de hormônios sexuais que são
normalmente geradores de inúmeros sintomas como irritabilidade, dor nas mamas e
agressividade.
Nessa ocasião a mulher fica extremamente sensível emocionalmente
e assim, indisposta para o sexo.
Essa configuração
de necessidades orgânicas impulsiona a oferta de mulheres que se propõem a
oferecerem-se como objeto sexual, tentando obter lucro com isso e esse mesmo
esquema força também homens a procurar esse tipo de oferta. Muitas vezes o
desejo dele por sexo faz com que imagine que ela compartilha disso também,
enquanto ela o faz por outros motivos dos quais ele desconhece. Ainda assim,
ele prefere acreditar que ela também deseja sexo tanto quanto ele, muitas vezes
tentando justificar por inúmeras razões improváveis as frequentes situações de
indisponibilidades dela.
Os desencontros da sexualidade entre gêneros muitas
vezes propiciam inúmeras frustrações e experiências traumáticas que podem levar
à certa intolerância com o sexo oposto e até propiciar a escolha homossexual,
onde o tempo de cada indivíduo pode encontrar maior harmonização com do outro.
Fatores orgânicos,
assim como influências histórico-sociais, nas características do modelo
patriarcal podem estimular a experiência do relacionamento onde um se dispõe
como objeto e outro como possuidor, porém, a imaturidade emocional e a saúde
dos vínculos são definidoras, independente da época em que se vive, ou ainda
quanto a configuração orgânica. O imaturo emocional é essencialmente um egoísta
e sendo egoísta seu objetivo imperioso é o de satisfazer a si mesmo
independente do que isso possa causar no outro. Por conta disso ele não
consegue manter vínculos por muito tempo se não encontrar motivos egoístas
resguardando a união.
De qualquer forma,
os desencontros da sexualidade humana nos deixam reflexivos quanto à função de
ligação, num encontro que promoveria a proliferação da espécie, naturalmente
presente nos animais biologicamente mais evoluídos.
Bem, os
desencontros na sexualidade humana têm ainda motivos que iniciam muito cedo na
vida emocional. Enquanto é natural para o homem ter a chance do contato com o
corpo feminino, isso só ocorrerá de maneira esporádica na vida de uma menina,
em relação ao corpo masculino.
O menino tem o primeiro contato com o corpo
feminino coincidindo com o primeiro contato que tem com outra pessoa, isso
dentro da perspectiva da relação primitiva com a mãe. Além disso, se tiver a
sorte de tê-la presente por mais alguns anos, experimentará frequentemente, do
toque feminino em suas partes mais intimas, por conta do cuidado que ela
dedicará a sua higiene e outras manutenções de maternagem. Se ainda assim não
for sua mãe quem cumpre essa função, certamente será outra mulher, como a avó,
a babá... Já na experiência da menina, o contato com o corpo masculino é uma
ocorrência muito incomum.
Sigmund Freud (1856-1939) |
“No caso do homem, a mãe se torna para ele o primeiro objeto amoroso como resultado do fato de alimentá-lo e de
tomar conta dele, permanecendo assim até ser substituída por alguém que se lhe
assemelhe ou dela se derive. Também o primeiro objeto de uma mulher tem de ser
a mãe; as condições primárias para uma escolha de objeto são, naturalmente, as
mesmas para todas as crianças. Ao final do desenvolvimento dela, porém, seu pai
– um homem – deveria ter-se tornado seu novo objeto amoroso.” (Freud em
SEXUALIDADE FEMININA, 1931)
Entretanto, o
contato da menina com seu pai é frequentemente povoado de experiências
assustadoras. Que isso se dê em princípio pelo simples fato de ele ser quem dilui
o paraíso simbiótico do relacionamento mãe/bebê, desenhando-se de início como
uma ameaça, ou como um rival na posse da mãe. A partir dessa experiência
inicia-se um conflituoso processo para se construir a intimidade afetiva entre
pai e filha. Isso quando ele é presente e dedicado à relação com ela. No
entanto quando o pai é ausente e a menina não tem a chance de ter contato com o
primeiro homem da sua vida, na segurança dos braços de seu pai, será então
muito complicada a inteiração nas próximas experiências dessa ordem. Abre-se um
precedente onde se deve contar com a sorte, quanto a quem será o homem do qual
terá esse primeiro contato, já que o pai não pode cumprir tal função.
Seja pelo motivo
que for, a primeira aproximação é sempre egoísta e o desencontro estará tão
presente quanto a possibilidade de ligação, mas a dissolução do egoísmo requer
a combinação da tolerância e do limite e tem fundamental importância num bom
relacionamento sexual, como extensão de um bom vínculo afetivo.
O grande problema
não é iniciar um vínculo com (ou por) sexo, mas talvez seja, esperar que ele se
mantenha e continue existindo só pelo sexo. O sexo foi ilustrado por Freud
(1856-1939) através do mito de Eros e manifesta-se por impulso como
oportunidade de aproximar-se e talvez ligar às pessoas. Mas, para que se
efetive o vínculo como saudável, alguns aspectos precisam ser aprimorados. Algo
precisa ser construído, pois um impulso por si só não permanece por muito tempo
na realidade, é fugaz. No caso do vínculo mantido por impulso sexual, quando o
impulso não está se manifestando o vínculo perde o sentido. Isso toma uma
dimensão especialmente importante se concordarmos que a saúde dos vínculos está
calcada mais na durabilidade e menos na intensidade.
Sendo a paixão uma
forma de amor ausente da verdade, quando estamos amando aquele do qual pouco reconhecemos, na verdade, somos atraídos por aquilo que desejamos e que é
projetado nele. O que imaginamos que ele seja e não o que ele realmente pode
ser. Assim, quando entra a verdade e passamos a reconhecer o outro, a paixão é
ameaçada. A isso damos o nome popular de crise conjugal. A partir daí, evolui, se tornando amor verdadeiro, ou regride, culminando no rompimento. Essa expansão e os
aprimoramentos do vínculo demandam de tempo e de muito cuidado com o eu e com o
outro. Aproximamo-nos do outro, em primeiro momento, por identificação, nos
misturamos com ele, só aos poucos passa a ser possível perceber quem ele
realmente pode ser e o que desejávamos que ele fosse.
Fone: 17- 991910375
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3 comentários:
Incrível!
Muito bom meu querido. Sempre grata pela sua contribuiçao.
Se levarmos em conta que sexo tem a ver com a pulsão e não com instinto, não ter emos problema com sexo, já que a pulsão aceita qualquer objeto na função sexual, ao contrário do instinto que tem objeto fixo. Logo teríamos o prazer sexual A MÃO a hora que quisermos.
O problema do humano é outro, de ordem afetiva e de castração de seu poder de realização de desejos.
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