terça-feira, 10 de outubro de 2023

DEPENDÊNCIA, CONFIANÇA E INDEPENDÊNCIA - Prof. Renato Dias Martino



Essa questão precisa ser pensada com muito cuidado. Porque, muitas vezes, a gente começa a olhar pra dependência como algo patológico. E isso também é outro vício psiquiátrico. 

DEPENDÊNCIA

A dependência não é patológica, a dependência precisa ser vivida. Eu preciso depender do outro, porque só dependendo do outro que eu vou conseguir me independer do outro. Então, se o amor verdadeiro acontece a partir da independência do outro, ou seja, quando eu não dependo mais do outro, eu começo a desenvolver um amor verdadeiro. Um dia eu precisei depender dele, porque senão esse amor verdadeiro não vai ser desenvolvido. Então, só pode ser independente aquele que um dia dependeu. Então, a dependência não é patológica, ela é saudável quando o cuidado é suficientemente bom. Como é o cuidado suficientemente bom? É quando aquele que cuida vai percebendo a autonomia do outro e vai se retirando para que o outro possa viver esta autonomia.

CONFIANÇA

Qual é o elemento fundamental para que possa haver essa independência da criança, ou esta independência do paciente dentro deste modelo que a gente está usando aqui? É a confiança. Confiar que o paciente vai conseguir andar com as suas próprias pernas, confiar que a criança vai aprender a andar com as suas próprias pernas. A confiança é um elemento fundamental para o desenvolvimento emocional-afetivo. Qual é a origem da palavra confiar? “COM” quer dizer “junto” e “FIAR” quer dizer “fiança”, “crédito”, “acreditar juntos”. Então, a confiança é um fio que é mantido, um vínculo que é mantido entre as partes, onde um acredita no outro. Confiança não é um unilateral. Não existe confiança unilateral, a confiança é mutua para ser verdadeira.

INDEPENDÊNCIA

Quando o paciente chega para mim e diz assim: “Eu acho que eu estou dependente da análise”. Eu fico muito contente. Sabe por quê? Não pela satisfação de que alguém depende de mim, mas porque eu sou ciente, eu tenho consciência da minha função, que é me tornar desnecessário. Eu, dentro da minha função de me tornar desnecessário, eu vou propiciar o ambiente para que este paciente possa se independer de mim e é muito bonito isso. O paciente vive etapas. A primeira etapa, quando ele vive uma situação difícil ele fala assim: “Puxa vida! O que será que meu analista faria nesse momento, hein?” Numa outra etapa ele diria assim: “O que o meu psicanalista faria se ele estivesse comigo neste momento” E na terceira etapa, ele diria assim: “Eu tenho consciência do que seria melhor para mim, tenho um diálogo com o meu psicanalista internalizado. Então, ele já não tem mais essa figura destacada do psicanalista, mas é ele sendo ele mesmo. A partir do modelo que foi vivido na dupla psicanalítica.

DUPLA BEM-SUCEDIDA 

É muito importante que a gente possa reconhecer que o sucesso do desenvolvimento do paciente não é, de maneira alguma, uma característica daquilo que o analista faz, mas é daquilo que a dupla realiza. Então, assim: “É graças a você que eu melhorei” Não! Não é graças a mim, é graças a nós, é graças a confiança, a fiança compartilhada. É graças a sua confiança e a minha confiança de que a nossa dupla poderia ser bem-sucedida. Ser bem-sucedida de que forma? Tendo sucesso sempre? Não! Sendo capaz de aprender com cada experiência.



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