segunda-feira, 21 de outubro de 2024

DA INVEJA A GRATIDÃO - Prof. Renato Dias Martino



Em 1957 a Melanie Klein, publica INVEJA E GRATIDÃO e ela planta uma sementinha para gente refletir sobre a relação da inveja e do sentimento de gratidão. Do sentimento de inveja e do sentimento de gratidão. 

GRATIDÃO

Quando a gente fala de gratidão, nós estamos falando de um sentimento. Gratidão é um sentimento e ninguém escolhe o que sentir. Então gratidão é um desdobramento de uma experiência que vai levar sujeito à maturidade emocional e não uma escolha. Então, você não escolhe ser grato você vive experiências que vão te levar a sentir gratidão. Isso é muito importante. Muitas vezes, a gente vê nas redes sociais: “Ah! você tem que ser grato!” Não! Você não tem que ser grato! Você vai ser grato na medida em que você conseguir viver experiências junto com o outro, que te leve a desenvolver o sentimento de gratidão. Eu preciso do outro para que eu possa sentir gratidão. Ninguém desenvolve uma possibilidade de sentir gratidão sem ter experiências afetivas com o outro.

INVEJA

 A inveja é um sentimento que vai espontaneamente brotar no sujeito. Também, ninguém escolhe sentir inveja, ou deixar de sentir inveja. Na terra infância, a Melanie Klein vai dizer que quando o bebê começa a perceber que a mãe traz para ele uma série de elementos que ele próprio, sozinho não consegue, ele passa sentir inveja da mãe. Ele sente inveja da mãe. O que a gente está chamando de inveja aqui? Inveja é admiração sem capacidade. Então, o bebê passa a admirar a mãe, mas ele não tem capacidade daquilo, logo, configura-se em inveja. Esta inveja, ela vai seguir alguns caminhos. Alguns nocivos e um saudável. Dois caminhos nocivos que a gente poderia enumerar aqui. Voracidade, o bebê querer devorar a mãe, incorporar a mãe para conseguir tudo aquilo que ele inveja e o outro é depreciação. Ah! Isso aí não presta mesmo! Para aplacar a inveja. Os dois formatos são nocivos e uma via saudável. Qual é a via saudável? Quando a mãe é generosa. Quando a mãe é capaz de suprir suficientemente bem as necessidades do bebê, daquilo que ele não dá conta sozinho e que ela pode fazer. Ele passa a desenvolver a gratidão por essa mãe. Ele passa a ser grato porque ela dá para ele aquilo que sozinho ele não consegue fazer. Isso não só na vida do bebê. Um adulto, por exemplo, dentro da análise a gente vê isso. Muitas vezes, o paciente, ele sente inveja do analista, porque ele se sente tão bem perto do analista e longe do analista ele não consegue fazer isso sozinho. Então, ele passa a sentir inveja do poder que o analista tem em relação a ele. Dele se sentir bem, dele se sentir protegido, dele se sentir seguro, mas quando ele está longe ele se sente inseguro, ele sente desprotegido. Ele fala assim com ele mesmo: “Puxa vida, mas o que esse cara tem que eu não consigo fazer sozinho?” Ou ele começa a ser atacado pelo próprio superego dele, dizendo assim: “Está vendo, óh? Você é um banana, você não consegue fazer isso aí sozinho. Você é dependente do teu analista.” Então, ele passa a ter inveja do analista nas capacidades, no poder que o analista tem em relação ao seu funcionamento emocional e afetivo. Só que, aos pouquinhos se ele for capaz de tolerar esta inveja, ele vai devagarinho, aprender o funcionamento que a dupla tem e internalizar isso para que ele possa fazer consigo mesmo. E quando ele consegue internalizar este modelo, quando ele consegue acolher a si mesmo, assim como o analista o acolhe, ele passa a ser grato ao analista. Então, o que um dia foi inveja, passou pelo acolhimento, se transformou em gratidão. 

PRÀTICA

Com alguns anos de psicanálise, né? A gente experimenta algumas vezes, até o paciente que é sincero o suficiente para falar: “Um dia eu senti inveja de você, mas hoje eu sou grato a isso aqui”. É uma experiência bonita. Aliás, a psicanálise é bonita. A psicanálise é bela. Não deixa de ser triste. Não deixa de ser dolorosa, mas é bela. Contemplação! O contemplar, por mais que seja doloroso, contemplar, por mais que seja doído. COM + TEMPLO. COM = junto e TEMPLO = local sagrado. Um ambiente sagrado, por mais que não seja um ambiente físico, hoje a gente tem a psicanálise online aí, se forma um ambiente emocional-afetivo sagrado, por isso uma contemplação.



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