PENSAR
A psicanálise é um ambiente de pensamento, é um ambiente de configuração emocional e afetiva. E isso tem muito pouco a ver com efetivar ações. Não é função do psicanalista estimular ações, estimular atitudes. Isso precisa ser de inteira responsabilidade do paciente. O nosso campo é de pensamento, é de reflexão, é de acolhimento, é de preparação emocional e afetiva. Muitas vezes, o paciente traz alguma experiência e essa experiência pode ser fruto de uma alucinação. E essa experiência não é necessariamente peculiar de um paciente que tem a predominância psicótica do seu funcionamento. Uma pessoa dita saudável pode trazer alucinações. Nós podemos produzir alucinações. Qualquer um de nós. Então, a gente precisa tomar o discurso do paciente como uma hipótese definitório que vai iniciar uma reflexão e não que vai levar a uma ação. Precisamos ter muito cuidado com o conteúdo que os pacientes estão trazendo para que a gente possa cuidar disso adequadamente. Vamos entrar na viagem do paciente, por assim dizer? Vamos! Mas, sem estimular atitudes, sem estimular ações, sem estimular atuações.
AGIR SEM PENSAR
Por que o sujeito age sem pensar, naquilo que o Freud chamou de atuação? Acting out! Por que ele faz isso? Porque pensar precisa incluir o outro, porque ele não consegue pensar. Pensar inclui o outro. Pensar! A palavra pensar vem do mesmo radical da palavra pesar. Eu preciso ter duas medidas. Eu preciso ter a minha medida daquilo que eu percebi, daquilo que eu imaginei e preciso ter a medida do outro, para que eu possa pesar isso, até chegar a um denominador que possa me orientar para uma ação adequada. Por isso a análise é tão importante. Para que eu possa ter no analista uma outra medida para pesar antes de agir.
REALIZAÇÃO
Toda realização vem de uma imaginação. Primeiro eu imagino e depois eu passo essa imaginação pelo teste da realidade e se essa imaginação passar por esse teste ela vai se tornar real, vai se realizar. Mas, para se realizar, eu preciso impreterivelmente do outro. Se não tiver o outro, não é real. Continua sendo ilusão. A psicanálise é uma ilusão, é uma imaginação, a priori, é uma imaginação. Ela vai passar a ser realidade na medida em que ela encontre uma dupla para se realizar. Antes disso, ela é apenas uma imaginação daquele que se propõe a ser psicanalista.
ÂNSIA DE SABER
Quando a gente fala de um sujeito que tem ânsia de saber, na realidade, essa ânsia vai fazer com que ele tente encaixar as experiências que ele vive naquilo que ele já sabia. Não que ele venha saber alguma coisa nova, não que ele venha conhecer alguma coisa nova, mas ele tende a enfiar, por assim dizer, aquilo que ele está supostamente conhecendo naquilo que ele já conhecia. Quando eu estou aberto, quando eu estou consciente da minha ignorância, portanto aberto a aprender, é que eu realmente posso vir a conhecer alguma coisa. Se é que é possível conhecer alguma coisa. Então, quando a gente vê aí, psicanalistas teóricos, psicanalistas que não vivem a prática clínica, nem da sua análise pessoal e nem no atendimento dos seus pacientes, este sujeito está imaginando psicanálise. Essa psicanálise não é real. A análise se realiza a partir do encontro com o outro. Só existe realização quando se inclui o outro na experiência. Se eu não incluo o outro, eu não posso chamar isso de realidade, ou de realização.
ETERNO APRENDIZ
Quando o sujeito não é capaz de tolerar a sua ignorância, tolerar que ele não sabe, ele vai de encontro da experiência para confirmar aquilo que ele já sabia, logo, esse pseudoconhecimento faz com que o sujeito se torne cada vez mais arrogante. Reafirmando que ele sabe, que aquilo realmente é do jeito que ele imaginava. Quando o sujeito está humildemente aberto, tolerando a sua ignorância, ele vai para experiência aberto a aprender realmente. Muito mais aberto a reconhecer, que quer dizer admitir a existência, do que conhecer, imaginando que ele sabe sobre aquilo. Porque o saber limita. Muitas vezes, a gente tem essa ideia de que o saber amplia. Não! O conhecimento limita o sujeito. Quando você conhece alguma coisa, você só conhece essa coisa é porque você separou essa coisa do todo. Quando você diz saber sobre alguma coisa, você só diz saber sobre isso porque você retirou essa coisa do contexto do todo então o sujeito que sabe por exemplo sobre São Paulo ele sabe só sobre São Paulo quando chegou o limite de município ele já não sabe mais nada então quando você sabe sobre alguma coisa você sabe sobre especificamente aquela coisa e quando você está aberto a aprender você precisa a abrir mão disso que você acha que conhece para que você possa se integrar ao todo e aí você se torna um eterno aprendiz aprendendo com cada experiência.
CONCORDIA COM A REALIDADE
a realidade não pode ser conhecida você pode conhecer o que é real mas você não pode conhecer a realidade Você pode conhecer o que é verdadeiro mas você não pode conhecer a verdade portanto tolerar a ignorância me aproxima da realidade para que eu possa junto com ela criar um acordo estar em concórdia com a realidade.
HUMILDEFICADOR
A psicanálise é um humildeficador. Instale um humildeficador na sua vida. Você passa pela psicanálise para se tornar mais humilde. E humilde em que sentido? No sentido de reconhecer o quanto somos ignorantes frente à realidade. E cada vez que a gente diz saber, nós estamos nos limitando mais ainda. Então, precisamos nos tornarmos humildes ao ponto de percebermos a amplitude da nossa ignorância.
Prof. Renato Dias Martino
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