sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Medo de compromisso (Matéria publicada no Jornal O Diário da Região)

Orlandeli/Editoria de Arte
Atualmente, é muito fácil encontrar pessoas em nosso convívio com aversão a dividir o mesmo teto ou juntar as escovas de dentes com um parceiro que queira tirar sua liberdade por mais de um fim de semana.







Gene e ambiente contribuem para medo de compromisso
Francine Moreno

Atualmente, é muito fácil encontrar pessoas em nosso convívio com aversão a dividir o mesmo teto ou juntar as escovas de dentes com um parceiro que queira tirar sua liberdade por mais de um fim de semana. O mais difícil é entender porque homens e mulheres escolhem a “solterice” como padrão de vida. Entretanto, o que pouco se imaginava foi comprovado por cientistas suecos do Instituto Karolinska. Eles constataram que alterações nos genes responsáveis pelo conjunto de laços emocionais predispõem tal comportamento. A explicação para a repugnância à vida a dois, de acordo com o geneticista Autran Junior, é que a monogamia sempre foi um fator fundamental para o desenvolvimento do comportamento social no cérebro e está influenciada por um hormônio denominado de AVP (Neuropeptide Arginine Vasopressin). Alterações do gene em seu local de produção dentro da célula ou mutações em seu gene localizado no DNA responsável pela síntese deste hormônio, causam alterações no comportamento afetivo. “Hoje, sabe-se que indivíduos portadores de mutações no gene AVP1A apresentam alterações nas concentrações do hormônio AVP e também no comportamento monogâmico.” Entretanto, Autran Junior diz que por mais que a genética apresente um grande avanço na tentativa de compreensão do comportamento humano, homens e mulheres são uma associação entre o genótipo (as características genéticas herdadas e suas respectivas mutações) e o fenótipo (características ambientais, culturais e sociais) que também moldam e modificam comportamento. Se a resposta à monogamia é uma estreita relação entre a biologia e a relação com o meio ambiente, é preciso entender a fobia em si. Encarada como característica puramente masculina, a fobia de compromisso hoje não se restringe apenas aos homens. As mulheres também sofrem e é cada vez mais freqüente.

A psicóloga Ana Monachesi, especialista em terapia e orientação sexual pela Famerp, afirma que no trabalho clínico, depara-se diariamente com este tipo de queixa tanto no público feminino quanto masculino. “As mulheres, entretanto, apresentam muito mais culpa, pois são alvo de um pensamento que percebe a mulher como frágil, que sempre busca relacionamentos para ter sucesso.”A psicologia explica que todo tipo de fobia é, em sua essência, um medo persistente, excessivo e incontrolável que causa sofrimento e prejudica de alguma forma. Nas fobias de compromisso ou relacionamento isto ocorre na relação afetivo-emocional com outra pessoa e acaba por causar grande sofrimento, já que a nossa sociedade valoriza os relacionamentos, e é por este motivo que os candidatos políticos sempre enfatizam seu tempo de casamento e bom convívio familiar.

O professor e psicoterapeuta Prof. Renato Dias Martino explica que um dos meios para explicar o medo de se relacionar afetivamente é a interessante divisão que faz entre o fator interno (impulsos, imaginações e fantasias) e o externo (o outro, objeto de desejo), pois é exatamente no vínculo que se pode criar entre um e outro que se instala certo medo de ligar-se. A barreira surge quando não se teve uma boa experiência primaria. “É imprescindível um modelo internalizado de relações de compromisso, para que se possa oferecer esse tipo de vínculo ao mundo externo.” Entendendo o comportamento, algumas atitudes podem fazer com que o medo se transforme em interesse pelo outro e é uma forma de fortalecer vínculos.
“Por se tratar de uma fobia, é muito difícil alguém conseguir êxito sozinho, pois não existe pílula que faça as pessoas renovarem o interesse pelo outro, mas é possível trabalhar para aumentar a intimidade e favorecer a troca afetivo-emocional das pessoas envolvidas”, diz Ana.
Relacionamento com fóbicos exige empenho
O investimento feito nos relacionamentos nunca é perfeito, e se relacionar com alguém fóbico é ainda mais difícil. Então será que vale a pena investir nesta relação? A psicóloga Ana Monachesi explica que antes de tudo, o interessado deve estar ciente do que acontece com pessoas que ficam encravadas em homens e mulheres com fobia de compromisso. “Lidar com o difícil, o penoso e frustrante.” A psicóloga explica que algumas pessoas têm uma capacidade maior para lidar com tais complicações relacionais e conseguem completude ao lado de alguém que tem tanta dificuldade em se relacionar. “Não existe parâmetro, apenas bom senso de perceber até onde se pode chegar sem se machucar com a situação”, completa.

Professor Renato Dias Martino explica que pessoas que aceitam se relacionar e persistem em relações desse modelo, muito provavelmente, apresentam também um medo análogo, contudo com o benefício de que o outro é que carrega o rótulo do fóbico. E assim, ninguém se encontra.
O sinal de um fóbico de relacionamento é que realmente apresenta essa qualidade de fobia, normalmente escolhe uma vida solitária e dificilmente se relaciona de forma mais próxima com os outros.
É também interessante saber que se a relação com um fóbico de compromisso já foi concretizada, ou seja, se existiu casamento, uma grande parte dessa fobia já se diluiu. Contudo, o casamento tanto pode surgir como protótipo de novas e consecutivas mudanças na direção de relacionar-se com o mundo, como um motivo de regressão, onde o próprio casamento se transforma em um novo esconderijo para se afastar do mundo.
Para evitar e desvendar o comportamento nas pessoas, Prof. Martino afirma que aquele que realmente está à procura de relações compromissadas dificilmente persiste em uma experiência com alguém que tem medo desse modelo de vínculo. Para compreender e ultrapassar os problemas relacionados com a fobia do compromisso, o medo da intimidade e a valorização individual, o psicólogo alerta que reconhecer o medo que se tem de relacionar-se compromissadamente é o primeiro passo. “Quando se tem medo da intimidade com os próprios desejos e medos, dificilmente se é capaz de intimidades com o outro. A valorização da individualidade vem exatamente da capacidade de se relacionar com o outro.”


Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

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