sexta-feira, 4 de agosto de 2023

INCERTEZA NA QUÂNTICA E NA PSICANÁLISE - Prof. Renato Dias Martino

Existem inúmeros fatores, dentro da ciência quântica, da física quântica, que concordam com a ciência psicanalítica. E aí, um nome extremamente importante dentro da física quântica é o Werner Heisenberg (1901 — 1976), que ele vai trazer a possibilidade de a gente perceber as coisas com um vértice do princípio da incerteza. Ele percebeu que, quando ele estudava uma partícula quântica. Ou seja, a menor partícula que se pode estudar, que se pode conhecer, ele precisava jogar um foco de luz nesta partícula, para que Ele pudesse estudar sem luz não tem como você visualizar esta coisa, mas quando ele jogava esse foco de luz nessa partícula, a luz trabalha através de partículas de fóton, essas partículas ao baterem nesta partícula que se tentava ser estudada interferia na possibilidade de estudo. Não tinha como ter uma certeza daquilo, porque todas as vezes que se iluminava isso, isso sofria uma mudança. É claro que não só a partir disso, mas um estudo muito maior, que eu estou tentando sintetizar de uma maneira extremamente grosseira aqui, mas não se pode ter uma precisão de uma partícula quântica por conta da luminosidade que é necessária para estudar, e aí, na psicanálise, isso surge como uma dádiva, porque não é a função do psicanalista, jogar luz no material que o paciente traz. A nossa função é justamente o contrário. Nós precisamos trazer a possibilidade de um foco de escuridão, nós precisamos apagar as luzes, para que o paciente possa se iluminar por si só. Não é função do analista iluminar alguma coisa, é função do psicanalista propicia é um ambiente de silêncio e de escuridão, para que o paciente possa iluminar-se por si só, iluminar as suas ideias. A luz não vem do analista, a luz vem do interior do paciente. Assim como um físico quântico, o psicanalista precisa, sempre abrir sua atenção, incluindo a possibilidade da incerteza. O Wilfred Ruprecht Bion (1897 - 1979), vai chamar isso daí de “capacidade negativa”, da possibilidade de viver uma incerteza, ou de não se convencer com um saber antecipado. Estar sempre aberto a algo que possa surgir, algo que possa estar ali, que ainda não tenha sido notado. O paciente chega na clínica sofrendo da certeza. Ele tem uma certeza e aquela certeza começa a conduzir a vida dele ao ponto de obstruir o fluxo na sua vida. Porque a vida incerta, porque a vida não tem uma saturação, porque a vida é transformação, porque a vida são possibilidades. Nos julgamos definidos, porém somos possibilidades. A física quântica contribui dentro nessa perspectiva para as formulações psicanalíticas, quando a gente é capaz de tolerar a incerteza, nós desobstruímos o fluxo da vida e permitimos que as coisas comecem a acontecer a partir das possibilidades. Esta certeza, que o paciente chega trazendo é colocada lá pela Melanie Klein (1882 — 1960) como um mecanismo de defesa da posição esquizoparanóide, naquela posição em que o sujeito cinde a realidade em bom e ruim. Este mecanismo de defesa, é o mecanismo de defesa da onisciência. Então, ele já sabe tudo e a partir do processo psicanalítico, ele vai dissolvendo isso. Ele vai percebendo, porque ele não sabe nada, que ele é um grande ignorante, como todos nós somos, mas aí ele passa a ter consciência desta ignorância e isso é libertador. Grande parte dos pacientes, sofrem justamente disso, de ter que saber. Nós vemos aí, sujeitos aí, propondo a física quântica como alguma coisa mágica, que faz com que você consiga tudo que você deseja, que é só você ficar pensando assim, ou assado, te dando ali tarefas ou exercício para que você... Não, a física quântica não é nada disso. Isso aí é um mau uso do que a gente chama de física quântica. Assim como nós temos inúmeros ditos psicanalistas, ou supostos psicanalistas usando a psicanálise no mesmo propósito, prometendo coisas ao outro, prometendo processos mágicos de conseguir o que o outro deseja. Não, não é nada disso! Tanto a física, quanto a psicanálise tem um pressuposto muito claro de tolerar a dúvida, tolerar a incerteza, ser capaz de tolerar o desconforto da sua própria ignorância. É justamente isso, ser capaz de renunciar ao desejo do que você gostaria que fosse para que você possa reconhecer a realidade, assim como ela é, e não como você gostaria que ela fosse. O psicanalista lida com o inconsciente. Se existe um conceito, um termo que baliza, ou que, na realidade fundamenta toda psicanálise, este conceito é o inconsciente. Se nós estamos falando de inconsciente, dentro da perspectiva psicoterapêutica, nós estamos falando de psicanálise. A descoberta do inconsciente foi a maior descoberta de Sigmund Freud (1856 - 1939), sem sombra de dúvida. Então, se o psicanalista lida com inconsciente, ele não pode lidar com o saber, porque o inconsciente não está disponível ao saber. Pode, na melhor hipótese, ser reconhecido, que diz respeito a admitir que existe e não saber sobre. Quando a gente está falando de psicanálise, quando a gente está falando de física quântica, quando a gente está falando de formulações religiosas, a gente está falando de ser capaz de tolerar a dúvida e não estar focado em um resultado pré-estabelecido. De ser capaz de tolerar o fluxo incerto da vida e não buscar a realização de um desejo. Então, tanto o crente que está lá na igreja tentando buscar com aquela estada ali, com aquele contato que ele tem com Deus, um benefício com isso, conseguir o seu lugarzinho no céu. O quanto o paciente que busca psicanálise buscando conseguir aquilo que ele tanto quer, ou realização do seu desejo. Quando os cientistas, que começa a estudar, não por uma descoberta científica, mas confirmar aquilo que ele já sabia, que ele supostamente já sabia. Todos estão equivocados! Um sujeito que não tem uma filosofia nobre, ele vai usar essa psicanálise para um mau propósito. Em todas as áreas, desde a medicina, passando pela psicanálise, passando pela ciência quântica, passando pela política, passando pela religião, passando por todas as os vértices aí, do conhecimento humano, nós temos esta configuração. Uma filosofia de péssima qualidade, conduz esse pensamento para o mal propósito.

Nenhum comentário: