quinta-feira, 28 de setembro de 2023

SOBRE OS PROCESSOS DA MENTE - Prof. Renato Dias Martino



O id é a parte mais selvagem do ser humano. É a parte mais indomada. A partir do momento que os elementos do id ganham noção de tempo e espaço, já não são mais elementos do id já passam a ser elementos do ego.

Noções de tempo e espaço são noções ilusórias. São criações humanas. Não existe tempo. O tempo é uma criação do ser humano. Por mais que os cientistas gostam de dizer que o tempo começou no Big Bang, ou qualquer outra coisa. Não! Antes deste evento já havia tempo e depois de qualquer evento, continuará existindo. Então, isso que a gente chama de noção de tempo é uma divisão criada pelo humano. Na verdade, nós vivemos no eterno. Esta é a realidade. E a perspectiva de espaço também. Nós dividimos o mundo em áreas, em pedaços e espaços, quando na realidade não temos a menor noção da questão do infinito. E isso, na realidade, causa um desconforto enorme para o ser humano, tanto a noção de tempo, quanto noção de espaço, na sua realidade, que é o eterno e o infinito, causa um desconforto no ser humano e por conta disso ele cria esses critérios de tempo e espaço.

Aquilo que é consciente tem uma proporção do que realmente é consciente e uma proporção do que é pré-consciente, uma proporção do que é inconsciente. Tudo aquilo que eu digo que eu sei, na realidade, tem uma parte que eu acho que eu não sei muito bem e por trás disso, tem uma parte enorme que eu realmente não tenho o menor conhecimento. Tudo é proporção, nunca, uma coisa é completamente inconsciente, que não seja uma pulsão. Algo que brota do id, que seja do instinto. Isto é inconsciente, a vontade inconsciente. Aquilo que porventura, tenta entrar em contato com o mundo externo e tenha de alguma forma sido registrada dentro das noções de tempo espaço, já não pode mais ser chamada de puramente inconsciente. Então, existe uma cota de consciência, ou de inconsciência, naquela experiência que eu vivo. E aí, quando a gente vê na literatura psicanalítica assim: “O reprimido é um elemento que tentou emergir para a consciência, mas foi censurado e voltou para o inconsciente”. Não! Nada volta para o inconsciente, porque se ele teve contato com a noção de tempo e espaço, ele não pode mais voltar para a origem. O inconsciente é fonte, é algo que jorra pulsão. Não volta nada para o inconsciente. Ele pode voltar para o pré-consciente, mas nunca para o inconsciente. Tudo aquilo que a gente chama de consciência tem sempre uma cota pré-consciente, ou seja, uma cota que eu sei, mas não sei, que eu tenho dúvida, ou seja, eu sei, mas eu não consigo comunicar para o outro e tem uma cota também inconsciente.

Eu gosto muito de usar a metáfora lá do Platão. Da caverna do Platão. Do MITO DA CAVERNA. Que ele diz que o sujeito saiu da caverna e depois o sujeito tenta voltar. Quando o sujeito volta, ele já não consegue mais ficar confortável lá dentro como ele ficava antigamente. Por que ele não consegue? Porque ele teve noção do mundo externo e aí ele não consegue mais ficar no inconsciente. Ele não concorda mais com aquele funcionamento. E aí, ele começa a perturbar os outros estão do lado. “Oooo! Sabia que tem um negócio lá fora?”, “Vamos lá fora ver?” O cara fala: “Você está maluco, cara? Você está delirando! Não tem nada lá fora. Que ‘lá fora’? Não existe lá fora!” Da mesma forma, um elemento que de alguma maneira teve contato com o mundo externo, ele não consegue mais retornar para a inconsciência, mas ele passa a um plano que, a gente, adequadamente vai chamar de pré-consciente, porque já tem noção de tempo e espaço.

Não tem botão de “desver”. Uma vez que você viu, está visto. Você pode até começar a inventar estórias para se defender daquilo que você viu e que te desagradou, e que você não dá conta de conviver com aquela ideia. Mas, foi visto, então não é mais inconsciente. Agora todo esforço é no sentido de criar recursos defensivos para lidar com isso, até que você seja capaz de tomar “definitivamente”, consciência disso. Mas, ainda assim, isso que você vai chamar tomar consciência disso e esse “definitivamente” com aspas bem em negrito aí, vai ser sempre uma cota, uma proporção. Eu nunca vou ter consciência total disso.

O Freud vai dizer assim: “Existe um processo primário, que trabalha, essencialmente, com o mundo, algo que vem para me satisfazer e tudo aquilo que não vem para me satisfazer eu simplesmente ignoro e que ele vai chamar de processo primário e o processo secundário, quando começa a haver conhecimento da realidade. Enquanto um funciona pelo princípio do prazer desprazer, o outro funciona pelo princípio da realidade. Mas mesmo dentro desse princípio da realidade, existe uma cota que não conseguiu passar de um para o outro e esta cota o Freud vai dizer, vai ser chamada de “fantasiar”. Ele vai falar isso aí lá no dois PRINCÍPIOS DO FUNCIONAMENTO MENTAL, de 1911, que é um texto básico, necessário. É um texto icônico e divisor de águas dentro da psicanálise. Fica o convite aí para ler.

Nos processos do desenvolvimento emocional-afetivo, não existe retorno, não existe regressão, não existe reversibilidade. Na realidade, não existe reversibilidade em nenhuma dimensão da natureza. Nada volta como era antes. o Nietzsche fala lá do Eterno Retorno, mas na realidade, assim, quando se retorna, aquele ponto já não se é mais o mesmo e aquele ponto já não é mais o mesmo ponto. Tudo está em transformação. O Bion, sugere a invariância e as transformações, mas, na realidade, a invariância também é temporária. Nada é invariante no mundo, nada permanece a mesma coisa no mundo.



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