domingo, 17 de setembro de 2023

INCONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE E CONSCIENTE - Prof. Renato Dias Martino



Quando a gente fala de inconsciente, pré-consciente e consciente, a gente precisa falar sempre de cotas. A única coisa que é genuinamente inconsciente é um instinto. Isso é genuinamente inconsciente. Todos os outros elementos do funcionamento psíquico têm uma cota inconsciente, pré-consciente e consciente. Existem elementos que são mais inconscientes e outros menos inconscientes. Tudo isso que você chama de consciência, na realidade, tem uma cota sempre por trás, que não é muito bem consciente, por trás disso tem algo que é completamente inconsciente. E aí, se a gente tiver falando então, de um elemento que sugere um “ideal de eu”, por exemplo, um ideal preestabelecido, isso nunca é totalmente inconsciente. Tem uma parte inconsciente, mas grande parte disso é pré-consciente, na realidade, porque precisou de um modelo externo para que você pudesse estabelecer este ideal. E aí, já não posso mais chamar de inconsciente, porque tem um contato com o mundo externo, tem um contato com o outro, tem um contato com o ideal preestabelecido de perfeição.

CONSCIÊNCIA

O que que a gente chama de consciência? De uma maneira bem simples é assim: A ciência compartilhada = com + ciência. Eu sei de alguma coisa e eu consigo compartilhar isso que eu sei com o outro. Isso eu chamo de consciência. O que é diferente do acordo com a realidade. Porque o acordo que eu tenho com a realidade independe do saber. Mas a consciência está subordinada ao entendimento, ao conhecimento, já que é ciência. Consciência! Eu tenho algo que eu sei e eu consigo comunicar isso ao outro, compartilhar isso com o outro, logo tenho consciência disso. Agora, existe a pré-consciência. A pré-consciência é quando eu sei, mas eu não consigo compartilhar com o outro, então é pré-consciente. eu ainda não consigo compartilhar com o outro. Então, todos os elementos que estão ali, dentro da mente, tem uma parte consciente e pré-consciente, só aquilo que é da ordem dos instintos, daquilo que é muito profundo, daquilo que nunca teve contato com o mundo externo, que eu posso, genuinamente chamar de inconsciente.

RENÚNCIA

A renúncia vai acontecer quanto ao elemento do desejo, ao objeto de desejo. Se é objeto do desejo ele está pré-consciente, ou consciente, nunca inconsciente. Aquilo que está no inconsciente é vontade, é básico, é necessidade. E quanto a isso, eu não tenho como renunciar, eu posso adiar a satisfação, mas renunciar, não tem como. porque é necessidade básica. Agora, quanto ao desejo eu posso renunciar porque não é básico porque na realidade é um elemento substituto daquilo que era da vontade anteriormente.

PARADOXO DO INCONSCIENTE

Na realidade, não existe formas de acessar o inconsciente. O inconsciente pode vir a emergir e aí você tem acesso a ele, mas quando ele emergiu, ele já não é mais inconsciente. Quando ele emergiu ele já é pré-consciente, ou consciente. o inconsciente é fonte, é algo que brota. Para você ter acesso a algo que é inconsciente, ele já não pode ser o mais inconsciente, porque o seu acesso já retira dele o atributo de inconsciência, mas traz para ele, já é uma cota de consciência.

REPRIMIDO

Conforme o ambiente que o sujeito está configurado, está inserido, os elementos estão mais conscientes, ou menos consciente. Por conta da ameaça que o sujeito acaba reprimindo aquilo, ao ponto de ele perder a consciência disso. Mas aquilo não voltou a ser inconsciente, mas está ali numa esfera tão reprimida que o sujeito perde o acesso aquilo, mas que em um outro momento, num momento onde ele esteja inserido num ambiente um pouco menos ameaçador, aquilo ali vai emergir, mas com características conscientes, porque foi reprimido.

EMERGIR PELO ACOLHIMENTO

A psicanálise, sobretudo o modelo da psicanálise acolhedora, ou a psicanálise do acolhimento, propicia um ambiente saudável o suficiente para que os elementos que estejam mais profundos, inconscientes, ou pré-conscientes, possam emergir, por conta da ausência de ameaças, sejam elas de julgamento, de crítica, ou de bajulação e sedução. Ausência desses elementos nocivos, faz com que o aparelho emocional-afetivo se sinta liberado para que possa emergir elementos que estavam ali, ou reprimidos no pré-consciente, ou até elementos inconscientes, que possam começar a aparecer ali para ganhar um pouco mais de clareza. 

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