quinta-feira, 13 de junho de 2024

PASSADO, FUTURO E PRESENTE - Prof. Renato Dias Martino



Qual é a proposta de se estudar o passado, o futuro e o presente? Essa ideia vem de uma sementinha que o Bion propôs. O Bion propõe, mais especificamente, ali, no ATENÇÃO E INTERPRETAÇÃO, publicado no Brasil em 1970. Ele propõe a ideia de que um psicanalista, para exercer a sua prática clínica, precisa rebaixar o máximo possível, do resgate dos dados armazenados na memória, ele precisa rebaixar o máximo possível da sua expectativa, do seu desejo e que ele seja capaz de tolerar a sua ignorância, logo, rebaixar a ânsia de saber. Que, na realidade, ânsia de encaixar a experiência presente naquilo que ele já sabia, ou naquilo que ele supostamente acreditava saber. Pensar, refletir sobre passado futuro e presente é uma necessidade dentro da manutenção das articulações no manejo da prática clínica. Se ele estiver sendo capaz de rebaixar ao máximo a sua memória, a sua expectativa e a sua ânsia de saber, ele está sendo um psicanalista.

SABER

É importante a gente pensar também que, quando a gente fala de rebaixar a memória e rebaixar a expectativa, a gente está falando, diretamente, da questão do saber, do conhecer. O conhecimento depende do resgate de dados da memória. Quem conhece, conhece alguma coisa porque registrou alguma coisa na memória. E este resgate da memória vai acontecer justamente com uma tentativa de dar conta do futuro. E este resgate, também tem a ver com uma angústia de reconhecer que, aquilo que passou, passou. Não existe mais! Então, uma tentativa de resgatar a memória é deixar vivo aquilo que já morreu. Resgatar os dados da memória é uma defesa quanto a angústia daquilo que passou e que não volta mais e tentar aplicar esses dados no futuro, uma defesa contra o sentimento de ansiedade que é gerado pela perspectiva daquilo que virá.

MATERNÁGEM

O modelo freudiano da psicanálise, tem muito mais uma característica paterna, da função paterna, do que materna. Foi a partir das formulações da Melanie Klein que o modelo do analista passou a ganhar atributos da maternágem. Não é que perdeu as características da paternágem, por assim dizer, mas ganhou mais estas características, de holding segundo o Winnicott, de rêverie, ou função-alfa, segundo Bion. Ganhou essas características e o analista passou a trazer elementos da função materna também para o manejo da prática clínica. Dentro dessa perspectiva a proposta de rebaixar a memória, rebaixar o desejo e a compreensão, tem muito a ver também com a prática da maternágem, a prática da mãe. A mãe precisa rebaixar isso. A mãe precisa rebaixar aquilo que ela sabia sobre seu filho, porque o seu filho está em franco desenvolvimento. Porque, o seu bebê está em transformação constante. Cada dia a criança é uma outra pessoa e esta mãe precisa estar mais livre possível das suas expectativas em relação à criança, para que essa criança possa desenvolver de maneira saudável. Reconhecer esta criança a cada encontro, conhecer novamente e respeitar. RESPECTUS - RE = de novo + SPECTUS = prestar atenção, novamente e perceber o desenvolvimento dela.


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