domingo, 30 de junho de 2024

UNIVERSO COMO ELEMENTO DE PSICANÁLISE - Prof. Renato Dias Martino



ELEMENTO DE PSICANÁLISE

O Bion, lá no ELEMENTOS DE PSICANÁLISE, ele orienta que, para que algum elemento seja elemento de psicanálise, ele precisa de duas condições básicas, pelo menos. Que ela não fuja do seu significado original, que ela esteja de acordo com a semântica da palavra e o segundo é que ela possa se ligar aos outros elementos de psicanálise, criando assim aquilo que ele chamou de sistema de dedutivo teórico, ou sistema dedutivo científico. Para que a gente possa transformar o conceito “universo” ou experiência de universo, para a psicanálise dentro da perspectiva de um elemento psicanalítico, nós precisamos buscar resgatar a semântica da palavra e tentar alinhavar ou associar este elemento com outros elementos dentro da psicanálise. Então, vamos tentar fazer esse exercício juntos aqui.

UNIVERSO

Se a gente pensar a semântica da palavra universo, UNI quer dizer unificar e VERSO quer dizer vértice, aquilo que eu posso unificar num vértice. Vamos levar agora para prática clínica. Dentro do setting terapêutico nós criamos um universo. Este universo, a gente pode levar na perspectiva da ambiência, da psicosfera. Ali, na prática clínica na dupla no setting, no quadre do vínculo paciente e analista. Nós criamos um universo. Este universo, ele por mais que a gente chame de universo, ele não tem a conotação de uma bolha, por exemplo, porque ali estão sendo elaborados elementos que vão servir, não só para aquele universo, mas para expansão esses elementos têm o intuito fundamental de expansão o universo do setting terapêutico, ou universo da prática terapêutica é um universo em expansão, assim como os cientistas, os astrônomos têm a ideia do próprio universo que o universo está em expansão. Todo o desenvolvimento traz a ideia de expansão, isso não é diferente na prática clínica. O universo é o vértice Uno que é possível dentro do setting terapêutico, ou de qualquer outra perspectiva, mas que para ser saudável precisa estar em expansão.

UNIVERSO INDIVIDUAL 

Muitas vezes, a gente ouve as pessoas falando assim: “Ah! A realidade dele era essa...”. Não! A realidade é uma só. Ninguém tem sua realidade. Você tem seu universo, você tem o seu vértice de unidade. A realidade é uma só para todo mundo, o que muda é o universo de cada um. Ou seja, a capacidade de cada um de reconhecer esta realidade. O universo do sujeito tem aquela dimensão dentro da realidade, que é um universo maior. A “realidade última”, como diria o Bion.


UNIVERSO EM EXPANSÃO


Conforme o sujeito amadurece a sua dimensão emocional, conforme ele vai vivendo experiências que vão trazendo para ele maturidade emocional, que vai se desdobrar na maturidade afetiva, qualificando ele para isso, esta capacidade emocional e a capacidade afetiva vai fazendo com que ele possa expandindo esse universo em direção ao infinito. Eu gosto muito do modelo da espiral progressiva. O sujeito vai vivendo experiências de integração e desintegração e cada volta que ele dá nessa espiral progressiva, ele vai expandindo o seu universo em direção ao reconhecimento, da capacidade de respeitar e a responsabilização pela realidade.

UNIVERSO E O PENSAR

Nós precisamos, impreterivelmente, do outro para expandir o nosso universo. Não há como expandir o universo sem que eu possa contar com o outro. O universo vai expandir através do pensar, da possibilidade de pensar. Quando eu penso eu estou em expansão. Este pesar precisa de duas medidas. Esse “pesar”! A medida vem do outro. Não é? O contraponto vem do outro. Então, não há como pensar sozinho. Não há como expandir sozinho e esse é o exercício da própria psicanálise.

SONHO E REALIDADE

Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade. O Raul coloca no “Prelúdio”, mas na verdade isso daí é uma frase lá dos Cervantes no Dom Quixote de la Mancha. Sonho é, segundo Freud, a manifestação de um desejo. Ele vai falar que é realização alucinada de um desejo. O desejo, para se tornar real, ele precisa perpassar pelo outro, ele precisa incluir o outro. O outro vai fazer aquilo que a gente chama, em psicanálise de “quebra do narcisismo”. Porque o outro traz a noção da realidade e quando o outro traz a noção da realidade, esse sonho que era só um sonho que se sonhava só, passa a ser realidade. Traz uma conotação de um universo mais expansivo. Não só aquele desejo narcisista, mas agora a possibilidade da viabilidade da realização deste sonho. É muito bonito quando dois universos se juntam num universo só e a psicanálise é um recurso por excelência para propiciar essa possibilidade de união de universos.




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