terça-feira, 25 de junho de 2024

TOLERAR OU SUPORTAR - Prof. Renato Dias Martino



Suportar é carregar um peso. Suportar é aguentar um peso. Tolerar quer dizer ser capaz de sustentar a situação até que passe. Tolerar é ser capaz de sustentar aquilo que está acontecendo com a esperança de passar. Suportar é carregar aquele peso sem a esperança de que aquilo passe. Tolerância inclui o respeito. Então, eu tolero até que isso passe e se isso não passar eu me afasto. Suportar é permitir e eu não permito.

MELANCOLIA 

O processo do luto inclui a tolerância. Aprender a tolerar. O suportar tem a ver com o estado de melancolia. O melancólico carrega um peso, ele suporta o peso do objeto que foi perdido, do objeto morto. O processo do luto, está fundamentado na capacidade de tolerar frustrações. O que é tolerar frustrações? Tolerar frustrações é ser capaz de sustentar a situação até que a situação se transforme. Então, é necessário que se tenha esperança de que aquilo está em transformação e não só esperança, mas está disponível à transformação da experiência. Esta é a tolerância quem tolera, tolera com a proposta de que aquilo está se transformando. O luto é isso. Então, o sujeito perdeu alguma coisa no mundo externo, tolera até que o processo possa se dar e ele aprenda a conviver com a perda daquilo que se foi e passa a tolerar a ausência disso que se foi. Passou então, a tolerância está configurada num fluxo. O fluxo do processo. Sofrer o processo do luto depende da capacidade de tolerar. Cada luto que você é capaz de sofrer o processo, você amplia mais um pouco a sua capacidade de tolerância. Na melancolia é o contrário. Melancolia não é um processo que se sofre, a melancolia é um estado que se entra e se cristaliza. Um estado estático. E nesse estado estático, o sujeito, ele não tolera, ele suporta o peso daquilo que morreu e na realidade, ele não dá conta de tolerar, por isso suporta. E suportar isso, aguentar isso, traz o prejuízo de desgaste, traz o prejuízo de desperdiçar energia carregando o peso morto. Por isso, ele não consegue fazer mais nada, porque ele está suportando aquele peso morto. O melancólico, ele carrega nas costas aquilo que foi perdido e com este peso, esse sobrepeso, por assim dizer, ele não consegue caminhar. Ele não consegue fazer as coisas básicas da vida dele, porque a energia dele está sendo desperdiçada todinha em carregar aquele peso morto.

CONCEITO E EXPERIÊNCIA 

Que que tem falar suportar ou tolerar? Não! Não teria problema nenhum, se você não fosse psicanalista. Não teria problema nenhum se você tivesse falando, por exemplo, de uma caneca, ou chamando essa caneca de copo. Não tem problema, mas nós estamos aqui tratando da relação entre experiência e conceito. A nomeação de experiências. É necessário que a gente possa nomear adequadamente à experiências. Porque, muitas vezes, o seu paciente pode chegar dizendo assim: “olha, fulano me deu um tapa na cara, mas ele fez isso por amor”. Aí, você pergunta: “o que que você está chamando de amor?”. “Que conceito você está atribuindo para experiência de amor?” Isso, dentro da clínica, não é importante, é fundamental, porque senão, as palavras vão se desconectando do pensamento e das experiências.

TOLERÂNCIA E MATURIDADE

Uma coisa é a mãe tolerar a imaturidade da criança até que ela se desenvolva, outra coisa é uma mãe suportar a criança. Quando ela suporta esta criança, ela acaba obstruindo o desenvolvimento desta criança. Porque suportar diz respeito a aceitar assim como é. Tolerar, diz respeito a respeitar o processo que está em desenvolvimento. Quanto mais maduro emocionalmente o sujeito estiver, mais ele é capaz de tolerar e menos ele é capaz de suportar.

TOLERÂNCIA OU PERMISSIVIDADE 

Tolerância tem limite. Tolerar é a partir do reconhecimento do limite. Quando o sujeito reconhece o seu limite, ele tolera. Quando a situação passa do limite, ele tolera para se retirar, quando a situação está dentro do limite, ele tolera até que a situação se desenvolva e se transforme. A incapacidade de reconhecimento do limite invalida a tolerância. Se o sujeito não reconhecer o limite, a tolerância dele não é tolerância, é permissividade.



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