Quando a gente desenvolve a psicanálise do acolhimento, a gente está inspirado ali, no Winnicott, quando ele fala do holding, no Bion quando ele fala ali, da função-alfa, do rêverie, mas tudo isso também está em Freud. O Freud foi o grande acolhedor. O Freud abriu a sua atenção para aquilo que a classe médica não se importava e foi só a partir de uma enorme tolerância para colher aquilo que não estava dentro do alcance sensorial. Não dava para ver aquilo, não dava para tocar, não dava para examinar aquilo. E para isso precisou haver acolhimento, para que o sujeito se sentisse ali, à vontade para trazer o conteúdo que precisava ser pensado. Então, o grande acolhedor é Freud. É claro que o Winnicott deu uma expandida enorme. É lógico que o Bion trouxe um enriquecimento muito grande nesse sentido. Também, por conta de ter sido analisado pela Klein e orientado pela Klein, que o preparou para isso. Mas isso tudo está em Freud, antes de qualquer coisa. “Em outras palavras, né?” Em outras palavras, de outra forma. Ele foi até ali. Não pode ir para além dali. Tinha uma pressão enorme, de todos os lados, para que ele trouxesse resultado. Por isso que ele começou com essa conversa de cura. Muitas vezes aí, na obra dele, você vê ali: “depois do tratamento concluído houve a cura completa”. Cura? Meu amigo, não existe cura. Você vai reconhecer isso, vai aprender a respeitar isso e vai se responsabilizar por isso. Vai se transformar, mas não vai deixar de existir. Você pode estar ferido emocionalmente, afetivamente. E aí, você pode viver uma experiência curativa desses ferimentos. Mas curar? Cura completa do que? Muitas vezes, o paciente traz uma queixa e ele fala: “eu preciso me curar disso” e em duas ou três sessões ele começa a perceber que aquilo que ele precisava se livrar, ou curar é a característica mais nobre que ele tem, é a maior virtude que ele tem e ele queria se livrar daquilo.
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