terça-feira, 17 de setembro de 2024

PERMITIR ABUSOS - Prof. Renato Dias Martino


PERMITIR ABUSOS - Prof. Renato Dias Martino

AFASTAMENTO E MATURIDADE

Mais importante do que dizer não, é se afastar das relações nocivas. Não é que você tenha que se afastar das relações nocivas, é que é mais importante do que dizer não. Porque, muitas vezes, a gente diz “não” e se mantém ali. Se mantém fisicamente? Não! Se mantém emocionalmente, se mantém exposto a continuar sendo atacado, a continuar sendo abusado. E na realidade isso tem a ver com o instinto de autopreservação. O sujeito permite que o outro passe do limite e abuse dele porque, na realidade, ele não está em acordo com o seu próprio instinto de autopreservação. Existe um outro benefício que o leva a permitir o abuso do outro. Quando ele começar a ter um pouquinho mais de concórdia com seu instinto de autopreservação, que é alguma coisa extremamente primitiva. Não tem a ver com saber, com conhecer, até porque, isso está presente nas criaturas mais simples. Até em criaturas unicelulares você encontra esse instinto de autopreservação, em plantas você encontra isso. Você mexe na planta e ela solta uma substância que causa irritação, por conta desse instinto de autopreservação. Então, o sujeito, quando está num acordo com a realidade, quando ele está de acordo consigo mesmo, estar de acordo com o seu instinto de autopreservação, logo ele tende a se afastar daquilo que não está fazendo bem para ele e não simplesmente manifestar verbalmente com um “Não”. Alguma coisa que não esteja de acordo com a sua saúde emocional ou mental. É claro que a gente tá falando aqui de um desdobramento de algo muito maior, que é a maturação emocional, que é a integração do sujeito num todo. Porque, muitas vezes, ele se afasta fisicamente mas continua permitindo emocionalmente este abuso.

BENEFÍCIO DA PERMISSIVIDADE  

O sujeito trabalha num lugar onde ele está sofrendo um abuso. Ele está ali, sofrendo um abuso psicológico, um abuso emocional e as pessoas estão passando do limite com ele. E muitas vezes, superiores e coisas assim. Aí ele diz assim: “Ah! Eu não tenho o que fazer!” “Eu não posso me afastar desse lugar agora!” Ele se vale do benefício financeiro, ou qualquer coisa que está favorecendo ele ali e permite este abuso emocional e afetivo continue acontecendo. Ele consegue esse dinheiro, mas não está percebendo, mas está adoecendo emocionalmente e até afetivamente. Porque, quando ele adoece emocionalmente, ele afeta todos os vínculos que ele tem em casa. Amigos, ou coisa parecida. Ele se apega a este benefício, muito às vezes material de dinheiro, ou do título que ele carrega ali, ou da posição, do status que ele carrega ali, que ele consegue ali e acaba permitindo que isso vá corroendo, por assim dizer, o seu funcionamento emocional e afetivo.

JUSTIFICANDO A PERMISSIVIDADE 

Quando o sujeito começa a arrumar justificativas para, supostamente, compreender o outro que está abusando dele dizendo: “Ah! Ele teve uma vida muito difícil!” “Ah! É o que ele consegue fazer, então, eu vou permitir que ele continue abusando de mim!” Essa tentativa de, supostamente, entender a dor do outro é, na realidade, uma dificuldade que o sujeito tem de reconhecer a dor dele. E muitas vezes, isso até beira a onipotência. “Eu aguento tudo!” “Eu dou conta!” Enquanto isso, ele vai adoecendo sem perceber que está adoecendo. O sujeito sempre justifica as coisas do mundo externo por conta de uma dificuldade do mundo interno. Ele justifica alguma coisa que está acontecendo fora, por uma dificuldade dele próprio. O Schopenhauer escreveu uma obra belíssima chamada O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO, onde ele diz que assim, isso que a gente chama de mundo, na verdade, é uma representação da minha vontade. Então, aquilo que a gente está chamando de mundo, na verdade não é o mundo, é aquilo que a minha vontade permite chamar de mundo.


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