domingo, 15 de dezembro de 2024

O FLUXO DA REALIDADE E A ILUSÃO OBSTRUTORA - Prof. Renato Dias Martino


REGRESSÃO

A mente funciona o tempo todo em transformação e quando ela é impedida de se transformar ela adoece. O processo emocional-afetivo, que está dentro da perspectiva mental é um processo de transformação constante e essa transformação é sempre progressiva, é sempre desenvolvendo-se, é sempre na direção da maturação. Não há transformação emocional e afetiva inversa, regressiva. Por mais que a gente tenha essa palavra “regressão”, amiúde sendo cogitada nas formulações psicanalíticas, é uma grande ilusão. Ninguém regride. A regressão, na verdade, é uma manifestação de um ponto fixado que nunca se desenvolveu, logo, se nunca se desenvolveu, não pode regredir.

ILUSÕES 

A vida emocional, a vida afetiva se desenvolve onde o sujeito não tem um fluxo contínuo do seu acordo com a realidade. Ele se perde nas ilusões impreterivelmente. Não existe vacina para o sujeito não se perder nas ilusões. Ele vai se perder nas ilusões, mas dentro de um desenvolvimento saudável de transformação, ele vai retomar este acordo com a realidade no fluxo do desenvolvimento do seu aparelho emocional e consequentemente, desdobrando-se nas relações afetivas.

O CAMINHO

O que que nós estamos chamando de ilusão? De maneira bem clara, a maneira como desejamos que a realidade seja independente daquilo que realmente está sendo. Isso é ilusão. Quando a gente está aqui cogitando sobre este conceito que é preenchido por uma experiência, dentro da cultura oriental cultura védica, até o budismo deve utilizar deste conceito também, nós temos o Véu de Maya como sendo a ilusão. O sujeito, quando está iludido, ele está envolvido, ou cego pelo Véu de Maya. No cristianismo nós temos uma outra expressão e dentro da filosofia também, que é o Livre Arbítrio. Quando o sujeito está exercendo o seu livre arbítrio ele está iludido. O que é que vai conduzir o sujeito no acordo com a realidade, dentro das formulações orientais? O Dharma. É o caminho de iluminação. E o que é que vai conduzir dentro do cristianismo o sujeito dentro do acordo com a realidade? “Seja feita a vossa vontade”, não a minha.

REALIDADE

Quando nós tratamos aqui de realidade, nós estamos falando daquilo que é fato independente do que a gente gostaria que fosse. Isto é realidade, dentro do que a gente está falando aqui. Esta é uma definição clara do que é realidade. Dentro da religiosidade, das formulações religiosas, também nós temos isso. A Deidade, Deus é isso que a gente chama de realidade dentro dessa nossa filosofia, ou desta formulação psicanalítica. “Ah! Mas eu sou ateu! Eu não acredito em Deus!” No que que o ateu não acredita? Em Deus. Ele não acredita, isso não quer dizer que não exista. “Isso aí que você está chamando de realidade para mim não importa!” Não importa, mas ainda assim, continua existindo. E é muito importante a gente pensar que esta realidade não é tangível cognoscivelmente. Ou seja, não há possibilidade de se conhecer a realidade. O conhecimento não abrange a realidade. Você pode reconhecer a realidade, ou seja, admitir que ela existe, mas não pode conhecê-la.

ACORDO

Se eu não posso conhecer a realidade, se eu não posso abranger a realidade pelo aparato intelectual, ou pelo cognoscivel, por que via eu posso entrar em acordo com a realidade? Através do “estar sendo”. Por que não através do ser? Porque o ser é estático. Porque o ser é cristalizado. Quem é, é alguma coisa pré-estabelecida e dentro da realidade não há nada pré-estabelecido. A realidade é fluxo. Para que você possa estar num acordo com a realidade, isso só vai se dar através do estar sendo. por isso não pode ser conhecida. Porque o conhecimento pressupõe passado. Quem conhece, conhece alguma coisa que registrou no passado. Aquilo que está acontecendo no aqui e agora, no “estar sendo”, não pode ser conhecido.



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