sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

SOBRE A ILUSÃO - Prof. Renato Dias Martino


VENENO DA ILUSÃO

A ilusão é invariante. A ilusão é cristalizada, é engessada. Ela deixa de ser invariante e passa a ser transformação na mesma medida em que ela deixa de ser ilusão. Quando ela começa a se transformar, ela já não é mais ilusão. O veneno da ilusão é a dúvida. Quando a dúvida entra, a ilusão passa a ruir e uma vez que a dúvida infiltrou na ilusão, é um caminho sem volta. Não tem mais jeito! O sujeito começa a duvidar daquela ilusão e esta dúvida vai rachando, vai ruindo, vai deteriorando a ilusão. Quando uma criança começa a duvidar do Papai Noel, não tem mais quem possa convencê-la disso e é um caminho sem volta, porque ninguém se “reilude”. O reconhecimento da realidade é um caminho sem volta. Nós estamos falando de maturação, de maturidade. Ninguém “desamadurece”. O reconhecimento da realidade vem com a maturidade e não há possibilidade de “desamadurecer”.

ILUDIDO VULNERÁVEL

Desilusão vai trazendo para mim, inclusive, a possibilidade de reconhecer o outro como alguém incapaz. Quando ele está iludido, imaturo no seu funcionamento, logo digno de compaixão. Então, um sujeito iludido é um sujeito digno de compaixão, porque ele está vulnerável dentro da configuração da realidade. Ele não está sendo capaz de reconhecer, ele não está sendo capaz de respeitar e de se responsabilizar pela realidade, logo está vulnerável as ocorrências que possam acontecer.

ILUDIDO PERIGOSO 

Um sujeito iludido é um sujeito vulnerável, mas é um sujeito perigoso. Ele pode atentar contra a própria vida sem perceber que está fazendo isso e atentar contra a vida do outro. Então, conviver com pessoas iludidas é um convívio perigoso. É prudente se afastar de uma pessoa, assim que você reconhece que essa pessoa está iludida e cristalizada na sua ilusão. É diferente da pessoa que te pede ajuda porque percebeu que a sua ilusão está ruindo, porque a dúvida começou a corroer essa ilusão. E aí, ele te pede ajuda porque está se sentindo inseguro. Porque aí começa o aprendizado. Ele se sente inseguro, te pede ajuda para que você possa acolhê-lo, para que este aprendizado possa se efetivar.

ILUDIDO INCONSEQUENTE  

Um exemplo claro disso é o trânsito. Você está no trânsito, andando na sua direita dentro daquilo que é adequado para aquela via e vem um sujeito maluco com o carro ultrapassando todo mundo. O que que você faz? Você desvia desse sujeito. Retira-se do campo que iria provocar um acidente com você. Então, da mesma forma, quando eu percebo um sujeito iludido, eu preciso me retirar do campo danoso, por assim dizer. Porque senão, eu vou ser afetado pela inconsequência desse sujeito que está iludido.

ILUSÃO E CONHECIMENTO

O contrário de ilusão não é o conhecimento. O contrário da ilusão é reconhecimento da realidade. O reconhecimento da realidade é um fator da maturidade emocional, não do conhecimento. O sujeito pode ser extremamente inteligente, pode ter um conhecimento enorme, pode ter uma sabedoria enorme, ainda assim, pode ser um grande iludido. Então, eu não tenho como desfazer ilusões através do conhecimento, da transmissão do conhecimento.

DESILUDIR

O sujeito tem o direito de estar iludido. Cada um tem o direito de se manter iludido enquanto isso for conveniente para ele. Ninguém tem o direito de destruir a ilusão do outro, enquanto esta ilusão não estiver afetando terceiros. A partir do momento que afeta terceiros, a sua atitude adequada é se afastar desse sujeito que está iludido e portanto, inconsequentemente envolvendo as pessoas que estão em volta dele. Agora, desfazer a ilusão do outro não o que eu posso é acolher o outro. Quando ele perceber que ele está iludido, por esta ilusão estar ruindo, aí eu posso acolhê-lo, mas tentar convencê-lo que ele está iludido, além de ser infecundo é um desrespeito. Porque, muitas vezes, essa ilusão pode ser aquilo que está mantendo o sujeito caminhando. Então, é muito fácil dizer para o outro: “isso aí é uma muleta!” Mas para que que serve a muleta? Para andar e muitas vezes, se você tira a muleta do sujeito, ele cai. Então, eu não posso tirar a ilusão do outro, porque aquilo pode ser o que está mantendo o sujeito andando.



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