Paradoxo do tempo livre – Entrevista de Prof. Renato Dias Martino para o jornal Diário da Região.
Elen Valereto - As pessoas reclamam que nunca têm tempo para nada, mas quando conseguem, não sabem aproveitar as horas vagas. Por que isso acontece? Falta desafios ou compromissos?
Prof. Renato Dias Martino - Se partirmos da ideia de que o desejo está naquilo que não podemos ter e quando temos já não desejamos mais como antes, então já podemos solucionar boa parte dessa questão. O fato é que, quando se imagina um tempo livre na vida, na maioria das vezes, se preenche esse tempo (na imaginação) com várias coisas que se pretende fazer, contudo, muito pouco se avalia as reais possibilidades disso. Assim, quando se consegue arrumar um tempo livre na realidade, se percebe que talvez não seja capaz de tornar proveitoso esse tempo.
Elen Valereto - Quais são os sentimentos que acometem uma pessoa que está com horas ociosas e não sabe como utilizá-las?
Prof. Renato Dias Martino - Talvez essa pessoa possa estar utilizando de alguma forma esse tempo, sem saber que esta o fazendo. A necessidade de reservar um tempo para retirar a mente dos compromissos e das realizações é tão importante quanto efetivamente realizar. Entretanto, se a proposta é realmente realizar algo, penso que existe a necessidade anterior de se estabelecer projetos. Sem se estabelecer projetos dificilmente se realizará qualquer que seja a idéia. Quando se estabelece um projeto, torna-se possível avaliar as reais possibilidades de efetivação do mesmo.
Elen Valereto - Muitas pessoas dizem que as horas de relaxamento são ideais para estimular a criação. Mesmo assim, permanecem inertes ou perdem tempo com televisão ou internet, e se sentem culpadas no final do dia (ou fim de semana) por terem desperdiçado o tempo de sobra. O que essas pessoas podem fazer para fugir dessa situação?
Prof. Renato Dias Martino - O momento da criação é sempre um processo imaginativo e sem compromisso direto com a realidade. Se estiver vinculado de forma direta com a necessidade de materialização, não pode ser chamado de criação. As maiores criações são geradas de um momento descontraído de ócio, onde não exista a necessidade de se concretizar nada. Essa idéia é difícil de se conceber num mundo onde o que se exige é justamente o contrario da criatividade. O que o mundo contemporâneo exige é justamente a produção padronizada que nada tem a ver com a realização.
Elen Valereto - Quais são os sinais de que estamos desperdiçando parte de nossa vida?
Prof. Renato Dias Martino - A ideia de se desperdiçar tempo é falsa. Isso nunca acontece. Usamos nosso tempo dentro de nossas capacidades. Se não estamos “produzindo” como o mundo nos cobra é por que ainda não somos capazes disso. Contudo, se o que se pretende é a realização, que é dependente da criatividade, então teremos que ser tolerantes quanto nosso tempo ocioso até que a criatividade chegue.
Elen Valereto - Quais são as dicas para descobrir a valorizar e usar as horas livres em nossas vidas?
Prof. Renato Dias Martino - A dica é respeitar o próprio tempo e a própria capacidade. Não saudável nos forçarmos a fazer aquilo que não somos capazes ou estejamos dispostos, pois certamente faremos mal feito, ou continuaremos nos cobrando de algo que na realidade não existe.
Matéria na integra: http://www.diariodaregiaodigital.com.br/Flip/Flip_Books/Bem_Estar-20111127/index.html#/6/
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17991910375
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com
2 comentários:
Lembrou-me o comentário de um professor quando ainda cursava o segundo grau. Dizia ele: "As pessoas mais ocupadas são as que mais têm tempo, já aqueles que pouco ou nada fazem, nunca têm tempo."
Repensando hoje, sem dúvida há muitos outros tempos a ser levados em consideração.
Renato,
Interessante o tema.
Penso q as pessoas anseiam pelo tempo livre mas qdo chegam a ele não conseguem se libertar para descansar. Até o conceito de curtir o tempo livre está contaminado pela concepção que temos q fazer coisas para aproveitar nosso tempo. É o FAZER em detrimento do SER.
Abraços,
Anna Amorim
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