terça-feira, 14 de maio de 2024

O TEMPO DA PSICANÁLISE - Prof. Renato Dias Martino


Quando a gente fala de psicanálise, pelo menos dentro deste modelo que nós refletimos aqui e passamos a dar o nome de psicanálise do acolhimento, a tolerância é elemento fundamental. A tolerância quanto ao tempo dos processos e nisso a psicanálise está em concordância com as formulações religiosas, quando os devotos dizem que as coisas acontecem no tempo de Deus e não no tempo do homem. Dentro da psicanálise aqui, a gente poderia falar que as coisas acontecem no tempo da realidade, independente da urgência da demanda do sujeito. Para que a gente possa praticar esta psicanálise é imperioso que a gente possa desenvolver tolerância quanto aos processos, seja o processo que for. Precisa haver um tempo adequado para cada processo. O sujeito que não tem essa tolerância, o sujeito que ainda mantém essa urgência da sua demanda, não vai se dar bem com este modelo psicoterapêutico. É por isso que é muito complicado o ensino da psicanálise dentro das universidades, porque o sujeito sai da universidade querendo resultado, com um desejo de mostrar aquilo que ele conseguiu no seu tempo de formação, para a sociedade, para sua família e antes de tudo, para si mesmo. E a psicanálise não pode se comprometer com resultados. Porque, nós não sabemos o que realmente é um resultado. Por conta disso, o sujeito acaba buscando outras promessas, outras propostas de aplicabilidade psicoterapêuticas e outras propostas de teorias. Ou ainda, invenções como psicanálises breves, ou propostas de psicoterapias que prometem um resultado breve que seja dentro da prática psicoterapêutica, o que configura-se num grande perigo, porque a gente sabe muito bem que o funcionamento emocional-afetivo não pode trabalhar por uma demanda do que se deseja que aconteça, mas vai acontecer no seu próprio tempo.

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