quarta-feira, 1 de maio de 2024

PODCASTS GEPA – TEMAS DA PSICANÁLISE - Prof Renato Dias Martino



Então, quando a gente fala de psicologia, nós estamos falando do estudo da parte psíquica do sujeito. Logos quer dizer conhecimento, estudo, saber sobre o aparelho psíquico. Psicologia estudo da mente. Quando a gente fala de psicoterapia, a gente está falando do sujeito que cuida da mente. Terapia cuidado e psique parte psíquica, da mente. Um psicólogo não é necessariamente um psicoterapeuta e um psicoterapeuta não precisa necessariamente ser psicólogo. Eu posso ser um psicoterapeuta e me utilizar de inúmeros outros recursos que não seja aquele que a faculdade de psicologia se propõe a ensinar. E um psicólogo não é, necessariamente um psicoterapeuta. Ele é um estudioso da mente, não é um sujeito que se propõe a cuidar da mente. Psicanálise, nós estamos falando de um modelo de psicoterapia. Psicanálise é uma forma de aplicabilidade de uma terapêutica do psíquico. É uma forma de se cuidar do psíquico. A psicanálise não é uma psicologia. A psicanálise não se propõe saber sobre a mente, ela se propõe cuidar da mente e a partir deste cuidado, você vai adquirindo ali, um reconhecimento do funcionamento emocional e afetivo que é a parte psíquica. Então, um psicanalista, ele não se propõe a conhecer, mas ele se propõe a cuidar e nesse cuidado ele acaba conhecendo. Mas, ele não pode se convencer disso que ele está conhecendo.

NASCE UM PSICANALISTA

O psicanalista ele nasce a partir da percepção de uma dor psíquica. Sentiu, essa dor psíquica, buscou a psicoterapia. E aí então, existe a possibilidade de se nascer um psicanalista.

TENTAR CONVENCER 

Essa propensão do psicólogo, do psicoterapeuta comum, de tentar convencer o outro de alguma coisa e na realidade, tentar convencer o outro é uma grande falta de respeito. Quando o outro está aberto, uma palavra é transformadora, mas se ele não tiver aberto milhões de tentativas vão ser em vão.

MATURIDADE E ESCOLHA

A partir do desenvolvimento dessa maturação emocional, que vai se desdobrar na maturação dos vínculos afetivos, o sujeito vai, cada vez menos tendo escolhas, porque ele vai entrando num acordo com a realidade. E aí, ele vai começar a ser guiado por um caminho que é um só. Ele vai perceber aquilo que é nocivo e por ser nocivo ele não vai se aproximar mais disso, que pode intoxicar, pode machucá-lo, e aí, não tem escolha, o caminho é um só. O caminho é o da saúde e o da construção, da expansão, do próprio aparelho psíquico. A psicoterapia, dentro da psicanálise do acolhimento, propõe justamente, propiciar um ambiente afetivo, livre de tentativa de convencimento, de bajulação, de crítica, de julgamento, para que possa haver uma reparação do aparelho emocional-afetivo e que ele possa estar de acordo com a realidade e perceber que o caminho é um só.

AMBIENTE SAUDÁVEL

Para que o ambiente seja emocionalmente saudável ele precisa contar com dois elementos básicos, que é o amor e a sinceridade. E quando a gente coloca esses dois elementos juntos a gente vai pensar assim, o amor dentro do limite que o sujeito é capaz de se doar. Lembrando que a gente, quando fala amor aqui, a gente está falando dentro da conotação da doação, da dedicação. Amor aqui, de maneira alguma, está vinculado a desejo, a se sentir atraído, mas na capacidade do sujeito se doar ao outro. Amor, dentro do limite, logo, vinculado a sinceridade. A psicoterapia precisa estar configurada nesse formato, nesse modelo.

PSICANÁLISE PARA TODOS

A psicanálise está aí para todo mundo, mas nem todo mundo está aí para psicanálise.

SUFICIENTEMENTE BOM

Imprescindível que a gente possa contar para desenvolver essa tolerância, um ambiente suficientemente bom, como recomendaria o nosso grande Winnicott. Quando a gente fala de suficientemente bom, tanto dentro da perspectiva da mãe suficientemente boa, ou do ambiente suficientemente bom, a gente está falando de uma proporção saudável.

VAI PASSAR

O suicídio acaba sendo uma atitude definitiva por uma situação que é temporária. É resolver de uma vez por todas alguma coisa que na realidade, tanto a situação ruim quanto a situação boa, vai passar.

CONCORDAR

Dentro da psicanálise do acolhimento, a gente tem uma mudança catastrófica dessa ideia de concordar. Concordar, para gente não é quem está certo, ou quem está errado, se você está certo e eu concordo com você, mas é estar junto de coração. “COM + CORDES” COM = conjunto e CORDES de coração e esta é uma questão extremamente difícil. É muito mais fácil se a gente tiver dentro da perspectiva do saber. De concordar, quem está com a razão, de quem está certo e é muito mais difícil você estar junto de coração, porque se você estiver junto de coração não importa quem tá com a razão.

REALIDADE E DESILUSÃO

Que você vai se afastando cada vez mais da realidade e cada vez vai ficando mais distante de aprender a lidar com esta mesma realidade. E o grande problema da realidade é que cada aspecto da realidade que você reconhece é uma desilusão.

O QUE É PSICANÁLISE 

Hoje a psicanálise é bem diferente do que aquilo que foi quando o Freud começou a desenvolver. Quando o Freud desenvolveu, ele tinha, ele começou pela técnica da hipnose. Ele tinha propostas que na nossa prática clínica hoje não fazem muito sentido. A gente tem uma outra metodologia. Uma das questões fundamentais é que o Freud tinha uma característica muito mais paterna, da figura paterna, dos fatores da função paterna. A prática clínica dele acabava sendo formatada como o modelo do pai. A partir da introdução da Melanie Klein, a gente vai criando, vai introduzindo, a gente vai vendo ser introduzido, um modelo materno, um modelo que inclui os fatores da função materna. O Winnicott traz a questão do holding, do handling, da apresentação do objeto, que são características que também são presentes na prática clínica. E aí, com o Boin isso fica mais evidente ainda, quando ele coloca a ideia da continência, da função-alfa. Todos esses elementos que estão presentes também na função materna. Isso não quer dizer que os fatores da função paterna foram perdidos, mas que acrescentou-se as questões da função materna também na prática da psicoterapêutica psicanalítica.


AMBIENTE DE PASSAGEM

A gente tem a noção, dentro dessa prática psicanalítica contemporânea de que a psicanálise é um ambiente de passagem. Então, não é um ambiente de conhecimento. mas é um ambiente de reconhecimento. A cada encontro, se propor a conhecer novamente, como se nunca tivesse conhecido.

DEPRESSÃO PUERPERAL

Quando a gente fala dessa depressão puerperal, depressão pós-parto, quando o casal está integrado, o companheiro, o pai ele vai sofrer tanto quanto a mãe. E a gente não está falando aqui de uma depressão pós-parto patológica, a gente está falando deste luto da mãe que precisa abrir mão da sua própria vida pela vida do bebê que está nascendo e depois uma série de outros lutos, essa coisa do afastamento, do desmame do afastamento da a criança, que vai se desenvolvendo. Então, o companheiro, o pai também vai sofrendo tudo isso, se ele estiver integrado no casal. A mãe se afastando do bebê é um modelo de desintegração. Algo que estava junto que agora se separa fisicamente, mas emocionalmente, acontece o inverso, que é a integração. O físico desintegra, o emocional se integra. E a função paterna é justamente aquela que vai vir para dar esse formato, esse acolhimento, continência para essa integração.

MULHER E MÃE

A mulher deixa de ser mulher para ser mãe e depois que a criança começa a se desenvolver, ela precisa voltar a ser mulher. Claro, que isso tudo simbólico. Ninguém está falando aqui, que uma coisa anula outra, mas ela precisa colocar em standby, por assim dizer, a sexualizada feminina, no momento em que ela está ali na maternagem e depois ela precisa retornar com esse teor feminino. Assim que a criança começa a se desenvolver e isso é um grande problema. Muitas vezes, a mãe nunca se sentiu muito bem integrada sendo mulher. Ela sempre se sentiu muito insegura sendo mulher e ela acaba se implicando na função materna de uma maneira tão viciante, por assim dizer, que depois ela sente uma dificuldade muito grande em voltar a ser mulher, que é num formato onde ela tinha grande segurança.

DEIXAR DE SER

O fluxo da vida está muito mais em “deixar de ser”, do que “tornar-se”. Maturação é tolerar deixar de ser, não tornar-se alguma coisa. Desde pequeno, a gente aprende aquilo que a gente deveria ser. Existe uma expectativa, na verdade, existe uma expectativa antes mesmo da gente nascer, já existia uma expectativa. Um fluxo saudável da vida é justamente desobstruir todos esses “deveria ser” para conseguir um “deixar de ser”.

NECESSIDADE DA FUNÇÃO PATERNA

O homem foi se afastando da família, essa família foi aprendendo “dar um jeito” de viver sem esse homem e acaba com que a sociedade hoje recusa o reconhecimento da necessidade da função paterna presente. E aí, a gente vai percebendo homens inseguros do que é ser homem quando ele precisa tomar uma atitude e mulheres que não são capazes de avaliar os homens dos quais ela vem se envolver. São dois desdobramentos dentre vários que são os prejuízos da ausência da função paterna.

AUSÊNCIA PATERNA

Dos maiores prejuízos na função paterna e não do pai, porque não é necessariamente o pai biológico, mas é um sujeito masculino que possa exercer a função paterna. A ausência dessa função paterna, me parece que traz dois grandes prejuízos. Um deles a dificuldade de reconhecimento de limites e o outro é a dificuldade de provisão, de ser capaz de prover. Um primeiro momento, prover-se a si mesmo, em segundo momento prover o lar. Então, nós vemos umas uma sociedade onde a falta de limites, a falta da capacidade de reconhecimento de limite, de respeitar o limite de si mesmo, seja se colocando em situações de risco e dificuldade de reconhecer o limite do outro, onde o sujeito abusa do outro e também a dificuldade de dar manutenção a sua auto-provisão, administração financeira. E quando o sujeito não consegue fazer isso consigo mesmo, muito menos ele vai conseguir com a família, ou qualquer outra instancia que ele precisar.

VÍCIO NO FRACASSO

Muito se fala hoje de relacionamentos tóxicos. Essa ideia se expande, não só para os relacionamentos, mas ela também se expande à substâncias tóxicas, ou qualquer coisa que possa fazer mal para o sujeito. O grande problema está por trás do uso da substância, ou por trás do relacionamento tóxico. Muitas vezes, existe algo por trás que faz com que o sujeito busque o relacionamento tóxico, busque o uso da substância. Um dos casos mais difíceis de tratar, esse tipo de situação, é quando o sujeito se sente merecedor daquilo. Quando, o sujeito não é viciado na substância, mas ele é viciado no fracasso de estar usando aquela substância. Ele não está implicado num relacionamento tóxico com o outro, mas ele está implicado num relacionamento tóxico com ele mesmo e não se sente merecedor de um relacionamento saudável e aí, isso é extremamente difícil de tratar.

DEVERIA SER

Na realidade, o sujeito acaba não confiando em si mesmo, não confiando na sua autoavaliação e ele acaba usando o critério do outro para estabelecer aquilo que ele deveria ser e é uma grande emboscada, porque esse deveria ser é insaciável. Ele não vai conseguir nunca exatamente suprir isso.

SENTIR DOR OU SOFRER

Parece que existe uma diferença muito grande de sentir a dor e sofrer a dor. O sujeito pode estar sentindo a dor, mas não ser capaz de se submeter ao processo de sofrer essa dor. Porque, quando ele sofre a dor acontece a transformação. Uma coisa é você padecer da dor e outra coisa é você sofrer a dor. Quando você padece da dor, você está num estado cristalizado que não tem transformação. Quando você passa a sofrer a dor, aquilo ali, vai te proporcionando a possibilidade de mudança e transformação.


RECONHECIMENTO

Transformação é um resquício daquilo que falhou lá atrás, na primeira infância.  A criança não pode ser reconhecida pelos seus pais e ele acaba tendo um autoreconhecimento deficitário e ele passa a vida toda procurando a aprovação do outro, porque na realidade não foi reconhecido.





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