quinta-feira, 4 de julho de 2024

DESEJAR OU AMAR - Prof Renato Dias Martino


O PRIMEIRO E MAIOR DESEJO

Para que o bebê possa sobreviver e para que possa ser bem-sucedido o seu desenvolvimento é necessário que a mãe esteja ali, cuidando dele, que a mãe esteja desejando que este bebê esteja ali. E, é claro, que este desejo precisa ser dissolvido aos pouquinhos, porque um desejo cristalizado é um desejo nocivo. A mãe, a princípio, deseja o bebê e aos pouquinhos vai dissolvendo esse desejo, para que o bebê possa existir como ele mesmo e não como aquilo que ela desejava. O maior desejo do ser humano é o de ser desejado. O maior e o primeiro desejo. Então, o bebê deseja ser desejado.

ETAPAS DO AMAR

Não existe outra forma de aprender a amar que não seja a partir do narcisismo. Então, o sujeito, ele é amado pela mãe como se fosse a coisa mais importante do mundo e precisa ser na realidade a coisa mais importante para mãe no momento que o bebê nasce, precisa ser o bebê. E ele se sente amado como se fosse a coisa mais importante do mundo, passa a amar a si mesmo, a partir desse amor, como sendo a coisa mais importante deste mundo e este amor quando bem estruturado, passa a servir como apoio para amar as outras pessoas. Não existe outra forma de desenvolvimento do amor que não siga essas etapas.

O AMOR DO OUTRO

Não existe uma maneira de aprender a amar o outro se eu não fui amado pelo outro antes disso. Ninguém nasce sabendo amar. A gente precisa aprender a amar e a gente aprende a amar pelo amor do outro. Quando a gente é amado pelo outro, a gente cria um vínculo afetivo com aquilo que existe além do eu e passa então, a aprender amar o outro. Mas primeiro, eu preciso ter sido amado. Primeiro eu preciso ter tido atenção do outro, porque senão, eu não vou conseguir prestar atenção em nada mais além de mim mesmo.

AMOR NARCÍSICO 

Tudo inicia-se no narcisismo. Não tem como. Tudo começa no narcisismo. O amor, por mais que ele seja doação, ele nasce do narcisismo e quanto mais ele puder ser narcísico, mais ele vai ter a chance de se expandir para um modelo que inclua o outro.

MEDO DO ABANDONO

Essa é uma experiência que se estende para vida toda. O bebê resiste em reconhecer a mãe como outro, porque quando ele reconhece a mãe como uma outra pessoa, ele passa a ter medo de perdê-la. As relações que tem uma configuração narcisista, elas são fusionadas, são fusionadas, justamente para o sujeito não reconhecer o outro como o outro e passar a ter medo que o outro o abandone. Então, ele ainda acredita que ele domina o outro, ele acredita que o outro é parte dele mesmo, naquilo que o Freud chamou de relação por identificação, onde um é extensão do outro. Quando ele passa a reconhecer o outro como o outro, ele passa a ter medo de ser abandonado. Ele deseja muito o outro e este desejo traz para ele uma sensação de iminente abandono.

DESEJO SAUDÁVEL

Todo o desejo, para ser saudável, ele precisa ter prazo de validade. O desejo saudável tende a se dissolver. Quando o bebê é desejado pela mãe e a mãe vai sendo capaz de dissolver esse desejo em relação ao bebê, para que o bebê possa se tornar ele mesmo e não ser aquilo que ela gostaria que ele fosse. Ele também introjeta esse modelo e ele vai desejar as coisas no mundo da mesma forma. Vai desejar e aos pouquinhos vai dissolvendo esse desejo para que as coisas possam ser aquilo que elas são e não aquilo que ele gostaria que elas fossem. Agora, quando a mãe deseja o bebê e esse desejo não se dissolve e ela continua desejando que ele seja aquilo que ela quer que ele seja, ele também vai fazer assim com o mundo. Ele vai desejar as coisas do mundo e se não for do jeito que ele quer ele vai quebrar tudo, ou ele vai desistir.

DESEJAR OU AMAR

Desejar não é amar desejar, é querer possuir alguém e amar é ser capaz de se doar a este alguém. Então, existe uma diferença gritante entre as duas coisas. No entanto, para que possa haver amor, um dia precisou haver desejo. Então, Freud vai dizer que a primeira forma que o sujeito se relaciona com o outro é numa relação por identificação, onde ele imagina que o outro é uma extensão dele mesmo. Uma extensão daquilo que ele deseja, uma extensão de si mesmo. Só depois, ele vai reconhecendo esse outro como sendo realmente outro. Então, primeiro precisou haver uma relação de necessidade, uma relação de desejo, uma relação que não havia diferenciação entre o eu e o outro, para depois de bem comprida esta fase, ele conseguir aprender a amar o outro. Logo, a capacidade de amar não é inata do ser humano. O ser humano não nasceu sabendo amar. Ele precisa aprender a amar. E como que ele aprende a amar? Através do amor do outro. Sendo amado pelo outro. Aprendendo a Amar a si mesmo a partir desse amor que ele tem do outro e depois através desse amor que ele tem por si mesmo, ele estende para as outras pessoas.

RENÚNCIA DO DESEJO

Eu preciso ser capaz de renunciar desse desejo, para que eu possa amar realmente. Só ama aquele que renunciou do desejo. Enquanto, eu estiver desejando o outro, eu não consigo amá-lo, eu estou obstruído de amá-lo. O amor acontece a partir da renúncia do desejo. Se sentir atraído pelo outro, desejar obter o outro, não é amor. O amor acontece justamente na capacidade de renunciar esta atração, esse desejo de obter o outro, de controlar o outro, de possuir o outro. O desejo é um sentimento, “sentir desejo”, o amor é uma capacidade, “ser capaz de amar”. Porque, nós aprendemos desde pequenininho que praticar o sexo com o outro é fazer amor, no entanto desejo sexual não é amor. O desejo sexual é um desejo de se satisfazer com o corpo do outro, amor é justamente a capacidade de adiar a sua satisfação pelo outro. Uma coisa é o avesso da outra.

INTENSIDADE E DURABILIDADE

O sexo é intensidade, o amor é constância, é durabilidade. A intensidade é inimiga da durabilidade. Tudo aquilo que é muito intenso, tende a não ser durável. Para ter um relacionamento saudável precisa haver constância, precisa haver durabilidade e não intensidade. O desejo é intensidade o amor é durabilidade.

FASE CORDIAL 

Na realidade, eu diria que quando acabar o sexo, aí é que a gente vai ver se realmente tem amor. Então, para além da fase genital, onde dois seres humanos se encontram para proliferar a espécie, existe a fase cordial, onde as pessoas se encontram com os corações e não com os órgãos genitais. CORDES – cordial, esta é a fase real do acordo com a realidade, onde dois seres humanos estão unidos pelo coração e não pelo genital, pode haver completo desentrosado um com o outro o relacionamento é saudável.

NO HOMEM E NA MULHER

Na verdade, o homem, ele procura sexo muito mais pela vontade de satisfação sexual e a mulher procura o sexo muito mais para se sentir desejada. Não estou dizendo que são todos os casos, mas na maioria dos casos é isso. Por quê? Porque o homem tem uma produção seminal constante e a mulher está disponível organicamente para o sexo um ou dois dias por mês e se não coincidirem com uma dor de cabeça, ou alguma outra coisa. Porque aí, nem esses dias ela vai estar disponível fisiologicamente.

MATURIDADE E RENÚNCIA

A maturidade emocional leva o sujeito a renunciar de desejos e se integrar às vontades que são necessidades. Quanto mais maduro emocionalmente o sujeito for, ele vai priorizar as suas necessidades. E esta priorização também inclui a capacidade de adiar estas vontades. Ser capaz de adiar as vontades faz parte da sua maturidade emocional. Ele é capaz de adiar as vontades, renunciar de desejos e com isso ele amplia a sua capacidade de se doar, que é justamente o amor.


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